Líder nas pesquisas ao longo de todo o primeiro turno, o candidato ao governo de Minas Antonio Anastasia (PSDB) admite que se surpreendeu com resultado das urnas, que deu vitória a Romeu Zema (Novo) e deixou o tucano no segundo lugar na disputa pelo Palácio da Liberdade. O senador reconhece que partidos tradicionais como o dele “sofreram muito” neste pleito e que, “felizmente”, ninguém controla o eleitor.
Para tentar uma virada no segundo turno, ele aceitará o apoio de segmentos que estavam com o governador Fernando Pimentel (PT), derrotado no primeiro turno. “Estou apresentando propostas às pessoas. E, se as pessoas, eleitores, acreditam que minhas propostas são melhores, sejam essas pessoas de direita, de centro ou de esquerda, ótimo”, afirma.
Agora, a duas semanas da reta final, Anastasia vai focar na comparação entre seu perfil e plano de governo com os de seu adversário, estreante na política. “Vamos fazer uma campanha de dois turnos contra um candidato que passou mais ou menos desapercebido no primeiro turno”, diz.
Anastasia também voltou a dizer que o senador Aécio Neves (PSDB), eleito deputado federal, não integrará seu governo e diz que “ninguém (do PSDB) escondeu a candidatura de Aécio” na campanha.
O senhor se surpreendeu com o segundo lugar no primeiro turno?
Claro, a surpresa decorreu das pesquisas. Na realidade, o primeiro turno foi uma eleição que acabou sendo de fato politicamente polarizada entre a nossa candidatura e a candidatura do governador Pimentel. Os dois na frente o tempo todo nas pesquisas, com mais tempo de televisão, com mais apoios políticos, então, naturalmente, houve polarização. E, no final, já praticamente na última semana, o candidato Zema começa a subir, ameaçando o segundo lugar. Na véspera, no sábado, inclusive, ele estava atrás de Pimentel e eu ainda tinha 12 pontos de frente. Quando as urnas se abrem não há dúvida de que foi algo inesperado. Mas sempre digo e reitero que o respeito nosso à soberania do voto é total. Agora, vamos fazer uma campanha de dois turnos contra um candidato que passou mais ou menos desapercebido no primeiro turno e se apresentará à sociedade mineira, que já me conhece muito bem.
Levantamento do instituto Paraná Pesquisas aponta vitória de Zema no segundo turno com 73,6% dos votos válidos, contra 26,4% de votos no senhor. Como reverter essa distância em duas semanas?
Se na véspera do pleito eu tinha mais de 20 pontos na frente dele e terminei 10 pontos atrás, quer dizer que as pesquisas a essa altura, perderam totalmente a credibilidade. Percebemos também que as eleições estão muito diferentes e as ondas de movimentação dos eleitores estão se dando em horas, e não em dias. Então, vamos esquecer as pesquisas e fazer uma campanha de muita comparação entre o nosso conteúdo, o nosso programa de governo, o programa de governo dele, que foi estranhamente retirado do ar, para mostrar que as candidaturas são muito diferentes. Não há ponto de comunhão. E vamos mostrar as diferenças dos perfis. Da experiência, da trajetória, dos conhecimentos de cada um.
O senhor tem enfatizado a história do gestor com experiência na política, num contexto de renovação. Qual será a dificuldade de vencer o (candidato do partido) Novo?
O Novo não é novo. Na realidade, o Novo é formado de pessoas que têm as suas experiências. Não estou disputando com uma criança recém-nascida, essa sim é novo. Agora temos que ver a diferença entre o novo e o novato. Porque a pessoa que é novata pode não ter experiência nenhuma, e aí caberá o eleitor decidir se convém ou não entregar o estado, uma administração de altíssima complexidade, para uma pessoa que não conhece nada de administração pública. Vamos mostrar quais são as propostas, quais são as ideias. O que ele propõe em saúde, educação, segurança, infraestrutura e o que eu proponho. Com relação a essas propostas, quais são as condições de implementarmos, quem tem mais conhecimento e experiência para fazê-lo.
No primeiro turno, o senhor falou de diretrizes gerais. Agora, pretende apresentar soluções mais concretas para essa crise fiscal do estado?
Primeiro, ninguém sabe qual é o montante do débito do estado hoje. É um mistério. Até porque o atual governo aumentou o déficit orçamentário em 15 dias de R$ 6 bilhões para R$ 11 bilhões. Eu estimo que esse débito hoje seja de mais de R$ 20, R$ 22 ou até R$ 25 bilhões. Naturalmente, para enfrentar, com todos os contornos, nós vamos ter que ter um conhecimento mais profundo da realidade financeira do estado que hoje nós não temos. Ponto dois. O que nosso adversário diz eu já estava falando há muito mais tempo. Que temos que enfrentar em três frentes. Primeiro, a redução das despesas, que se dá objetivamente pela agenda de austeridade com a redução das secretarias, os cortes, inclusive utilizando expressões de “cortar no osso e no tutano”, ele (Zema) mesmo fala em cortar no osso hoje. A diminuição dos cargos políticos, a redução das atividades administrativas, que aliás eu fiz em 2013, quando estava no governo. Enfrentamos o início de uma crise e, por cautela, adotei essas medidas, mas sei que não são suficientes para reverter o quadro. Então, vamos para uma segunda área de atuação, que é o aumento da receita do estado, sem aumentar os tributos nem criar tributos novos, porque a carga tributária já é muito alta, mas também sem reduzir tributos. Não temos condição de dizer que vamos reduzir o ICMS de A, B ou C, mas podemos eventualmente fazer reduções setoriais com segmentos, desde que esse segmento assuma o compromisso de manter a receita elevada. E o terceiro braço é renegociar com o governo federal. Ganhando a eleição, seja o presidente A ou B, nós vamos tratar com eles sobre a renegociação da dívida do Estado.
O senhor anunciou que não declarará seu voto em Jair Bolsonaro ou Fernando Haddad. Essa postura de neutralidade pode prejudicá-lo, considerando que a maioria do eleitorado mineiro votou no candidato do PSL?
Acho que não. Até porque a postura do candidato Bolsonaro, pelo que eu vi na imprensa, é de manter a neutralidade também nos estados. A não ser onde seu partido disputa, ele não terá participação nas candidaturas estaduais. Então, é uma neutralidade recíproca. É uma postura muito adequada, que reflete a postura nacional do meu partido, o PSDB, que adotou exatamente a mesma conduta. Quem quiser, pode adotar outra postura, eu adotei a neutralidade e aquelas lideranças que me acompanham, caso queiram, poderão manifestar esse apoio, como foi o caso do vice-governador (Marcos Montes).
Eleitores de Fernando Pimentel precisam escolher um candidato no segundo turno. Com esse discurso antipetista, será mais difícil atrair esses mais de 20% de votos?
Hoje em dia, felizmente, ninguém controla o eleitor. Não há mais votos de cabresto, não há mais dominação partidária. Os partidos perderam muito nas eleições, como comprovação disso, os partidos tradicionais foram quase que pulverizados, perderam muito de modo geral. Então, os eleitores estão muito independentes. Fazem a sua escolha para deputado, senador, presidente, governador, de maneira muitas vezes até contraditória, mas totalmente livre. Então, estamos baseando muito a campanha nas propostas. Se nosso perfil agradar mais ao eleitor, quer seja ele o eleitor que vota em B, D ou C, nós venceremos as eleições. Se não agradar, vencerá o opositor. Simples assim. Vamos manter a proposta nossa, que aliás, é a mesma que apresentamos antes das eleições. E há uma posição nossa de crítica ao governo Pimentel, que foi feita durante toda a campanha. Essa crítica foi feita e continuará sendo feita.
Há segmentos de esquerda que já anunciaram preferência pela sua candidatura em relação à postura liberal de seu adversário. O senhor aceita o apoio de quem estava com o PT?
Não é segmento que estava com o PT. Você não pode recusar apoio de voto. Não estou procurando os votos em termos de fazer alianças partidárias ou com lideranças. Estou apresentando propostas às pessoas. E, se as pessoas, eleitores, acreditam que minhas propostas são melhores, sejam essas pessoas de direita, de centro ou de esquerda, ótimo. Então estou apresentando para elas, para a população em geral. Se elas estão vindo, eu fico feliz, porque quer dizer que as minhas propostas são mais realistas, mais palatáveis, mais equilibradas e, certamente, mais adequadas do que as do meu adversário.
O PSDB elegeu menos deputados e perdeu muitos votos. Isso dificulta a caminhada no segundo turno?
Todos os partidos sofreram muito. Todos os partidos tradicionais tiveram perda. E todos os deputados que se elegeram, se elegeram com um número muito menor de votos que tiveram na vez passada. Tivemos uma eleição este ano, 2018, completamente diferente das outras. Isso é inegável. Foi uma eleição de uma reviravolta completa. Infelizmente, o PSDB perdeu votos, ainda que tenha sido, no campo nacional, o terceiro mais votado. Em Minas, teve uma votação expressiva, mas também perdeu deputados, acho que isso não afetará em nada o segundo turno. Se o primeiro já foi livre, o segundo turno das eleições será muito mais. A impressão é que hoje o eleitor se inclina para um (candidato), amanhã para outro, depois de amanhã volta. O voto está fluido, demora a se consolidar.
A presença do senador Aécio Neves na disputa à Câmara dos Deputados prejudicou o PSDB?
Acho que não, até porque ninguém escondeu a candidatura de Aécio. Ele era candidato a deputado federal. Eu não fiz campanha a nenhum deputado federal. Fiz campanha comigo, com os senadores, o vice-governador e o candidato Geraldo Alckmin à presidente, que são os cargos majoritários. Ele foi eleito deputado, cumprirá lá seu mandato.
Nesta sexta-feira, circulou fake news com uma versão falsa do site do Estado de Minas anunciando Aécio Neves no secretariado do senhor. Há algum fundo de verdade nessa montagem? E como lida com essas notícias falsas?
Não há nenhum fundo de verdade. Lamentavelmente, hoje, virou a eleição das fake news. Quantas não fizeram contra nós? É uma pena, porque isso acaba desestimulando o eleitor. Ele acaba sendo enganado. A nossa campanha toda será baseada estritamente na verdade. Até porque estou usando as falas do meu adversário – ou o que está no programa de governo ou o que ele tem falado, que já é um material muito bom.
A possibilidade das fake news interferirem no voto o preocupa?
São coisas que não têm muito o que fazer. Não sou especialista em questão de WhatsApp, então não sei muito o que fazer.
Se eleito, qual a marca quer deixar?
Quero ser o governador dos empregos. Acho que hoje há um grande drama em Minas Gerais em relação ao emprego, sobretudo para os jovens. É a falta de esperança. Minas Gerais tem hoje 1,2 milhão desempregados, em torno disso. No meu governo, consegui criar cerca 550 mil vagas, mesmo assim insuficientes naquela época. Nos últimos quatro anos, fecharam 200 e poucas mil vagas. Então, é um drama terrível.