Tão logo postou uma foto ao lado do candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL), a atriz Regina Duarte viu sua página no Instagram ganhar 300 mil seguidores em apenas quatro dias. Nas ruas, é festejada e cumprimentada, tornando-se um dos raros nomes da classe artística a abraçar a candidatura bolsonarista. "Ele tem uma alma democrática", garante Regina, que interpreta as declarações consideradas homofóbicas e racistas do candidato como frutos de um homem com um "humor brincalhão típico dos anos 1950, que faz brincadeiras homofóbicas, mas que são da boca pra fora, coisas de uma cultura envelhecida, ultrapassada".
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Quando você se sentiu à vontade para falar de Bolsonaro?
Foi há uns dois ou três meses. Eu estava "no armário", e meu filho mais novo começou a me contestar: já que sempre fui uma pessoa democrática, aberta, justa, como eu podia me fechar no conceito de que Bolsonaro é bruto, tosco, ignorante, violento. "Você já chegou perto dele?" Respondi: "Não preciso me aproximar, sinto que é o candidato da raiva, da impotência, do ódio, contra a corrupção e não quero votar no emissário da raiva".
Bolsonaro passa a imagem de ser truculento quando o assunto é homossexualidade, feminismo, quando fala sobre índios e nega efeitos negativos da ditadura.
São imagens montadas, pois mostram a reação dele, mas não a de quem provocou a reação. É unilateral. Quando souberam que ele ia se candidatar, começaram a editar todas as gravações e também a provocá-lo para que reagisse a seu estilo, que é brincalhão, machão.
Você abriu uma porta para outros artistas ao defender abertamente o Bolsonaro?
Alguém me falou que eu estou fazendo muito artista sair do armário, o voto envergonhado. Hoje, se tivesse de dizer alguma coisa para a juventude, usaria minha experiência do depoimento de 2002, quando disse ter medo do Lula. Eu estava completamente alienada, pois o Lula já havia ganhado a eleição. Aí fui botar a cara na TV, feito uma tonta, para falar de um sentimento, de uma intuição tão particular.
Qual deveria ser o primeiro passo do novo governante?
Resolver a impunidade, que é inadmissível, pois não se acaba com a violência em um país de impunidade. Meu filho perguntou por que eu estava novamente me envolvendo com política. Respondi que era por ele, pelos filhos dele e por todos nós. Não quero angariar votos para o Bolsonaro, até porque ele não precisa. Mas porque quero ficar com a consciência em paz, ao gritar em nome dos sem voz, dos milhões de brasileiros humilhados por não poderem dar um berro de dor e indignação. É como assinar um cheque em branco. Mas prefiro um cheque em branco da esperança.
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