Jornal Estado de Minas

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Paulo Guedes, um ultraliberal para um presidente de direita


Poucas coisas definem melhor o pensamento e as propostas de Paulo Guedes, guru econômico do presidente eleito do Brasil Jair Bolsonaro e que será o ministro da Fazenda, como a sua visão do Estado: quanto menor, melhor.

É que este ex-professor, fundador de centros de estudo econômico, de bancos e portfólios de investimentos, é um ultraliberal purista.

Suas ideias e promessas explicam por quê a Bolsa de São Paulo aderiu com entusiasmo à candidatura de Bolsonaro.

Formado no Brasil, mas moldado no berço do liberalismo econômico moderno, a Universidade de Chicago, onde fez seu mestrado e doutorado, este homem de 69 anos sempre foi um ativo promotor de sua crença: abertura econômica, redução de impostos e simplificação da estrutura fiscal.

Talvez por isso a sua aproximação com Jair Bolsonaro, com um histórico de protecionismo, tenha chamado a atenção. Inclusive chocou os que entendem que o protecionismo histórico brasileiro não entra no dicionário de nenhum liberal ortodoxo.

Bolsonaro solucionou a questão com uma resposta simples: "Na verdade, não entendo de economia", confessou ao jornal O Globo.

"A última que disse que entendia (de economia) foi Dilma (Rousseff) e afundou o país", declarou Paulo Guedes durante uma conferência em janeiro, segundo relatou o jornal Folha de S.Paulo.

'Superministro' privatizador

Guedes rapidamente surgiu como um colaborador de peso em um gabinete do Partido Social Liberal (PSL) o capitão reformado Bolsonaro.

Um "superministro" que poderia unir sob o seu comando as atuais pastas de Fazenda, Indústria e Comércio, Planejamento e a secretaria encarregada de Associações e Investimentos do Estado.

Bolsonaro recuou e durante a campanha afirmou que iria rever a fusão do ministério da Indústria com o da Fazenda se for interesse de empresários e do país.

Com um semblante sério e uma expressão que beira a preocupação, Paulo Guedes é o homem a quem Bolsonaro espera entregar a difícil tarefa de tirar o Brasil de dois anos de recessão e outros dois de baixo crescimento.

Seus desafios: diminuir o déficit fiscal e reverter a trajetória de crescimento da dívida pública, que passou de 58% do PIB em 2013 para 77,3% do PIB atualmente, e que, sem reformas, poderia chegar a 140% em 2030, segundo o Banco Mundial.

Guedes traz uma receita de seu manual de Chicago debaixo do braço: "Reduzir a dívida pública em 20% mediante privatizações, concessões" e a venda de propriedades estatais.

No domingo à noite, após a vitória de Bolsonaro, afirmou que o Brasil vai "mudar o modelo econômico social-democrata", que para ele é sinônimo de impostos altos, juros elevados e pouca abertura comercial.

Um projeto delicado em um país onde os serviços públicos são parte da cultura e tradição.

Bolsonaro teve inclusive que explicar que as atividades centrais da Petrobras e a geração de energia de Eletrobras não serão vendidas.

Paulo Guedes também é partidário de uma transição do atual sistema previdenciário para um regime de capitalização ou cotações individuais. Um modelo similar ao do Chile, onde o assessor de Bolsonaro atuou como professor universitário nos anos 1980, durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1989).

A convivência entre Guedes e Bolsonaro já teve algumas desavenças.

Em setembro, o assessor deixou os empresários de cabelo em pé ao dizer que poderia ressuscitar um imposto sobre as transações financeiras (CMPF), excetuando as da Bolsa, em substituição a cinco taxas.

Bolsonaro teve que intervir para apagar o incêndio.

"O presidente serei eu. Tratei esse assunto com ele.
Ele falou que foi um ato falho. Ele quer diminuir a quantidade de impostos", explicou esta semana em uma entrevista com uma rádio de Pernambuco. E insistiu: "Teremos um ministro, sim, mas, acima dele, tem um comandante e esse comandante chama-se Jair Bolsonaro",
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