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Estado de Minas

Deputado eleito por atuação nas redes sociais ganha visibilidade com greve dos caminhoneiros

"Vou trabalhar muito pela saúde", diz o advogado André Janones, de 34 anos


postado em 21/10/2018 06:00 / atualizado em 21/10/2018 07:53

(foto: MARCOS VIEIRA/EM/D.A. PRESS)
(foto: MARCOS VIEIRA/EM/D.A. PRESS)
Por volta da meia-noite de 22 de maio, terça-feira, horas após o início daquela que ficaria conhecida como a maior mobilização de caminhoneiros do mundo, o advogado André Janones, de 34 anos, recebia em Ituiutaba, no Triângulo Mineiro, um chamado inbox pelo Facebook. Os caminhoneiros parados ao longo da BR-365, entre sua cidade e Uberlândia, pediam-lhe ajuda para divulgar o movimento contra os aumentos abusivos dos combustíveis. A categoria estava profundamente afetada pela política de preços do governo federal, em particular para o diesel, mas também adotada para gasolina, gás de cozinha e outros derivados, com preços flutuantes segundo a variação do dólar.

Janones, que já era referência nas redes sociais para muitos usuários do sistema público de saúde por cobrar judicialmente direito ao tratamento, hesitou, mas não por muito tempo. Saiu de casa e, à beira da rodovia, trêmulo, gravou conclamando brasileiros a apoiar a paralisação, criticando o Movimento Brasil Livre (MBL), que tentava pelas redes sociais desqualificar a mobilização. “Eu sabia que iria repercutir, mas jamais imaginei que alcançaria 17 milhões de visualizações só na minha página e 50 milhões no Brasil inteiro. Obtive durante a greve 50 milhões de engajamentos, o maior de uma única pessoa já registrado no mundo”, lembra ele. Janones, que mantinha cerca de 70 mil seguidores devido à advocacia gratuita, saltou da noite para o dia para um milhão.

E ele, que já disputara sem sucesso a Prefeitura  de Ituiutaba em 2016, obteve agora 178.660 votos, o terceiro deputado mais votado da bancada mineira. Concorreu pelo Avante, legenda pequena. “Não tive apoio de nenhum vereador, nenhum prefeito e fui votado em todos os 853 municípios. Minha campanha custou R$ 150 mil e 90% foi digital”, afirma Janones, que abre a série de entrevistas do EM com os deputados federais mais bem votados em Minas. “A maior parte dos meus gastos foram com santinhos distribuídos na minha cidade. Mas se não tivesse gasto nada com eles, o resultado teria sido o mesmo”, diz.

A que o senhor atribui a sua votação para deputado federal? Foi mesmo a greve dos caminhoneiros que lhe deu notoriedade?

Não acho que seja a greve. Veja o Chorão, (Wallace Landim Chorão), que foi um dos líderes do movimento dos caminhoneiros. Era o homem da greve. Ele concorreu para deputado federal por Goiás pelo Podemos e só teve 14.171 votos. Não se elegeu. Eu tinha um trabalho desde 2009, de advocacia popular. Tenho ajudado milhares de pessoas, propondo ações judiciais, garantindo-lhes acesso ao tratamento de saúde público. Sou procurado por pessoas na fila do SUS que aguardam exames, cirurgia. Ingresso com a ação na Justiça gratuitamente para essas pessoas carentes na fila do SUS. Ganho as liminares, a Justiça determina que o poder público cumpra essa decisão. A Defensoria Pública oferece esse apoio ao cidadão, mas eu divulgo as situações nas redes, o que leva o poder público a cumprir às vezes até antes de precisar entrar com a ação. Há posts que chegam a um milhão de visualizações.

Como foi a decisão de entrar para a política institucional?

Comecei a militância política em 2007 como líder estudantil. Participei das jornadas no Rio de Janeiro “Une de volta pra casa”. Ocupamos o terreno na Praia do Flamengo, 132 (endereço da Une até 1º de abril de 1964, o prédio foi incendiado e nos anos 80 demolido) para retomá-lo. Tenho a democracia como valor, um grande apreço por esta luta. A partir de 2009 comecei a desenvolver esse trabalho de advocacia popular comprando a briga com o poder público. Por exemplo, em Ituiutaba, minha cidade, falta UTI neonatal, um problema recorrente. Por diversas vezes ganhamos na Justiça decisões favoráveis para transferir crianças para BH ou Uberlândia. Também atendia a muitas demandas populares para ações contra aumento abusivo do IPTU. Por um ano, atuei em Belo Horizonte atendendo na sala de apoio do advogado. Atualmente, atendo a pedidos no estado inteiro, embora 80% das demandas estejam concentradas no Triângulo. Só que antes da greve, apenas as famílias beneficiadas sabiam disso. O que aconteceu foi que a greve deu visibilidade ao meu trabalho.

É muito frequente que candidatos a deputado federal façam dobradinha com candidatos a deputado estadual. O senhor dobrou com alguém?

Dobrei com o Cleitinho Azevedo (PPS), de Divinópolis, que foi o quarto mais votado no estado. Ele também está sempre usando as redes sociais. Temos trajetória parecida. Sou advogado agora, mas fui cobrador de ônibus, me formei com bolsa de estudos. Cleitinho era vendedor de tomate, se elegeu vereador e agora foi eleito deputado estadual. Ele também briga pelas causas populares, apoiando as pessoas nas demandas contra o estado.

Politicamente, qual será a sua principal bandeira na Câmara dos Deputados?

Embora seja cristão evangélico, da Igreja Batista da Lagoinha, não me escorei em religião. Defendo o Estado laico e nunca entrei numa igreja para pedir votos. Cada um com a sua fé e pretendo atuar em defesa dos direitos de todos os brasileiros, de todas as religiões. Sou democrata, defensor da liberdade de imprensa. Vou trabalhar muito pela saúde pública e o combate à corrupção, dentro dos marcos legais e constitucionais. Como advogado me qualifico como legalista. A lei tem de ser cumprida e ponto final. Abusos de autoridade, quando ocorrem, devem ser punidos. Acho muito importante, e vou trabalhar nesse sentido, introduzir noções de direito na grade curricular das crianças brasileiras, para que possam coibir situações de abuso em todos os campos – do estado sobre o indivíduo, do indivíduo enquanto consumidor. No longo prazo, é uma iniciativa que tem o poder de revolucionar e garantir direitos.

Como o senhor pretende se posicionar no segundo turno da disputa presidencial?

Como em 2014, o Brasil sai das urnas dividido. Não pretendo me posicionar publicamente. Vou ser coerente, não quero ser base de apoio nem oposição. Serei independente. Quero votar o que for do interesse do povo, serei favorável. O que não, serei oposição ferrenha.


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