Jornal Estado de Minas

Justiça eleitoral é ineficiente para combater avalanche de fake news

Em torno da disputa polarizada entre a extrema-direita de Jair Bolsonaro (PSL) e o lulismo de Fernando Haddad (PT), nas eleições de 2018, os brasileiros viram emergir, como em nenhum outro pleito, avalanche de fake news – notícias falsas – e boatos com o objetivo de influenciar o voto neste domingo. Por causa do fenômeno, 18 ações correm no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para combater mentiras que se espalham pela internet. Esse número, entretanto, não representa nem um milésimo do problema, que se agigantou nas redes sociais, em especial no WhatsApp, na reta final das eleições, e demonstra a dificuldade das instituições em barrar a desinformação.


Enquanto você lê esta notícia, centenas de milhares de mensagens estão sendo enviadas em grupos de WhatsApp e enviadas pelos seus participantes até viralizar. Se, por um lado, a rede social despontou nestas eleições como uma das formas mais eficientes de disseminar informações de campanhas políticas, por outro, também se revelou canal privilegiado de fake news para denegrir a imagem de adversários.

O projeto “Eleições sem fake”, do Laboratório de Computação Social do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), está monitorando 272 grupos públicos, todos com orientação política e alerta para o problema. “O que vemos é um espalhamento muito grande de notícias falsas. Mentiras que levam as pessoas a começar a viver em realidade paralela”, conta o coordenador do projeto, o professor Fabrício Benevenuto.


Nesta realidade paralela, parte de um universo privado, circulam mensagens inverídicas como a que diz que o TSE entregou o código das urnas eletrônicas à Venezuela. Corre também a mentira de que o PT estaria alertando sobre a mudança na data das eleições para segunda-feira e que Haddad teria falado que as crianças passariam a ser propriedade do estado, que definiria o gênero delas.

É falsa também a mensagem que atribui a um dos filhos de Bolsonaro, o candidato ao Senado Flávio Bolsonaro (PSL) a frase “se um pai tira a vida de um filho gay, é uma questão familiar”. Anteontem, a Rede Globo alertou para a falsidade de documento que atribui à emissora orientações para a cobertura do pleito em favor de Bolsonaro, no domingo.


Na tentativa de frear essa avalanche, nesta semana, o candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, divulgou vídeo no Instagram criticando essa atitude e lançou o “Zap do Lula na guerra contra as mentiras e boatos” para que os eleitores enviem denúncias com as mensagens que receberem.

Chegou ao WhastApp do candidato, por exemplo, que ele teria afirmado que “crianças de 5 anos seriam propriedade do Estado” e que o petista compulsoriamente decidiria o gênero delas. Haddad atribui a apoiadores de Bolsonaro as mentiras divulgadas.


Pessoas públicas também estão usando as redes sociais para desmentir notícias falsas que se alastraram pelos grupos privados. A atriz Patrícia Pillar fez vídeos para comentar que nunca foi agredida pelo ex-marido, o candidato Ciro Gomes (PDT), e ainda declarou voto nele. “Estou aqui para dizer que estão usando minha imagem para divulgar notícias falsas, favorecendo um candidado que jamais seria o meu”, disse.


A vice de Haddad, Manuela D’Ávila, também usou o Instagram para denunciar manipulação em imagem que ela usa camiseta “Jesus é travesti”, quando, na realidade, era “rebele-se”. Em comum, todas essas fake news vêm, geralmente, acompanhadas de mensagens de que o leitor deve suspeitar, como “Fato gravíssimo”, “Essa informação precisa viralizar”, “Espalhe para o maior número de pessoas possível” e “Urgente”.


PERFIL “O WhastApp vai ser uma lição para essas eleições, porque há uma quantidade de pessoas se informando por esses espaços e muito pouco se sabe do que está acontecendo nesses grupos privados. São campanhas políticas maliciosas com a disseminação de informações falsas, o que pode afetar as eleições, já que a opinião se forma muito pela opinião das pessoas com quem você interage”, diz Fabrício Benevenuto, coordenador do Eleições sem fake.


Por se tratar de rede social privada para troca de mensagens, o pesquisador observa que o WhatsApp é mais difícil de ser pesquisado, sendo os grupos públicos – temáticos e abertos para interessados entrarem – uma porta de entrada para essa observação. Pesquisadores da ciência da computação da UFMG também estão debruçados em 81 grupos públicos da rede social para acompanhar as discussões.

De acordo com um dos integrantes do estudo, o doutorando Josemar Alves Caetano, a discussão política domina metade dos grupos de WhatsApp.

“A principal diferença é que, nos grupos com foco na política, observamos participantes com perfil dominador e outro espectador. 

Nos demais grupos, a participação entre os usuários é mais homogênea”, comenta. Segundo o pesquisador, as mensagens estão ligadas, principalmente, às palavras-chave Bolsonaro, Lula, Dilma, golpe, impeachment, PT. Dessas mensagens, aquelas que remetiam a vídeos no YouTube estavam mais relacionadas à campanha de Bolsonaro. Em junho, o TSE firmou termo de compromisso com os partidos para que sejam colaboradores contra as fake news. Trinta e um partidos assinaram o documento. PT, PCO, PSTU e PTC não assinaram. Foi assinado também termo parceria com empresas do setor de comunicação, Google e Facebook para combater a desinformação.

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