O jornalista e apresentador de TV Carlos Viana, de 55 anos, vai assumir o seu primeiro mandato parlamentar em fevereiro, depois de conquistar a segunda vaga para o Senado por Minas pelo PHS, com 3.568.658 votos (20,22%).
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A eleição ao Senado surpreendeu muito. A ex-presidente Dilma esteve em primeiro lugar o tempo todo e o senhor embolado com outros dois candidatos. No fim ela ficou de fora. Como avalia esse resultado e o que acha que aconteceu com as pesquisas?
Acredito que os institutos de pesquisa há muito já estão dando sinais de que as ferramentas usadas para avaliar a opinião pública estão defasadas. Penso também que o Ministério Público deveria promover investigação nesses institutos, porque os erros são calamitosos, são erros que inclusive podem em algum momento prejudicar o resultado das eleições e até os candidatos.
O senhor se define como um candidato da direita?
É preciso que a gente redefina hoje no Brasil o que é direita e o que é esquerda. Não quero me rotular, uma vez que tenho muitas ideias que comungam com o pensamento da direita, como a liberdade de imprensa, de opinião, sou um liberal na economia, um capitalista, nessas características da direita me enquadro. Mas também me enquadro em características da esquerda, como, por exemplo, sou a favor que o estado trabalhe as cotas, as assistências a populações que ganhem menos, que o estado seja indutor do crescimento nas regiões mais pobres. Da forma como está colocado, direita e esquerda radicalizadas, não contribui para o Brasil.
As chamadas bancadas da bala e da religião elegeram muita gente. Por que o senhor acha que o povo escolheu uma bancada mais conservadora? Em que isso pode influenciar mudanças no Brasil?
Essa parcela importante da população ficou relegada a segundo plano durante os 13 anos do governo do PT. A esquerda massacrou aqueles que não concordam com o pensamento dela. Essa radicalização inclusive que há no Brasil hoje, eu atribuo a todos os programas dos muitos radicais de esquerda que, não só atacaram, como ofenderam boa parcela da população que a gente chama de conservadores.
Nestas pautas, seu posicionamento será do lado conservador?
Exatamente. Penso que a lei do aborto já é suficiente para preservar as mulheres nas questões de violência, má formação, risco à saúde.
E em relação às drogas?
Sou a favor de ampla discussão sobre a forma como o Brasil combate as drogas. Minha visão é que a gente traga a discussão não pelo campo da repressão, mas pelo campo da´saúde. Precisamos começar a entender e ter políticas públicas no Brasil para ajudar os dependentes a deixar o vício. Essa visão só de repressão sobre as drogas já é ultrapassada.
Quem o senhor vai apoiar no segundo turno. Haddad ou Bolsonaro?
Essa decisão está sendo tomada em conjunto com o prefeito Alexandre Kalil. Tenho minha preferência pessoal e voto, mas como senador a decisão será em bloco político
Suas ideias se assemelham mais às de qual deles?
Muitos dos meus pensamentos caminham em conjunto com Jair Bolsonaro, assim como alguns não caminham com ele.
O candidato do PSL é associado a falas sobre autoritarismo, mulheres, gays, ditadura. De quais ideias comunga com ele?
Eu, por exemplo, não defendo e muito menos aplaudo o período militar brasileiro. Não concordo em absoluto com qualquer tipo de intervenção militar. E penso que tortura no Brasil e os torturadores devem ser conhecidos para que esse erro nunca mais volte a ser cometido. No caso do Brilhante Ustra (coronel acusado de tortura durante o regime militar), não penso que essas pessoas sejam um exemplo que a gente deva engrandecer.
Quando apresentador de TV e rádio o senhor criticava muito os políticos de modo geral e os da bancada mineira. O que acha que pode conseguir no Senado que eles não conseguiram para Minas?
Com exceção do Anastasia, a história do Senado inteiro é de descaso com Minas e escândalos. O Senado sempre foi uma espécie de prêmio para os políticos mais velhos, que encontravam suplentes milionários que pagavam a campanha. Esses políticos morriam e os suplentes assumiam sem o menor compromisso com Minas Gerais. O resultado é que temos um Senado que nos últimos 30 anos foi uma nulidade para o estado. Pretendo resgatar a importância do Senado no cenário mineiro e brasileiro.
Que pautas vai defender?
Pretendo trabalhar pelo refinanciamento da dívida do estado, que vai permitir a quem for eleito governador reorganizar as dívidas e pagar os servidores. Levar a importância de Minas como estado cuja geografia é estratégica para o desenvolvimento do país. Toda a riqueza que vem do Sudeste tem que passar por Minas e temos aqui 20 anos de atraso na maior malha rodoviária do país. Melhorar a mobilidade para escoamento da produção em Minas não é só uma questão política, mas estratégica, de crescimento do país. Essa visão pretendo levar com clareza na minha participação no Senado. A questão de obras importantes que por uma questão política não conseguimos, como a municipalização do Anel Rodoviário, que é uma demanda do prefeito Kalil e foi barrada politicamente. Vamos trabalhar nisso e na questão do metrô. Essas queixas levaremos à Brasília.
O senhor já tem algum projeto de lei?
Pretendo assumir um projeto que já existe, de ampliar a área da Sudene em Minas, para que ela se estenda até o Leste de Minas, em Governador Valadares. A questão de uma alíquota única de ICMS para todo o país, de 12%, é outra luta que vou levantar, assim como a discussão da antecipação dos contratos de concessão das ferrovias. As empresas que ganharam a concessão durante época de Fernando Henrique querem antecipar em 10 anos os contratos e ganhar mais 40. Se fizermos isso, vamos condenar o Brasil a 40 anos sem transporte de passageiros e mais cargas por ferrovias. Precisamos de novo marco ferroviário.
O senhor fez campanha com Anastasia. Se Romeu Zema vencer, como vai ser sua relação com o Palácio?
Acredito que o Anastasia tem plena condição de vencer, mas se o Zema se tornar governador terá todo apoio para que possa melhorar Minas em qualquer aspecto. Mas pode esperar também a minha fiscalização..