No dia seguinte à realização do primeiro turno das eleições, a psicóloga Tatiana Bacic Olic atendeu dez pacientes em sua clínica, em São Paulo. Naquela ocasião, todas as consultas, sem nenhuma exceção, foram pontuadas pelas angústias e medos despertados pelo ambiente político do País. "Muita gente chegou dizendo que não conseguia dormir, com crises de choro, deprimidas ou mesmo tomando medicamentos."
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Missão de observação eleitoral da OEA retorna ao Brasil para acompanhar 2º turnoBolsonaro age para não ficar na defensiva na semana final para o 2º turnoEleitor que não compareceu ao primeiro turno deve votar no segundo, afirma TRE BTG/FSB mostra Bolsonaro com 60% dos votos válidos e Haddad com 40%Eleitores de Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL) que buscaram ajuda de psicólogos e terapeutas nas últimas semanas estão com medo do "dia seguinte", do futuro imediato e das consequências sociais e econômicas de uma eleição marcada pela polarização e negação do outro. "Minha família procurou ajuda profissional porque o emocional está muito instável em casa. Meu irmão menor está assustado porque ouviu seus colegas falando sobre porte de arma em sala de aula; minha mãe chora todo dia e fala em ir embora do Brasil; fui ameaçada no Facebook por ser contra o Bolsonaro e meus amigos estão com medo de uma ditadura", afirma uma estudante de 18 anos que, assim como outros pacientes, optaram pelo anonimato.
A psicóloga Flávia Eugênio conta que conversou com pacientes que estavam emocionalmente paralisados com receio até de andar na rua e de outras situações cotidianas.
A terapeuta Maria Vicente, do coletivo Escuta Sedes, afirma que tem acompanhado o aparecimento "das fantasias mais primárias relativas ao desamparo e à vulnerabilidade frente às ameaças que se apresentam". Para ela, chama atenção a presença de sofrimentos mais regressivos, como perturbações importantes e repentinas do sono (como insônias e pesadelos). Ainda segundo Maria, podem ser detectados casos de perda de apetite, de vitalidade e da capacidade de enfrentar desafios corriqueiros da vida.
Medos
Um empresário de 49 anos, eleitor de Bolsonaro, disse que as incertezas econômicas produzidas por uma imaginária vitória de Haddad são motivos de insônia e angústia. "Eu fico pensando nas empresas que podem deixar o País, fico pensando na crise que pode estourar se acontecer isso ou aquilo, fico pensando em como vai ficar a minha família em um ambiente econômico caótico", diz. Ele confessou que já tem tomado remédios para dormir e que foi aconselhado a evitar o noticiário político.
Já um comissário de bordo de 36 anos, eleitor de Haddad, conta como a eleição interrompeu um longo processo de reaproximação entre ele e o pai. "Sou homossexual, mas meu pai nunca aceitou.
Para a psicóloga Adriana Burani Venceslau, "o papel do terapeuta não é o de fazer uma intervenção política, mas ajudar o paciente a descobrir o que foi deflagrado pelo ambiente atual". Ou seja, ajudar a desvendar as questões que já estavam pendentes nos relacionamentos e que vieram à tona, tendo como gatilho uma discussão que, na superfície, era "apenas sobre política."
Empatia
O quadro de desequilíbrio emocional ficou tão evidente que psicólogos e terapeutas de diversas correntes estão promovendo as chamadas rodas de conversa e acolhimento. As ações funcionam como grupos de terapia coletiva - e são ações abertas e gratuitas.
Segundo Tatiana Olic, a ideia é tentar fortalecer a ideia de "pertencimento". "Nesse momento, as pessoas precisam entender que não estão sozinhas, que ainda existe empatia e possibilidade de diálogo", afirma ela..