A disputa presidencial dividiu os católicos no Brasil: nas pesquisas de intenção de voto, 48% apoiam Jair Bolsonaro (PSL) e 42% ficam com Fernando Haddad (PT). Os números mais recentes do Ibope podem explicar a movimentação dos candidatos, no segundo turno, em busca do aval de lideranças religiosas. Como Bolsonaro é exaltado pelos principais pastorres evangélicos, Haddad procurou se aproximar dos bispos católicos, de olho nos 130 milhões de fiéis.
Rudá Ricci, cientista político da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), destaca que o Brasil é um país religioso e místico. “O brasileiro não gosta do discurso racional. A religiosidade traz dois sinais que balançam a política: a ordem e a esperança. É o discurso da salvação”, pondera.
Ele explica como o voto é conquistado nesse nicho eleitoral. “O que faz o voto virar de rebanho é a atuação. Se o pastor ou o padre não tem ligação, não adianta. O comando do alto líder é menor que o do religioso que visita a casa de um fiel doente. Uma beata pode ter uma ligação muito maior com a população do que o padre. Isso é que carreia votos, não a imposição vertical”, conclui Rudá.
Um exemplo do uso da religião na campanha foi a visita de Haddad ao secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Leonardo Steiner, na semana passada. Desde então, o candidato petista passou a fazer mais citações a Deus. Outro exemplo é o uso frequente de passagens bíblicas por Bolsonaro. O petista não recebeu explicitamente o apoio dos bispos, que saíram em defesa da democracia. O capitão reformado tem o apoio aberto de líderes evangélicos como Edir Macedo, Silas Malafaia e Robson Rodovalho.
O sociólogo Antônio Carlos Mazzeo, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), destaca que o discurso de Bolsonaro é típico do apelo religioso. “Dizer ‘Brasil acima de tudo. Deus acima de todos’ é uma máxima muito clara para esse público, é dizer o que ele quer ouvir”, acrescenta.
Haddad também aposta na retórica moralista. “Ele passou a destacar que é neto de líder religioso, que é casado e nunca pregou o repúdio à religião”, aponta o professor da Unesp. Para Maz-zeo, ambas as posturas são ruins. “Não há problema de lideranças divulgarem apoio. O risco é quando o discurso do ódio começa a ser usado para amedrontar o eleitor”, conclui.
Mesmo com a guinada religiosa, Haddad é mais discreto sobre preferências de credo. “Vejo com preocupação quando uma igreja tem um projeto de poder que, inclusive, está descrito em livros. É importante manter o Estado brasileiro aberto a todas as religiões”, defendeu o petista, no último domingo, em São Paulo, após encontro com entidades representativas de pessoas com deficiência.
Já Bolsonaro tem citado a Bíblia com mais frequência em seus programas no rádio e na tevê. “Adotei uma bandeira, que é uma passagem bíblica. João 8:32: ‘E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará’”, passou a dizer na abertura das peças de campanha.