Para o analista político da Tendências Consultoria Integrada, Rafael Cortez, o segundo turno vai exigir um esforço muito maior do candidato do PT Fernando Haddad do que de Jair Bolsonaro (PSL), que teve maioria dos votos no domingo, 7. "Haddad tem de se colocar como líder acima do partido se quiser ter alguma chance". Veja, a seguir, trechos da entrevista do analista político.
Como o sr. vê segundo turno?
Vejo uma dinâmica eleitoral muito peculiar porque vão se contrapor duas forças com uma rejeição muito alta. Ainda que Bolsonaro já esteja no limiar da vitória, a eleição ainda é muito competitiva. Do ponto de vista do PT, que tem o desafio de recuperar um déficit grande em relação ao Bolsonaro, vai ser justamente a capacidade de fazer uma união com forças distintas do petismo. Uma parcela dessa votação no Bolsonaro é o eleitorado punindo o PT pelo desempenho ao longo do governo Dilma e, depois, por causa dos desdobramentos da Operação Lava Jato. Então, para tirar um pouco essa marca negativa de associação com o PT, o Haddad tem de se colocar como um líder acima do partido, se quiser ter alguma chance relevante.
É uma tarefa difícil diante do crescimento do antipetismo?
Sim. O eleitorado antecipou um movimento esperado par o segundo turno. O antipetismo estava razoavelmente disperso enquanto não havia o crescimento do Haddad. Na medida que ele emergiu, o antipetismo veio a galope. Daí a necessidade de ele se colocar como uma liderança multipartidária. Se ficar simplesmente como continuidade do Lula, provavelmente não vai ter resultado.
Ele fez isso no primeiro turno?
Sim, e entendemos a razão. O PT fez uma campanha apostando num nome (de Lula) que não teria condições legais de disputar a eleição e o crescimento do Haddad, num curto espaço de tempo, teria de vir por essa identificação. De fato, isso ocorreu, mas não é suficiente para gerar uma vitória quando a competição é de dois turnos e com esse sentimento antipetismo muito elevado.
E o Bolsonaro?
Acredito que ele vai tentar trazer algum elemento que não ficou destacado no primeiro turno, como atrair o baixa renda do Nordeste. Mas o Bolsonaro tem uma vantagem não só por ter desempenho positivo no primeiro turno, mas pelo papel que se coloca na campanha. Ele é resultado de uma dupla rejeição: ao PT e ao governo Temer/política tradicional. O fato de o Bolsonaro representar um descolamento maior do sistema torna a relação dele com o eleitorado mais livre e com menos constrangimento.
Como o País sai dessa eleição?
O Brasil conseguiu preservar a democracia. Contudo, o desafio é superar o questionamento da legitimidade de algumas instituições que são fundamentos da democracia e especialmente a capacidade do sistema político brasileiro de gerar coalizões estáveis, que foi algo que esteve ausente nesse último período 2015/2018. Estabilidade de coalizão significa que o mecanismo da cooperação ainda é positivo, em que os conflitos são canalizados pelos partidos políticos e eles não impedem tomadas de decisões importantes, como as reformas. Temos um quadro social muito complicado por causa da crise econômica e a não resolução dos problemas tem consequências sociais sérias.
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