O embate em torno do plano de governo do empresário Romeu Zema (Novo) e da influência do senador Aécio Neves (PSDB) na campanha do senador Antonio Anastasia (PSDB) deu o tom do debate entre os dois candidatos ao governo de Minas, transmitido ontem pela TV Record. Os adversários trocaram farpas em diversos momentos do programa, que tratou ainda de geração de empregos no estado, privatização de estatais, déficit no caixa e fake news.
Enquanto Zema acusou Anastasia de desvirtuar o significado de declarações feitas por ele à imprensa por “desespero” – o empresário lidera com folga as pesquisas de intenção de votos neste segundo turno –, o tucano chamou o adversário de “metamorfose ambulante”, que a todo instante altera “aberrações” incluídas em seu programa de governo, como a privatização de serviços públicos e da segurança em áreas rurais.
Ao reclamar da divulgação de fake news, Zema tentou aliar a imagem de Anastasia à do senador Aécio Neves. “Quando a gente vê os ataques baixos, dizemos ‘isso não tem cara do Anastasia. Parece ser coisa da turma do Aécio’”, afirmou Zema. Anastasia disse que as críticas são feitas a partir de declarações de Zema à imprensa e do plano de governo registrado no TRE-MG. No bloco destinado às perguntas de jornalistas, Anastasia ainda foi indagado sobre possível participação de Aécio em seu governo. Ele assegurou que o tucano cumprirá seu mandato de deputado federal, para o qual foi eleito no dia 7. “Reitero, Aécio Neves não está na minha campanha e não participará do meu governo”, assegurou o tucano, completando que, se eleito, terá um núcleo duro “extremamente técnico” na administração – ponto que ele disse ter em comum com o adversário.
A privatização de estatais e serviços públicos como saúde e educação tomou boa parte do debate. O programa de governo de Zema tem propostas neste sentido, e partiu dele a introdução do assunto ao perguntar a Anastasia sobre privatização de estradas mineiras. “As rodovias estaduais dificilmente podem passar por concessão porque têm pouco movimento. Podemos fazer parcerias público-privadas para alocar recursos do tesouro e ter pedágio menos oneroso para o cidadão”, afirmou Anastasia.
Polêmica sobre privatização
Na sequência, o tucano disse ser contra a venda da Copasa, Cemig e Codemig e entrega à iniciativa privada de serviços essenciais, como a saúde e educação. Zema rebateu a crítica ao afirmar que a privatização feita pelo PSDB no setor de telecomunicações significou melhor preço e prestação de serviço. O candidato assegurou ainda que a privatização “só vai ser feita se houver melhoria para a população”.
Em outro momento, Anastasia argumentou que leu “bem o plano de governo” onde diz que o poder público não deve ser o responsável direto pelo setor de saúde. O clima esquentou mais quando Anastasia questionou Zema sobre a privatização da segurança no campo – momento em que o empresário admitiu que vários pontos serão alterados. “Depois de percorrer cidades em Minas escutando as pessoas, vi que dá para mudar o plano de governo. Fiz o programa escutando as pessoas, não em escritório com secretária”, afirmou Zema. “Quem fala demais dá bom-dia a cavalo. Seu programa tem ‘aberrações’ que a cada momento o senhor diz que alguma coisa foi retirada”, rebateu Anastasia.
Zema questionou Anastasia sobre alternativas para gerar empregos em Minas – estado que tem hoje 1,5 milhão de desempregados. O tucano ressaltou a necessidade de criar um ambiente favorável à vinda de empresas para o estado, gerando postos de trabalho. E aproveitou para alfinetar o adversário. “Mas não podem ser subempregos, como aqueles que o senhor comentava há pouco, de R$ 300 no Vale do Mucuri não, mas empregos bem remunerados e que possam manter as famílias”, disse o tucano, referindo-se a entrevista concedida por Zema em que ele comentou sobre salários de R$ 300 para empregadas domésticas na região.
O assunto voltou à tona em uma pergunta sobre fake news. Zema disse que não defendeu o salário de R$ 300, apenas comentou. Segundo ele, a campanha adversária teria editado a entrevista para prejudicá-lo. “Basta ver o vídeo, reconheça que você foi infeliz na sua colocação”, argumentou Anastasia. Zema rebateu dizendo que não conseguirá levar empresas de tecnologia com salários de R$ 5 mil ou R$ 10 mil para a região.
Foi o bastante para Anastasia chamá-lo de preconceituoso e classificar sua declaração como mais “momento infeliz da campanha”. “Por que não pode ter uma empresa de tecnologia para pagar R$ 5 mil? Isso é preconceito.”
Novo confronto será na TV Alterosa na terça- feira
O empresário Romeu Zema (Novo) e o senador Antonio Anastasia (PSDB) estarão frente a frente na próxima terça-feira, a partir das 18h10, durante o debate promovido pelos Diários Associados, com transmissão ao vivo pela TV Alterosa e o Portal Uai. Os candidatos terão 1h10min para discutir os planos de governo, projetos e propostas para Minas Gerais, além de apresentar os motivos pelos quais merecem o voto dos mineiros.
O debate deste segundo turno será mediado pelo editor do Portal Uai, Benny Cohen, e terá três blocos: no primeiro, os candidatos responderão às perguntas de repórteres da equipe de política do Estado de Minas. Na sequência, Zema e Anastasia farão perguntas entre si a partir de temas sorteados pelo mediador. No terceiro bloco, os candidatos ao Palácio da Liberdade poderão fazer novas perguntas entre si, com tema livre.
Mais cedo
Desta vez, a emissora optou por uma transmissão mais cedo, no início da noite. “Penso que este horário, mais cedo que o usual para um debate entre candidatos, favorece a informação e o esclarecimento do público a respeito das propostas dos candidatos. Tenho expectativa de uma grande audiência neste dia”, argumenta Benny Cohen.
Romeu Zema e Antonio Anastasia foram os dois primeiros colocados no primeiro turno das eleições, em 7 de outubro, com 4.138.967 e 2.814.704, respectivamente. Ainda concorreram ao cargo o governador Fernando Pimentel (PT) – que tentou a reeleição e obteve 2.239.979 votos –, o presidente da Assembleia Legislativa Adalclever Lopes (MDB), Dirlene Marques (Psol), João Batista dos Mares Guia (Rede), Claudiney Alves (Avante), Jordano Carvalho (PSTU) e Alexandre Flach (PCO).
No primeiro turno das eleições, a TV Alterosa também realizou debate entre os concorrentes a governador de Minas. Participaram do programa os candidatos dos partidos com no mínimo cinco parlamentares no Congresso – segundo a legislação: PSDB, PT, MDB, Rede, Psol e Avante.
Desde a redemocratização do país, a emissora mantém a tradição de promover debates nas eleições para a PBH e governo de Minas, para que o eleitor conheça melhor os candidatos.