Por volta da meia-noite de 22 de maio, terça-feira, horas após o início daquela que ficaria conhecida como a maior mobilização de caminhoneiros do mundo, o advogado André Janones, de 34 anos, recebia em Ituiutaba, no Triângulo Mineiro, um chamado inbox pelo Facebook. Os caminhoneiros parados ao longo da BR-365, entre sua cidade e Uberlândia, pediam-lhe ajuda para divulgar o movimento contra os aumentos abusivos dos combustíveis. A categoria estava profundamente afetada pela política de preços do governo federal, em particular para o diesel, mas também adotada para gasolina, gás de cozinha e outros derivados, com preços flutuantes segundo a variação do dólar.
Janones, que já era referência nas redes sociais para muitos usuários do sistema público de saúde por cobrar judicialmente direito ao tratamento, hesitou, mas não por muito tempo. Saiu de casa e, à beira da rodovia, trêmulo, gravou conclamando brasileiros a apoiar a paralisação, criticando o Movimento Brasil Livre (MBL), que tentava pelas redes sociais desqualificar a mobilização. “Eu sabia que iria repercutir, mas jamais imaginei que alcançaria 17 milhões de visualizações só na minha página e 50 milhões no Brasil inteiro. Obtive durante a greve 50 milhões de engajamentos, o maior de uma única pessoa já registrado no mundo”, lembra ele. Janones, que mantinha cerca de 70 mil seguidores devido à advocacia gratuita, saltou da noite para o dia para um milhão.
E ele, que já disputara sem sucesso a Prefeitura de Ituiutaba em 2016, obteve agora 178.660 votos, o terceiro deputado mais votado da bancada mineira. Concorreu pelo Avante, legenda pequena.
A que o senhor atribui a sua votação para deputado federal? Foi mesmo a greve dos caminhoneiros que lhe deu notoriedade?
Não acho que seja a greve. Veja o Chorão, (Wallace Landim Chorão), que foi um dos líderes do movimento dos caminhoneiros. Era o homem da greve. Ele concorreu para deputado federal por Goiás pelo Podemos e só teve 14.171 votos.
Como foi a decisão de entrar para a política institucional?
Comecei a militância política em 2007 como líder estudantil.
É muito frequente que candidatos a deputado federal façam dobradinha com candidatos a deputado estadual. O senhor dobrou com alguém?
Dobrei com o Cleitinho Azevedo (PPS), de Divinópolis, que foi o quarto mais votado no estado. Ele também está sempre usando as redes sociais. Temos trajetória parecida. Sou advogado agora, mas fui cobrador de ônibus, me formei com bolsa de estudos. Cleitinho era vendedor de tomate, se elegeu vereador e agora foi eleito deputado estadual. Ele também briga pelas causas populares, apoiando as pessoas nas demandas contra o estado.
Politicamente, qual será a sua principal bandeira na Câmara dos Deputados?
Embora seja cristão evangélico, da Igreja Batista da Lagoinha, não me escorei em religião. Defendo o Estado laico e nunca entrei numa igreja para pedir votos. Cada um com a sua fé e pretendo atuar em defesa dos direitos de todos os brasileiros, de todas as religiões. Sou democrata, defensor da liberdade de imprensa.
Como o senhor pretende se posicionar no segundo turno da disputa presidencial?
Como em 2014, o Brasil sai das urnas dividido. Não pretendo me posicionar publicamente. Vou ser coerente, não quero ser base de apoio nem oposição. Serei independente. Quero votar o que for do interesse do povo, serei favorável. O que não, serei oposição ferrenha..