Jornal Estado de Minas

POLÍTICA

Cruzamento inédito revela como votou cada vizinhança

No primeiro turno, os eleitores que fizeram fila para votar na Escola Estadual Professor João Borges, no Tatuapé, zona leste da cidade de São Paulo, deram a Jair Bolsonaro (PSL) 66,6% dos votos, e apenas 3% para o petista Fernando Haddad. Foi lá que o capitão reformado teve seu melhor desempenho entre todos os 1.953 locais de votação da capital, segundo um mapa inédito e ultradetalhado dos resultados eleitorais.

Desenvolvido a partir de uma colaboração entre as equipes de infografia e de dados de O Estado de S. Paulo, o mapa revela como votou cada vizinhança de São Paulo e também do restante do País. Além disso, a metodologia inédita permite avaliar características de renda, raça, gênero e escolaridade em cada microrreduto eleitoral.

Na capital paulista, o mapa revela que Bolsonaro, no primeiro turno, ficou à frente dos adversários em 1.743 locais de votação - 89% do total. Já Haddad ganhou em 205, o que equivale a pouco mais de 10%. Ciro Gomes (PDT) venceu em cinco vizinhanças, e Geraldo Alckmin (PSDB), cujo eleitorado pendeu para o bolsonarismo, ficou sem nenhum reduto.

O cruzamento dos dados eleitorais com os do Censo de 2010 revela o eleitorado mais típico de cada candidato. No caso de Bolsonaro, existe correlação positiva entre renda e voto - quanto mais rica a vizinhança, maior a votação no candidato do PSL.

Mas outras características demográficas, além da tradição política de cada bairro, influenciam os resultados.

Diferentemente de Aécio Neves, que em 2014, ao enfrentar o PT, teve melhor desempenho nas áreas mais ricas da cidade, Bolsonaro foi melhor em regiões de renda não tão alta, mas de perfil conservador, como Mooca e Tatuapé, ambos na zona leste.

Nos arredores da escola onde Bolsonaro teve a maior votação proporcional da cidade, por exemplo, a renda média não chega a um terço da verificada em áreas nobres dos Jardins. Mas verifica-se baixa diversidade étnica (pretos e pardos são apenas 7%) e baixa concentração de jovens de até 24 anos (a taxa é inferior a 14%, metade da registrada na periferia).

Já a vizinhança onde Haddad se saiu melhor, com 53,5% dos votos, é a dos arredores da Escola Estadual Dom Agnelo Cardeal Rossi, na Vila do Sol, perto da represa Guarapiranga, na zona sul da capital. Lá, a população preta e parda forma a maioria (63%), e um quarto dos moradores são jovens de até 24 anos. A renda média equivale a cerca de um quarto da registrada na vizinhança do Tatuapé onde Bolsonaro venceu com maior folga.

A votação de Haddad se desenha na cidade seguindo um padrão histórico de seu partido. Ele venceu em zonas eleitorais dos extremos sul e leste da capital. O mapa das vizinhanças, porém, revela que há ilhas petistas no centro, e também que há bolhas bolsonaristas em bairros do extremo sul.

Ciro Gomes, do PDT, não chega a ter redutos em São Paulo, mas quando se observa seu desempenho pelas vizinhanças dos locais de votação, pode-se afirmar que há um pequeno Ceará no eixo Butantã, Pinheiros e Vila Madalena. O candidato do PDT venceu em locais de votação de alta renda e maioria branca, com universidades e áreas boêmias.
Foi no entorno da escola particular Vera Cruz que Ciro teve seu melhor desempenho: 36,7% dos votos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo..