No principal dia vivido em uma democracia, quando o povo vai às urnas escolher seus governantes, o primeiro turno das eleições confirma a radicalização do sentimento de uma nação dividida entre candidatos com altas taxas de rejeição, principal desafio que ambos enfrentarão daqui pra frente. O capitão reformado Jair Bolsonaro (PSL), que por 4,2 milhões de votos (4% dos votos válidos) não leva a vitória no primeiro turno, e o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), afilhado político do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), decidirão em 28 de outubro quem será o futuro presidente do Brasil.
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O desempenho do militar, deputado federal há sete mandatos, superou as pesquisas e se compara ao de Lula em 2002, na campanha histórica do “Lulinha paz e amor”. Na época, com a adesão do país ao petismo, ele obteve, no primeiro turno, 46,4% dos votos válidos, sendo que José Serra (PSDB), segundo colocado, ficou com 23,2%. A votação pró-Bolsonaro dominou as regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste do país e foi barrada no Nordeste – que elegeu três governadores petistas e dois apoiados pelo partido – e também em grande parte da região Norte, com exceção do Acre e de Roraima, na fronteira com a Venezuela, que enfrenta questão migratória.
Superando a média nacional, em Minas, 48% dos eleitores apoiaram Bolsonaro e 27%, Haddad.
No segundo turno, o maior desafio de Bolsonaro e Haddad será enfrentar a própria rejeição, de 43% e 36%, respectivamente. Além disso, eles precisam ganhar apoiadores entre os quase 30% de abstenções, votos nulos e brancos. Os votos brancos e nulos somaram 10,2 milhões de votos, num total de 8,8% do eleitorado. Já 29,8 milhões (20,3%) se abstiveram de votar, parcela que cresce e alcançou o maior percentual desde 1998, indicando, a cada pleito, o aumento da descrença dos brasileiros nos políticos.
A vitória do militar em primeiro turno dependia da obtenção de um total de 50% mais um dos votos válidos, pouco mais de 53,4 milhões de votos. Em seu pronunciamento depois do resultado, pelo Facebook, disse que não ganhou no primeiro turno por problemas nas urnas eletrônicas.
Agora Haddad terá o desafio de atrair o apoio dos candidatos derrotados, a reboque do movimento feminista #elenão, contrário a seu adversário. “Nós queremos unir os democratas do Brasil, nós queremos unir as pessoas que têm atenção aos mais pobres desse país tão desigual. Queremos um projeto amplo para o Brasil, profundamente democrático, mas também que busque de forma incansável justiça social”, disse, em seu pronuciamento depois do resultado.
Apesar de um movimento na reta final da campanha para que Ciro Gomes (PDT) tomasse o segundo lugar, o pedetista não decolou e estava com 12,52%, com 12,8 milhões dos votos. O tucano Geraldo Alckmin ficou com 4,83% dos votos. Com 1% dos votos, Marina Silva (Rede) acabou atrás de João Amoêdo (Novo), Cabo Daciolo (Patri) e de Henrique Meirelles (MDB).
Haddad também terá que nadar contra a maré do antipetismo, que fez o desempenho do partido encolher no primeiro turno.
Para isso, tudo indica que o primeiro embate de Haddad será dentro do próprio partido, na tentativa de fazer aceno mais assertivo na direção do centro político. Advogado, economista, doutor em Filosofia e professor licenciado de Teoria Política na USP, ele sempre foi considerado petista de posições moderadas, o que pode facilitar.
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