Jornal Estado de Minas

Inquérito da PF conclui que agressor de Bolsonaro agiu sozinho no dia, mas investigação continua

O inquérito da Polícia Federal (PF) que investiga o atentado a Jair Bolsonaro foi concluído nesta sexta-feira e confirmou que Adélio Bispo de Oliveira agiu sozinho ao atacar o presidenciável em Juiz de Fora (MG). Ele foi oi indiciado por prática de atentado pessoal por "inconformismo político", crime previsto na Lei de Segurança Nacional. Entretanto, um segundo inquérito foi aberto para dar continuidade ao caso.

De acordo com o documento, ao qual o Estado de Minas teve acesso, foram verificados pela corporação mais de 250 gigabytes de informações em mídias – incluindo dados de celulares e do notebook do suspeito – assim como cerca de 600 documentos. A PF teve acesso a mais de 6 mil comunicações travadas em programas de mensagens instantâneas e 1.060 mensagens de e-mails. Os arquivos de imagens analisadas totalizaram mais de 1h50m horas de gravação, além de 1.200 fotos.

Entretanto, no que tange à participação ou coautoria no local do evento, a partir das evidências colhidas, descarta-se o envolvimento de terceiros. Apesar disso, foi instaurado novo inquérito com o escopo específico de prosseguir apurando os fatos. O intuito é "buscar elementos que possam apontar para a participação de terceiros que tenham atuado como mandantes, idealizadores, instigadores (...)."

IDEOLOGIA POLÍTICA

Em seu interrogatório,  Adélio confessou ter usado uma faca que trazia consigo, escondida em um papel, além de que a motivação para o ato seria de ordem religiosa e política – já que ele defende a ideologia "de esquerda", enquanto o candidato seria de "extrema direita".
Ainda de acordo com o documento, "o interrogado não concorda com o fim das terras indígenas, conforme defendido por Bolsonaro, caso seja eleito; que também não concorda com as privatizações em massa conforme pregado por Bolsonaro; que defende a 'atuação' de um Estado forte e presente em todos os setores do país."

PARTICIPAÇÃO DE "MULHER DE ÓCULOS" 



Em postagens em redes sociais, internautas apontaram outros "manifestantes" como coautores do atentado. Uma das acusadas na internet foi, espontaneamente, à PF para prestar esclarecimentos, já que passou a ser insultada e ameaçada.

Outros suspeitos também foram ouvidos pela corporação. Um deles é um homem que estaria com o agressor momentos antes do ataque. O "colaborador da segurança do candidato visualizou Adélio junto a um grupo de opositores de Bolsonaro." O denunciante disse que "as pessoas integrantes deste grupo estavam bebendo e proferindo palavras de ordem contra o candidato, próximo ao local em que se daria a passeata."

Porém, a investigação não encontrou vínculo entre eles. Também foi especulado que uma "mulher de óculos escuros" teria repassado a faca a um homem que, por sua vez, a repassou ao Adélio. Ela foi ouvida e negou participação.
A mulher afirmou ainda estar naquele ato como apoiadora do candidato.

CRIME PLANEJADO: FOTOS DURANTE O DIA

As investigações apontam que Adélio fotografou previamente alguns locais em que o candidato estaria na cidade, assim como o outdoor que anunciou sua presença na cidade. "Em outras fotos e imagens encontradas em seu aparelho de celular, restou evidenciado que esteve acompanhando o presidenciável durante todo o dia, tendo tido, inclusive, acesso ao hotel em que estava programado um almoço com empresários."

Entretanto, houve "indícios robustos de que houve uma decisão prévia, reflexiva e arquitetada", por parte de Adélio de atentar contra a vida do candidato. A escolha da arma do crime, por sua vez, pode ser atribuída a uma com facilidade de manejo, uma vez que o autor trabalhou com o uso desta ferramenta em açougue e em restaurantes.

AULA DE TIROS COM FILHO DE BOLSONARO

Alguns eventos da vida pretérita do investigado levantam suspeitas quanto ao planejamento do seu intento criminoso. Identificou-se que Adélio se cadastrou em 3 de julho de 2018 em escola de tiro próxima a Florianópolis. Proprietário da escola contou à PF que ele teria pago R$ 659 pelas aulas, em espécie. 

O proprietário ainda esclareceu que os filhos do candidato frequentam o estabelecimento e que Carlos Bolsonaro teria chegado a Florianópolis justamente no último dia do curso de Adélio. Nesse dia, segundo informado pelo instrutor de tiros, ele teria demonstrado comportamento estranho, "sempre olhando para a porta, entre outras reações não usuais, o que chamou a atenção, pois estavam em um ambiente de segurança, desferindo tiros com arma de fogo."

RECLUSÃO DE 3 A 10 ANOS

Assim, considerando as circunstâncias do fato criminoso e a gravidade da lesão sofrida pela vítima, o crime foi enquadramento legal previsto no artigo 20, parágrafo único, da Lei nu 7.170/83 – conhecida como Lei de Segurança Nacional.


De acordo com o Art. 20, "devastar, saquear, extorquir, roubar, sequestrar, manter em cárcere privado, incendiar, depredar, provocar explosão, praticar atentado pessoal ou atos de terrorismo, por inconformismo político ou para obtenção de fundos destinados à manutenção de organizações políticas clandestinas ou subversivas." A pena é de reclusão para o crime varia de 3 a 10 anos. .