Depois de surpreender até a si próprio e chegar na frente no primeiro turno das eleições em Minas, o empresário Romeu Zema (Novo) afirmou ontem que aceitará apoio até do governador Fernando Pimentel (PT), a quem tanto criticou, para chegar ao Palácio da Liberdade.
O candidato afirmou ter humildade suficiente até para pedir ao petista a adesão, desde que ela não esteja vinculada a promessas de cargos. No dia seguinte à eleição, em que conquistou 42,73% dos votos dos mineiros, Zema conversou com o Estado de Minas em uma viagem de Uber entre duas agendas de campanha.
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O resultado da eleição surpreendeu até o senhor, que esperava estar no segundo turno, mas não em primeiro lugar. O que acha que o levou ao segundo turno?
Atribuo a alguns fatores.
No debate o senhor pediu voto para o Bolsonaro. Foi de propósito? Acha que isso ajudou?
Ali já era quase uma hora da manhã, depois de um dia longo, e não estava com o raciocínio 100%.
O senhor disse que o partido ainda vai decidir, mas o senhor pessoalmente quer Bolsonaro presidente?
O partido está decidindo até amanhã à noite e vou acatar porque, no Novo, sou um soldado, o diretório tem total autonomia e isenção, sou cobrado e fiscalizado por eles. Diferentemente de outros partidos, temos essa estrutura de governança. O que o partido já definiu é que não apoiará o PT por divergência de projetos e propostas. A questão de estar ou não apoiando outro candidato vamos aguardar. Espero que o partido tome o posicionamento mais lúcido, aquilo que vai ser melhor para Minas e para o Brasil.
Mas o senhor com esse resultado se torna a principal liderança do partido.
Na estrutura do Novo não opino. Sou um executor. Quem vai definir é o diretório. Lógico que vão considerar tudo isso que disse.
Em Minas, o senhor aceitaria apoio do governador Pimentel? Que outros candidatos vai procurar?
Todo apoio que quiser aderir a nós, no sentido de fazer o que é bom para Minas, queremos. Agora, não queremos balcão de negócios. Não quero nenhum apoio em troca de secretaria ou alguma coisa. Se fosse para fazer isso, estaria lá na minha cidade, em Araxá, e deixaria os mesmos políticos de sempre aí fazendo. Não quero colocar em prática aquilo que sempre combati.
O senhor pediria apoio ao Pimentel? Não é contraditório, já que defende o voto anti-PT?
Não cheguei a pensar nisso, está muito prematuro, mas sou humilde, eu pediria. Peço apoio a todo mundo, ao povo mineiro. Precisamos salvar o estado, não tenho restrição a pedir apoio a ninguém, mas que fique claro que não vou lotear o estado ou fazer promessa.
Como enfrentar um candidato que já governou Minas e tem a seu favor o discurso da experiência?
Esses gestores estão à frente de Minas Gerais há 20 anos e fabricaram esse desastre que estamos vivendo aqui. Se experiência de gestão for fazer conchavos, criar cabides de empregos, operar balcões de negócios, como tem sido a política, realmente não entendo disso não. Agora, de colocar gente competente, resolver problema, gastar menos, oferecer um bom serviço, isso eu sei fazer muito bem. Gosto de lembrar que nunca atrasei o salário de quem trabalha comigo, mesmo pagando imposto. E eles que recebem imposto estão atrasando os salários. Não me sinto nem um pouco constrangido com essa comparação, que acho totalmente indevida. Gostaria que ele (Anastasia) tivesse um dia ter que tocar um negócio, acordar de madrugada e trabalhar até 10 horas da noite, viajar por estradas de terra esburacadas, trocar pneu que fura, se ele daria conta de aguentar o rojão.
O senhor vem de uma experiência no setor privado com uma empresa lucrativa. Se eleito, como vai ser administrar um estado com um rombo de R$ 11,4 bilhões?
É um grande desafio, o principal deles solucionar o déficit público. Vamos atuar em alguns pilares. O primeiro é uma redução de despesas como nunca foi feito, reduzir as atuais 21 secretarias para 9, cortar 80% dos cargos de indicação política, rever contratos, abrir a caixa-preta da Previdência, que tem aposentadorias inexplicáveis e que não aparecem no portal da transparência. Mas isso não é suficiente. Vou simplificar, como nunca, a vida de quem quer trabalhar e trabalha em Minas Gerais. Minas é o estado que mais perde empresas para o Brasil e mais maltrata quem quer trabalhar. É um estado que prejudica quem quer trabalhar e o que quero é o contrário, um estado que além de não prejudicar crie algum tipo de incentivo. Outra medida que vamos tomar é renegociar a dívida de Minas com o governo federal, o que poderia ter sido feito pelo atual governador, e não foi porque ele se negou a adotar medidas de economia. Minas poderia estar em uma situação muito menos crítica, mas ele foi só gastando, criando cabides de emprego, e chegamos onde chegamos.
O senhor já tem um prazo para regularizar o pagamento dos salários e os repasses às prefeituras?
É algo que vai levar tempo, mas que vamos tentar agilizar ao máximo, tomando as medidas de redução de despesas e ampliando a arrecadação sem aumentar impostos, atraindo novas empresas, criando empregos, gerando renda e negociando com o governo federal. Tudo isso sendo feito, vamos caminhar para regularizar esses pagamentos atrasados dos funcionários e das prefeituras. É coisa de dois anos aproximadamente a nossa estimativa. Antes disso, o atraso vai se reduzindo, mas tudo isso vai depender de conjuntura econômica, então seria uma irresponsabilidade minha falar em prazo agora.
O senhor não se programou nem financeiramente para um segundo turno. Como vai ser a participação do Novo e do Amoêdo?
Estamos acostumados a tirar leite de pedra. Apesar de ter tido a maior votação, mais de 4,1 milhões, gastei uma pequena fração do que os concorrentes que tiveram menos voto gastaram. Vamos continuar com essa eficiência, com essa economia que é o que a gente sabe fazer, trabalhando muito. Gosto de lembrar que o Novo funciona igual a um time de futebol: quem joga bem tem torcida e tem pagante. Vamos fazer dessa maneira, os 25 mil filiados do Novo continuam contribuindo e, com certeza, não vão se omitir de contribuir um pouco mais neste momento tão decisivo para nós.
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