Não é segredo para ninguém que, em um pleito eleitoral, a imagem vale votos. Quem não se lembra que o então presidenciável Jânio Quadros, em 1960, jogava talco sobre a roupa para simular caspa e sempre sacava um sanduíche de mortadela do bolso no corpo a corpo de campanha, adotando para si o estilo “homem do povo”? Também Fernando Collor fez história na temática moda e estilo e é consenso que ganhou a eleição de 1990 em muito graças à imagem de galã e esportista, com ternos impecáveis e a exibição de boa forma por trás de camisetas com dizeres filosóficos como “O tempo é o senhor da razão”. Até mesmo o ex-presidente Lula fez questão de trocar a imagem de sindicalista do ABC pelo terno bem cortado e ajustado na campanha de 2002 a fim de conquistar a confiança do empresariado e minizar a rejeição por parte do eleitorado feminino.
Sim, o figurino, a apresentação de um candidato perante seu público, pode ser fator de vantagem ou desvantagem na corrida por votos. “A imagem é o nosso cartão de visitas. Os gestos e as atitudes, o tom de voz e a aparência compõem os pilares da imagem pessoal e são os responsáveis pela nossa comunicação não verbal. As roupas e os cuidados pessoais constroem essa aparência”, ressalta Míriam Lima, especialista em gestão de imagem e autoconhecimento.
Neste 2018, a icônica frase“o hábito faz o monge” é levada mais a sério que nunca, como frisa a consultora. “ A ação de cobrir o corpo comunica quem somos, o que fazemos, do que gostamos, o que desejamos, de onde viemos, qual o nosso papel social. O que vestimos afeta como nos sentimos e o que projetamos, influenciando diretamente as relações que estabelecemos com os outros. Num mundo cada vez mais competitivo, apressado e tecnológico como o nosso, a imagem projetada chega antes do conteúdo ”, lembra.
Look estrategista
Míriam afirma ainda que, ao cuidar da própria imagem no contexto da disputa eleitoral, o candidato tem o objetivo inicial de ganhar a atenção do eleitor, e na sequência, conquistá-lo. “Uma imagem bem gerenciada faz com que a mensagem do político chegue mais rápido ao seu destinatário, e isso não é pouca coisa, levando em conta que quanto mais autenticidade e coerência houver nessa construção, mais pontos serão ganhos”. Concorda com ela o estilista Rodrigo Fraga, especializado em alfaiataria e vestuário masculino. “A imagem ajuda a trazer autoconfiança e credibilidade e, nesse sentido, a harmonia e espontaneidade de uma roupa que funciona como extensão da própria personalidade vale mais que uma 'fantasia de político', uma roupa que parece estar institucionalizada”, compara.
Então, vale dobrar a manga da camisa, usar blazer sem gravata, circular de tênis? “Não há certo ou errado nessa construção. Na verdade, a pergunta a ser feita é: minha escolha está adequada à mensagem que eu quero passar? “, garante Míriam.
Também consultora de estilo e imagem pessoal, Anita Rezende arremata: “os elementos que geram uma imagem são chamados de alfabeto visual, carregam significados importantes na formação de um discurso não verbal e devem estar aliados aos preceitos, valores e desejos pelos quais queremos ser reconhecidos já que levam a respostas instantâneas, criando um conceito ou um pré-conceito à respeito”. E conclui: “como as emoções são a base do raciocínio por meio do qual atribuímos valor às nossas experiências visuais, muitas pessoas escolhem um candidato pela impressão que sua figura passa. Só depois o nosso lado racional justifica essa escolha, tentando achar propostas ou argumentos políticos para aceitação do mesmo”.
Espelho político
Estratégias que sugerem mais proximidade com a população como usar a camisa para fora da calça, o costume no lugar do terno com gravata (blazer), a camisa com mangas dobradas, calça jeans e tênis estão em alta. “O que gera a confiança no eleitor é a percepção de coerência entre a imagem pessoal e as propostas e valores do candidato”, diz a personal stylist Anita Rezende. Saiba mais sobre o estilo pessoal dos candidatos:
Na corrida pelo governo de Minas
Antônio Anastasia (PSDB)
Adota uma imagem visualmente mais limpa, com uso de elementos mais clássicos e de
cores neutras que passam a ideia de traqulidade e intelectualidade
Dirlene Marques (PSOL)
Imagem que traz casualidade e informalidade, estratégia alinhada aos preceitos da sua campanha para gerar impacto e receptividade ao eleitorado mais simples. Faz uso de elementos informais como calça jeans, blazer e cores claras
Fernando Pimentel (PT)
Reforça imagem de proximidade à população também com uso de elemento casuais como a calça e camisa jeans, camisa semi social, manga dobrada, cores claras e acessíveis, além de adotar muitos movimentos corporais
Romeu Zema (Novo)
Transita entre o estilo casual business (quebra de formalidade, num mix do look social para trabalho e do estilo esporte fino), com a aposta em tênis, camiseta, camisa polo e peças esportivas
Claudiney Dulim (Avante)
Tradicional, busca a discrição em looks mais neutros
Adalclever Lopes (MDB)
Também tradicional, não segue a moda e não gosta de usar peças que revelem muito o corpo. Suas roupas se caracterizam por serem de marcas tradicionais, de cores neutras e combinaçôes monocromáticas
João Batista Mares Guia (Rede)
Estilo elegante , sustentando um visual impecável, roupas de melhor qualidade e durabiliadde. Geralmente usa combinaçoes de roupas em tom sobre tom, sempre com algum acessório ou peça que chama mais a atenção
No pleito presidencial
Jair Bolsonaro (PSL)
Aposta no estilo mais tradicional e conservador, compatível com os valores pessoais que defende
Fernando Haddad (PT): Opta pelo estilo clássico com toques de despojamento
Marina Silva (Rede) : Incorporou roupas coloridas, peças claras e mais folgadas a fim de deixar para trás a imagem de política frágil. Mantém, ainda, componentes de identidade visual, como o coque (mais atualizado, agora) e os colares de semente, numa clara alusão a sua militância nas causas ambientais.
Geraldo Alckmin (PSDB): Está com a imagem repaginada, mais leve, e tem aparecido em público com paletó e sem gravata
Guilherme Boulos (PSOL) : Apresenta identidade visual mais despojada e casual
João Amoedo (NOVO): Aposta em looks monocromáticos, em sintonia com as últimas tendências da moda internacional, recurso que remete à disposição para avançar em ideias
Saiba “ler” as cores que predominam em algumas das legendas mais conhecidas
Azul: passa a mensagem de confiança, respeito, confiabilidade, serenidade
Vermelho: transmite mensagem de coragem, firmeza, pulso forte
Branco: remete à pureza, esperança, limpeza
Saiba decodificar o visual de um candidato
Nas entrelinhas da moda eleitoral, o vestuário diz mais sobre a mensagem do candidato do que imagina a vã filosofia do eleitor. Conheça as principais ideias sublinhares do visual que aponta para:
Casualidade – Um candidato que não “gasta” o tempo com vaidades, esse estilo busca abrir portas com o eleitor já que sugere uma aproximação à realidade do público comum;
Produções ligeiramente moderninhas - O candidato é antenado e está aberto a mudanças
Visual engomado, à moda antiga - O candidato pensa como sempre pensou, não avançou nas ideias, tem dificuldades de se abrir para o novo
Mangas dobradas – O candidato parece dizer: não vamos deixar para depois, está na hora de colocar a mão na massa; revela atitude;
Look monocromático - Transmite mensagem de sofisticação, mas pode afastar o eleitor ou dificultar que a mensagem chegue até ele;
Cores escuras - Passa mensagem de elegância, sofisticação e poder. Dependendo da situação, não deve ser usada para não passar a imagem de ostentação;
Cores claras: São muito bem vindas, desde que coerentes à proposta. O branco é muito usado por políticos que querem transmitir ideias de paz, frescor, pureza; é símbolo de entrega, provoca sensação de renovação e abertura a mudanças.
Fonte: Anita Rezende e Míriam Lima, especialistas em consultoria de imagem