Segundo deputado federal mais votado de Minas Gerais, com 194 mil votos, Reginaldo Lopes (PT) espera duros embates no Congresso Nacional na próxima legislatura. Mesmo com a maior bancada eleita na Câmara, com 56 parlamentares, o PT terá adversários com propostas conservadoras.
Além do PSL, que fez a segunda maior bancada, com 52 deputados, partidos do Centrão mantiveram o espaço na Casa e devem se unir na defesa de pautas controversas, como fim das cotas, liberação da posse de arma de fogo e redução da maioridade penal.
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Bolsonaro: o PT é o próprio fake news -TSE atende Bolsonaro e barra propaganda eleitoral do PT sobre torturaBebianno: denúncia sobre mensagens é estratégia do PT para justificar derrota“Temos pulverização de partidos dentro da bancada mineira e, em vários temas, não teremos unidade ideológica, mas temos temas que são objetivos do estado e todos os deputados, como representantes de Minas, devem atuar conjuntamente”, diz o petista
Ele cita a necessidade de deixar as divergências partidárias de lado para garantir a cobrança de pautas para o estado: “Não é possível que vamos terminar mais quatro anos sem resolver o problema da BR-381”.
Nas últimas legislaturas, a bancada mineira enfrentou dificuldade para ter suas demandas atendidas pelo governo federal. Como você vê a formação da nova bancada mineira na Câmara? Terá força para cobrar recursos para o estado?
Do ponto de vista do programa para o país, essa situação dependerá muito do próximo presidente da República. Espero que a bancada tenha unidade suprapartidária a favor dos interesses e objetivos de Minas. Nos últimos anos, Minas sofreu com a dificuldade de interlocução do governo Temer. Os interesses do estado foram completamente deixados de lado nesses últimos anos. E Minas não vai superar a crise fiscal se não tiver parceria e acordos republicanos com o governo federal.
Nos últimos anos os interesses partidários atrapalharam. O senhor acha viável essa união da bancada mineira? O que acha do perfil dos novos deputados mineiros eleitos?
Tivemos nessa eleição pulverização de partidos dentro da bancada e vários temas, realmente, não teremos como ter qualquer unidade ideológica entre os 53 deputados. Mas temos outros temas que são objetivos do estado e que afetam a população. Todos os deputados, como representantes dessas demandas, devem atuar conjuntamente, buscando unidade.
Qual é o caminho para conseguir tirar do papel as demandas do estado?
O maior problema de Minas hoje é resolver o déficit fiscal. O segundo desafio é que temos que voltar a fazer as obras de grande impacto. Pretendo defender mudança no modelo econômico, com ousado programa de obras públicas. Seria a forma de melhorar a empregabilidade no país e melhorar a arrecadação nos estados. Defendo que esse programa invista, em todo o país, cerca de R$ 2 trilhões nos próximos quatro anos. Essa é minha visão como economista, não só como deputado. A retomada de grandes investimentos pode gerar dois milhões de empregos por ano. Além de movimentar a economia, resolveria os gargalos do Brasil.
Mas, neste cenário de crise, União e estado sem dinheiro, de onde sairão recursos para retomar as obras públicas?
Isso dependerá de qual presidente será eleito e qual modelo econômico será implantado a partir do ano que vem. Infelizmente, não tenho esperança de retomar os gastos públicos caso o deputado Jair Bolsonaro seja eleito. Porque ele e sua equipe defendem o modelo errado da política do Estado mínimo. Ele defende a ideia de que o Estado não deve ser indutor do crescimento econômico e deixa tudo para o setor privado. Essa é uma farsa, uma mentira que nunca deu certo em lugar nenhum do mundo e em nenhuma época da história. Quando a economia está estagnada, é fundamental que o Estado a faça voltar a girar.
Nesta eleição houve crescimento de bancada de outsiders da política. Muitos deles defendem pautas polêmicas, como liberação do porte de armas, fim das contas em universidades, entre outras. Como será a relação entre os partidos da esquerda com a nova bancada conservadora?
Essas são propostas que nunca deram certo em lugar nenhum do mundo. O deputado Bolsonaro foi meu colega na comissão parlamentar de violência contra os jovens e negros, não apresentou proposta nenhuma. O campo da segurança pública se tornou espaço da demagogia e do populismo, o que não resolve os problemas da violência. A turma do PSL e a bancada da segurança pública não terão condições de fazer esse debate. A maioria deles pensa apenas em questões corporativas. É um delegado que protege um investigador, é um coronel que protege um pracinha.
Como o PT avaliou a derrota do governador Pimentel e da ex-presidente Dilma nesta eleição? Onde o partido errou para não conseguir eleger duas lideranças?
Quando me candidatei a prefeito de Belo Horizonte, falei dos erros do partido. O PT participou de um modelo eleitoral que não foi criado pelo partido, mas sim pelas elites brasileiras há décadas e décadas. Todos os partidos cometeram o mesmo erro neste sistema, mas o problema é que houve um processo de criminalização seletiva. O PT foi o partido que mais combateu a corrupção, criando mecanismos para apurar denúncias e incentivando a transparência. Ainda assim houve a lógica de criminalizar o PT. Até a criminalização da política de forma geral teve sua conta entregue de forma mais pesada no PT. Isso é péssimo para a democracia. Além disso, neste ano fomos surpreendidos com a organização de uma rede via WhatsApp de disseminação de fake news. Os nossos adversários se organizaram nessas redes de mentiras desde 2013 e fizeram um trabalho de desconstruir a imagem das pessoas. Vamos ter que nos organizar melhor daqui para frente e, evidentemente, o partido faz constantemente uma autocrítica e uma revisão programática..