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Estado de Minas

Chance de eleição de Bolsonaro no 1º turno é pequena, mas existe, dizem analistas

Crescimento do candidato do PSL nas últimas pesquisas torna possível a vitória. Embora pouco provável, resultado é inédito desde FHC, que derrotou Lula em 1994 e 1998


postado em 03/10/2018 08:21 / atualizado em 03/10/2018 09:27

Simpatizantes de Jair Bolsonaro na Esplanada dos Ministérios: abstenção pode ser aliada (foto: Ed Alves/CB/D.A Press )
Simpatizantes de Jair Bolsonaro na Esplanada dos Ministérios: abstenção pode ser aliada (foto: Ed Alves/CB/D.A Press )

Diante da alta rejeição dos dois candidatos à Presidência da República com mais intenção de votos, é possível que o Brasil volte a presenciar algo que aconteceu pela última vez 20 anos atrás: a definição do vencedor da disputa logo no primeiro turno. Embora a probabilidade de que isso aconteça seja considerada baixa pelos analistas, a hipótese não é completamente descartada. A depender da quantidade de votos nulos e brancos e da taxa de abstenção — além de uma eventual migração de votos na última hora —, o apoio de 36% do eleitorado nas pesquisas de intenção de voto pode resultar em mais de 50% dos votos válidos na eleição.

Por exemplo, um candidato que chegasse a 36% das intenções de voto nas pesquisas, que levam em conta nulos e brancos, contaria com cerca de 53 milhões de votos. Por diversos motivos, nem todos os brasileiros que estão aptos a votar comparecem de fato às urnas. Nas eleições de 2014, o índice de abstenção foi de 19,4%. Contando com votos nulos (5,8%) e brancos (3,8%), a porcentagem de eleitores em potencial que não participou do pleito foi de 29%.

Caso a mesma porcentagem do eleitorado não vote este ano ou prefira abrir mão da escolha, por meio de votos brancos ou nulos (que, na prática, têm o mesmo efeito e são descartados da contagem), os 53 milhões, em um universo de 104,6 milhões que vão votar, passarão a corresponder a 50,7% dos votos válidos. Esse total garante a vitória já no próximo domingo, já que, para ser eleito no primeiro turno, o candidato precisa de 50% dos votos válidos mais um.

O candidato mais próximo disso, atualmente, é Jair Bolsonaro (PSL). Na pesquisa Datafolha divulgada ontem, ele contava com 32% das intenções de voto. Para isso, seria necessário atrair quase 4 milhões de brasileiros até domingo, o que ainda é visto como improvável por especialistas. “Acho difícil que aconteça, mas não é impossível. Tem muita gente pedindo o voto útil para tirar o adversário do segundo turno. Pode acontecer o efeito de uma corrida de votos para Bolsonaro”, pondera o especialista em direito eleitoral Daniel Falcão, do Instituto de Direito Público (IDP).

Manifestação contra o candidato do PSL em Brasília: adversários apostam na rejeição (foto: Barbara Cabral/Esp. CB/D.A Press)
Manifestação contra o candidato do PSL em Brasília: adversários apostam na rejeição (foto: Barbara Cabral/Esp. CB/D.A Press)

Para o cientista político Leonardo Barreto, da Factual Informação e Análise, as chances de a eleição presidencial ser decidida de forma definitiva no próximo domingo é de 2%. O cientista político Murillo Aragão, da Arko Advice, também vê chances baixas de um desfecho sem o segundo turno. Há duas semanas, porém, a consulturia calculava 30% de possibilidade de Bolsonaro vencer de primeira — com viés de alta. “Sempre é possível que ocorra uma variação expressiva. Mas, por ora, mantenho a aposta de que Jair Bolsonaro e Fernando Haddad vão para o segundo turno”, afirmou Aragão.

Precedentes


As únicas eleições presidenciais em que um candidato venceu no primeiro turno foram as de 1994 e em 1998, ambas com Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Os especialistas ressaltam que há muitas diferenças entre o quadro atual e aquela situação. Em fevereiro de 1994, havia sido aprovado o Plano Real, enquanto o tucano era ministro da Fazenda. Os efeitos começavam a ser sentidos pela população. Não por acaso, FHC era o menos rejeitado nas pesquisas. A dois dias da votação, apenas 17% dos eleitores o descartavam, segundo o Datafolha. Hoje, 46% dos eleitores dizem que não votam de jeito nenhum no capitão reformado do Exército. O outro candidato mais competitivo, Fernando Haddad (PT), tem 41% de rejeição.

O impacto de um candidato que “tirou o Brasil da crise”, em 1994, é concreto, ao contrário do que acontece hoje. “Diante daquelas circunstâncias, depois de uma hiperinflação, é compreensível que ele tenha conseguido se eleger no primeiro turno. Foi um caso atípico na história do país”, explicou o cientista político Sérgio Praça, da Fundação Getulio Vargas (FGV). Bolsonaro, por outro lado, ainda não tem nada de concreto para oferecer. A atuação dele no Congresso não é animadora, com apenas um projeto de lei aprovado em 28 anos de mandato parlamentar. Ele também não tem experiência em nenhum governo, diferentemente de FHC, que era ministro. O que pode levar o candidato do PSL à vitória no primeiro turno é a rejeição ao PT. O rival Haddad sofre com a onda de antipetismo, em um cenário repleto de eleitores desiludidos.

Fernando Henrique tinha 48% das intenções de voto na última pesquisa antes das eleições de 1994. No fim das contas, foi eleito com 54%, devido às abstenções e aos votos nulos e brancos. Em 1º de outubro, na pesquisa de boca de urna, ele computava 55% dos votos válidos. O segundo colocado, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), tinha 28%. Ficou com 27% no fim da apuração.


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