Os candidatos à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) trocaram acusações ontem sobre os debates na televisão. Líder nas pesquisas, o capitão reformado admitiu a estratégia de ficar longe dos embates e alegou que não o faria por considerar que o petista seria um ‘ventríloquo’ do ex-presidente Lula. Haddad, por sua vez, questionou o atestado médico do adversário, colocando em xeque o motivo de ele estar apto a dar entrevistas e não a debater. Em entrevista à rádio CBN, Bolsonaro questionou a autenticidade do candidato petista. “Gostaria de debater com ele sim, eu e ele, sem intermediário”, afirmou, se referindo a uma possível influência de Lula.
O candidato foi questionado sobre suas declarações a favor do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, apontado como torturador durante a ditadura militar, e sobre defesas que fez de guerra civil e do fuzilamento do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Bolsonaro disse que as entrevistas foram dadas há 20 anos e que quando falou sobre fuzilar FHC usou “metáfora”. “A gente evolui, vou governar daqui para frente. Agora, não sou o Jairzinho paz e amor, sou a pessoa autêntica que sempre fui”, disse.
Bolsonaro voltou a dizer que não houve condenação transitada em julgado contra Ustra e que o “outro lado”, no qual enquadrou a ex-presidente Dilma Rousseff e o ex ministro José Dirceu, do PT, cometeu barbaridades e as pessoas não condenam os doia. “Sempre falei que houve excessos dos dois lados”, disse.
O candidato voltou a acusar Haddad e o PT de promoverem o “kit gay” e a ideologia de gênero nas escolas. Questionado sobre como educadores deveriam lidar com bullying nas escolas por motivo de orientação sexual dos alunos, afirmou que as instituições educacionais não devem intervir. “O pai não quer encontrar o filho brincando de boneca por influência da escola. Não tenho nada contra gay, mas isso não se discute”, disse.
Confrontado sobre sua posição em relação às mulheres, Bolsonaro disse que quando falou sobre mulheres ganharem menos que homens estava expressando a opinião de empresários. Segundo ele, “o mercado é que tem que decidir” sobre isso. Já sobre a possibilidade de ter uma mulher no seu ministério, ele disse que vai depender da competência da pessoa. “Pretendo ter 15 ministros. Um já é homem, os outros 14 podem ser tudo mulher, tudo gay ou afrodescendente. O que o povo quer saber não é se quem está em tal ministério é gay ou mulher, quer é que dê conta do recado”, disse. Bolsonaro citou como escolhidos Paulo Guedes para a pasta da Fazenda, o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS) para a Casa Civil e o general Augusto Heleno para a Defesa . Segundo ele, o restante da equipe será definido depois das eleições.
ATAQUE Em entrevista à CBN também, Haddad voltou a fazer críticas a Bolsonaro e cobrar a participação dele em debates. O petista ainda acusou Bolsonaro de incitar a violência na medida que fala que frases polêmicas em atos de campanha, como no Acre em que chamou os apoiadores para “metralhar petistas”. “É um homem completamente impróprio para o debate democrático”, disse. Haddad disse que não acredita que Bolsonaro vá participar dos debates porque sua estratégia está ancorada na violência. “Não acredito que ele vá participar de debate, porque ele não tem plano para o país. Ele só promove a violência e acha que tudo se resolve na bala, de maneira que entende que, dificilmente, vai participar de confronto direto”, afirmou. O candidato do PT ainda disse que o adversário usa atestado para não comparecer aos confrontos, mas concede entrevista, o que, na opinião dele, causa o mesmo desgaste físico. “Eu não consigo entender o argumento. Não pode reservar duas horas para um debate face a face”, afirmou.
A divulgação de notícias falsas, assunto que tem tomado parte das discussões, também foi abordada. De acordo Haddad, mais do que a troca de mensagens sem conteúdo verídico entre apoiadores, o próprio adversário espalha “mentiras”. “Inclusive quero ter oportunidade para desmascarar ele e as mentiras que ele conta pela internet. Ele está me acusando de distribuir material impróprio para crianças de seis anos, como se as professoras brasileiras fossem aceitar uma coisa absurda dessas”, afirmou.
Haddad ainda afirmou que visitou o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa, filiado ao PSB, e que “é bom ir se aproximando” do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, cacique do PSDB. “O bom é ir se aproximando para construir o entendimento sobre o que seria isso, para ficar claro do que se trata”, disse Haddad, ao ser perguntado se gostaria de ter o apoio de FHC.
“Visitei o Joaquim Barbosa não por outra razão. Quero escolher os melhores quadros e propostas para aprimorar o combate à corrupção no Brasil”. Haddad garantiu que a Lava-Jato vai continuar, assim como a Polícia Federal, o Ministério Público e o poder Judiciário. Haddad não respondeu se Joaquim Barbosa poderia ser ministro em um eventual governo petista, mas disse que ele pode ajudar o país “de muitas formas, não necessariamente participando da vida pública.”