A chegada do capitão, classificado em 69º na Arma de Artilharia da turma de 1977 da Academia Militar da Agulhas Negras (Aman), reacendeu nos oficiais-generais das três Forças e em pesquisadores acadêmicos temores da volta da política partidária para os quartéis, um dos componentes da instabilidade que marcou a República da proclamação, em 1889, ao fim do regime inaugurado em 1964 com a deposição de João Goulart.
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Jair Bolsonaro é eleito presidente do BrasilBolsonaro se compromete em respeitar Constituição e diz que cortará privilégiosARTIGO: 'Campanha virtual, resultado real'Resultado eleitoral refletiu pesquisas feitas pelo IbopeNa quarta-feira, 24, o Alto Comando das Forças Armadas discutiu o significado da eleição de Bolsonaro para a Marinha, o Exército e a Aeronáutica.
O afastamento dos militares da política foi um processo iniciado no governo de Castelo Branco (1964-1967). Ele fez reformas nas carreiras castrenses que aumentaram a profissionalização das Forças. A ditadura, como um regime de crise, lutou com um dos principais conflitos institucionais da República: a autonomia relativa do Poder Militar em relação ao Poder Civil. De 1889 a 1985, a subordinação do primeiro ao segundo foi questionada por incontáveis manifestos e dezenas de revoltas, golpes e contragolpes militares.
"Esta é uma linha comum a todo esse período republicano", disse o historiador Sérgio Murilo Pinto, autor de Exército e Política no Brasil. As reformas de Castelo e o fim da guerra fria contribuíram para que, após a redemocratização, em 1985, pela primeira vez na República, o País vivesse um período de mais de 30 anos sem movimentos militares.
A figura de Bolsonaro - ligada aos militares - cria para os generais ainda o desafio de não permitir que percalços do futuro governo afetem a imagem das Forças. "Isso nos preocupa", diz Lessa. Para um almirante, Bolsonaro se cercou de "bons nomes retirados do generalato e que estão trabalhando nos programas prioritários setoriais - mas isso é diferente de governar". Na Aeronáutica, um ex-membro do Alto Comando lembra que o compromisso do setor tem "como fundamento a missão com o Estado, definida na Constituição".
Risco
Para o cientista político Eliezer Rizzo de Oliveira há risco de a política partidária voltar aos quartéis. "Há diferença entre um governo com militares e um governo militar. Mas temos uma situação nova, que é o surgimento de uma liderança carismática (Bolsonaro)." Para ele, essa situação pode multiplicar lealdades e alternativas, com o surgimento de novas candidaturas militares de forma semelhante ao fim da Era Vargas (1930-1945), quando a política dividiu as Forças Armadas nas candidaturas de Dutra (PSD) e do brigadeiro Eduardo Gomes (UDN).
As Forças Armadas ficaram divididas até o golpe de 1964. "O Exército atuava para não permitir que a política tomasse rumos contrários ao que ele pensava sobre o País", diz Murilo Pinto.