Após vencer quatro disputas presidenciais seguidas, a postura do PT, classificada por ex-aliados e adversários como "hegemônica", deixou um rastro de ressentimentos que hoje dificulta reaproximações e a formação de uma "frente democrática" em torno do presidenciável Fernando Haddad e contra o candidato Jair Bolsonaro (PSL).
FHC não é o único. Carlos Lupi, presidente do PDT, partido que declarou "apoio crítico" a Haddad, explicou por que a sigla e Ciro Gomes não entraram de cabeça na campanha petista. "É um acúmulo dessa coisa de hegemonia. Me diga uma unidade da Federação em que eles nos apoiaram. Para o PT, a gente só é bom quando os apoia". Segundo Lupi, no dia 29, logo depois do segundo turno, o PDT vai lançar a candidatura de Ciro para a eleição presidencial de 2022.
Rede
O PT também procurou a Rede de Marina Silva, por meio de ex-petistas. As tratativas pararam quando a Executiva Nacional do partido decidiu não apoiar o petista ao estabelecer apenas o veto a Jair Bolsonaro. Questionado sobre as razões para não apoiar Haddad, Bazileu Margarido, membro da Executiva Nacional da Rede, criticou o que chamou de "erros" do PT, como as alianças com "o que há de pior na política".
Durante o debate do primeiro turno no SBT, Marina lembrou que, mesmo depois de o senador Renan Calheiros (MDB-AL) apoiar o impeachment de Dilma Rousseff, Haddad foi pedir "bênção" a ele. A maior parte do Congresso que eles chamam de conservador foi eleito na coligação do PT, disse Bazileu. "O PT, mais do que ninguém, preferiu priorizar sua hegemonia no campo das esquerdas do que construir uma alternativa que pudesse fazer frente a essa alternativa conservadora", criticou.
Apesar da decisão da Executiva, a candidata derrotada da Rede ainda não definiu seu voto. Filiada ao PT por quase 30 anos, Marina sofreu duros ataques do partido na eleição presidencial de 2014 e costuma dizer que PT e MDB são irmãos siameses.