O presidenciável Fernando Haddad (PT) tem testado diferentes estratégias para conseguir os votos que faltam para chegar ao Palácio do Planalto, mas a chance de que ele vire o jogo é baixa, na visão de especialistas. Para ganhar a eleição, o petista precisa reverter a diferença de 15 milhões de votos que o separa de Jair Bolsonaro (PSL), segundo as pesquisas.
Isso significa conquistar, pelo menos, 1,5 milhão de votos válidos por dia até domingo, quando os brasileiros irão novamente às urnas — e esses votos têm de sair do total recebido até agora pelo adversário. Pesquisa Ibope divulgada nessa terça-feira (23) mostra que Haddad tem 43% dos votos válidos (descartados nulos e brancos), o que equivale a 46 milhões de eleitores, caso seja mantida a mesma abstenção do primeiro turno, quando 20,3% não foram às urnas. Está, portanto, 14 pontos atrás de Bolsonaro, que lidera a corrida com 57% — 61 milhões de votos, se usada a mesma métrica.
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Presidente do PSL já fala em equipe de transição de BolsonaroPróximo presidente terá o desafio de negociar medidas impopularesPT inicia movimento para compor a oposição a partir da próxima segundaMesmo se o petista conquistasse todos os indecisos — 3,1 milhões, segundo a pesquisa Ibope de ontem, mantida a abstenção do primeiro turno —, seria insuficiente para virar.
“Já se admite que possa haver uma subida nos últimos dias. Mas mesmo se, no esforço final, ele conseguir avançar para 45% ou 46%, ainda é improvável que chegue a 50% mais um e ganhe”, avalia. A chance é “muito baixa”, segundo ele, porque as pesquisas mostram um nível de aderência maior a favor de Bolsonaro: 37% dos entrevistados dizem que votam no capitão reformado “com certeza”, contra 31% entre os eleitores do professor.
Rejeição
Nem o apoio, considerado tardio, de Marina Silva (Rede) e José Maria Eymael (DC), divulgados na última segunda-feira, deve fazer diferença a essa altura. Juntos, eles tiveram 1,1 milhão de votos no primeiro turno, menos do que Haddad precisaria por dia para decolar. Além disso, nem todos os eleitores migram para o candidato do PT — ainda menos este ano, devido ao crescimento do antipetismo.
O terceiro colocado na primeira fase do pleito, Ciro Gomes (PDT), que teve 13,3 milhões de votos, também é contrário a Bolsonaro, mas não se engajou na campanha para o PT, o que pode ter limitado a transferência de votos, porém, não a ponto de mudar o quadro, segundo especialistas. O cientista político César Alexandre de Carvalho, da CAC Consultoria, ressalta que Haddad não precisaria apenas tirar votos do candidato do PSL, mas avançar em regiões difíceis para o petista, como o Sudeste. “Ele perde em Minas Gerais, no Rio de Janeiro e em São Paulo, os três maiores eleitorados do país”, observa. Até no Nordeste, historicamente um reduto do PT, Haddad tem apoio menos expressivo do que tiveram candidatos anteriores da sigla. Em 2014, no primeiro turno, Dilma Rousseff conseguiu 16,3 milhões de votos na região. Este ano, Haddad teve 14,5 milhões.
Para que o cenário mude até domingo, é preciso que haja um fato novo de muita repercussão, o que não aconteceu até agora, aponta Carvalho. A denúncia de que empresários teriam pago agências para divulgar notícias falsas em benefício de Bolsonaro não foi suficiente para que ele despencasse nas pesquisas.
As estatísticas de eleições passadas vão na mesma direção do que afirmam os especialistas. Em 2014, a cinco dias do segundo turno, Dilma tinha 52% das intenções de votos válidos, contra 48% de Aécio Neves (PSDB), pela pesquisa Datafolha. Dois dias depois, pelo Ibope, o placar era de 54% contra 46%. No fim das contas, a petista foi reeleita com 51,64%, contra 48,36% do tucano, praticamente o que havia sido previsto cinco dias antes. “A mobilidade dos votos no segundo turno é menor. O cenário já está mais consolidado”, afirma Carvalho..