Jornal Estado de Minas

PT inicia movimento para compor a oposição a partir da próxima segunda


A cinco dias do segundo turno, petistas mais pragmáticos sabem da dificuldade de vitória no próximo domingo contra o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL). E, assim, iniciam um movimento para compor a oposição a partir da próxima segunda-feira (29), o primeiro dia do chamado governo de transição — que vai até a eventual posse do capitão reformado do Exército, em 1º de janeiro.

Nos bastidores da campanha, a principal preocupação é com a quantidade de votos recebidos pelo ex-prefeito Fernando Haddad. Caso o percentual total nas pesquisas de intenção de voto, cerca de 35%, seja mantido ou mesmo ampliado nas urnas, a cúpula do PT acredita que é possível marcar posição contrária a propostas do candidato de direita. Com números abaixo desse patamar, o trabalho torna-se mais difícil, dada a rejeição da legenda entre os eleitores, o que implicaria estratégia de longo prazo.

“Mais do que uma eleição, o que está em jogo é a força com que o partido vai sair das urnas. E isso depende do número de votos contrários a Bolsonaro, mesmo que ele ganhe a corrida”, disse um integrante da cúpula petista que preferiu manter o anonimato.

A chegada ao segundo turno levou o PT a um respiro, mesmo sabendo das dificuldades da continuação da campanha. A própria eleição da bancada de deputados federais do partido — ao todo 56, com uma redução de 13 cadeiras — levou os petistas a comemorarem uma possível polarização com o PSL, por exemplo.
O problema está no isolamento do PT, até o início desta semana, em relação a partidos como o PDT, de Ciro Gomes, que, a partir de expectativa iniciais, criariam uma frente única para enfrentar Bolsonaro.

“O acordo não ocorreu, entre outros pontos, porque o cálculo do ex-governador do Ceará é se colocar como o principal nome da oposição”, disse um assessor do PT que acompanha os bastidores da legenda.

Competitivo, Ciro terminou a eleição à frente de Geraldo Alckmin (PSDB) e só não recebeu o apoio do PSB ainda no primeiro turno por uma imposição do governador de Pernambuco, Paulo Câmara, que precisava tirar do caminho a petista Marília Arraes na disputa pelo Palácio das Princesas, entregando, em troca, a neutralidade na corrida presidencial. Nada impede que a relação com Ciro — que, em 2022, estará com 64 anos — seja retomada pela legenda nos próximos meses.

A dificuldade para o PT nesse arco de alianças é ter ficado apenas com o PCdoB, que, apesar de ter elegido nove deputados, deve cair na cláusula de barreira, perdendo recursos do fundo partidário. No Senado, a legenda agora terá um campeão de votos, o baiano Jaques Wagner, que chega à Casa como principal nome petista — sobretudo, com a ausência da ex-presidente Dilma Rousseff, derrotada de forma fragorosa em Minas Gerais.

Wagner deve funcionar como motor para mudanças de rumo do PT, inclusive em relação à onipresença de Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba há 200 dias. A ausência do comandante de honra da legenda nos debates públicos nos próximos meses deve acelerar esse processo, por mais que apareçam resistências vindas da Câmara, principalmente de Gleisi Hoffmann, presidente do PT, atual senadora e deputada eleita pelo Paraná.

Wagner já disse que Ciro seria um candidato mais aguerrido, mostrando abertura para o diálogo nas próximas eleições. A preocupação da cúpula do PT, porém, é com o comportamento de Haddad a partir da eventual derrota.

No fim da corrida pela reeleição à prefeitura de São Paulo, o petista voltou para o universo acadêmico e, nas conversas iniciais para a construção da candidatura ao Planalto, se mostrava resistente, preferindo disputar cargo no Legislativo.
“Apesar de sair com milhares de votos neste segundo turno, a reação futura de Haddad à frente da legenda é que vai determinar os próprios movimentos”, disse um petista.

Voo próprio

O discurso de Cid Gomes, irmão de Ciro, nos primeiros dias depois do primeiro turno, provocando petistas, em Fortaleza, foi visto como um claro sinal de que a família cearense pretende manter voo próprio nos próximos quatro anos. Enquanto Haddad esperava uma demonstração de apoio, Ciro viajou para a Europa, isolando qualquer chance de entrar na campanha — mesmo que tenha feito um movimento se dizendo contrário a Bolsonaro, na noite de 7 de outubro, ao admitir a derrota..