“O modelo do meu homônimo, o Paulo Guedes do Bolsonaro, de vender tudo e cortar programas sociais vai aumentar a recessão do Brasil.” A análise é do deputado estadual Paulo Guedes (PT), quarto deputado federal mais votado em Minas, com 176 mil votos.
Estreante em Brasília no ano que vem, o petista prevê um duro embate no Congresso Nacional nos próximos quatro anos, com um Parlamento dividido e pautas controversas no caminho da próxima legislatura.
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O senhor é deputado há 12 anos em Minas Gerais, mas chega a Brasília pela primeira vez. O que espera do trabalho na Câmara dos Deputados?
Vou manter uma relação de proximidade com minhas bases e continuar acompanhando as cobranças que partem delas. São muitas demandas abertas e nem tudo a gente conseguirá resolver, mas posso dizer que nesses três mandatos de deputado na Assembleia Legislativa consegui tornar realidade muitas demandas. Agora na Câmara, em Brasília, quero ter uma atenção especial aos problemas das cidades mais pobres de Minas Gerais. Nasci em São João das Missões, cidade mais pobre do estado.
Mas diante da falta de recursos da União, do estado e das prefeituras, como transformar essas promessas de campanha em realidade?
A falta de recurso é um problema que resulta de um modelo econômico adotado após o golpe contra a presidente Dilma. Há dois anos o governo federal corta de quem tem menos. E esse modelo não tem funcionado. Ao contrário do que fala o meu homônimo, o Paulo Guedes do Bolsonaro, nós precisamos de políticas para que as pessoas voltem a consumir, para ter distribuição de renda, para gerar oportunidades para a população, dar crédito para as pessoas, financiar suas lavouras, financiar seu poço artesiano, reformar suas casas.
Nesta eleição tivemos muitos políticos tradicionais derrotados e muitos dos que foram eleitos defendem bandeiras conservadoras, são os outsiders da política. Como será a relação nesse Congresso a partir de 2019?
Teremos um Congresso ainda pior no ano que vem. Só espero que os que chegam nessa onda conservadora e os novatos não usem os mesmos mecanismos para fazer política como fizeram os parlamentares do Centrão, que são as chantagens aos governos. Tinha uma turma que estava em todos os governos, inclusive nos governos do PT. Porque ninguém governa sem o Congresso. Se o Haddad for presidente, acredito que teremos uma relação mais democrática. Já com o fascismo do Bolsonaro é uma grande dúvida sobre como vai ser a relação com o Congresso na prática. Estamos um pouco assustados e no momento é difícil fazer um prognóstico sobre como será a partir de 2019.
Nesta eleição, O PT teve duras derrotas em Minas, sem a reeleição do governador Fernando Pimentel e da ex-presidente Dilma. O que o partido poderia ter feito diferente?
No caso de Minas, governar um estado falido é complicado. Pimentel foi vítima de um sistema. Pegou um caixa com déficit de R$ 7 bilhões, muitas dívidas e despesas crescentes e receitas decadentes. Nenhum governo sobreviveria a uma situação dessa. Ele perdeu a eleição, mas no Norte de Minas, por exemplo, ganhou. A dificuldade maior foi nos grandes centros.
A liberação da posse de armas de fogo, a redução da maioridade penal e o fim das cotas em universidades são algumas das bandeiras defendidas pela bancada do PSL. Como o senhor vê a possibilidade de o Congresso votar esses temas polêmicos?
Vejo com muita preocupação. Não temos a noção do que significará a liberação do uso de armas no Brasil. A própria classe média que apoia Bolsonaro vai ser vítima de uma mudança como essa. Vamos ver uma escalada da violência e um risco cada vez maior para as pessoas. A violência já começou, vemos todos os dias gente espancando homossexuais e mulheres. Um absurdo. Sobre as cotas, por exemplo, vemos uma parte da sociedade completamente egoísta. Bolsonaro falou que não aceitaria entrar em um avião pilotado por algum cotista, algo de um preconceito fora do comum. Venho de uma família pobre, e se não tivesse oportunidades na vida, de me expressar, de agir e de crescer, estaria hoje cortando cana. Ninguém nas regiões pobres teria qualquer expressão nunca. Nosso adversário defende posições contrárias aos direitos sociais e até contrárias à democracia. Conviver com essas tendências será muito difícil a partir do ano que vem. Vamos ter que lutar pela defesa das conquistas sociais. Defender a Constituição, não aceitar mudanças que venham prejudicar os trabalhadores, as garantias sociais e dos programas que mudaram a vida dos trabalhadores. Vamos brigar para não ter retrocessos.
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