A confirmação do nome do juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato em Curitiba, como futuro ministro da Justiça no governo de Jair Bolsonaro movimentou o mundo político nesta quinta-feira, 1º de novembro. Pelo Twitter, o presidente eleito afirmou que a agenda anticorrupção do juiz, bem como seu respeito à Constituição e às leis, serão o norte do futuro governo.
O "sim" dado por Moro pessoalmente a Bolsonaro, após reunião na casa do presidente eleito, no Rio, foi seguido de uma ampla repercussão pró e contra a decisão do magistrado.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1994-2002) escreveu que Moro é um "homem sério", mas comentou que preferia vê-lo no Supremo Tribunal Federal (STF). "Fusões de ministérios sim, com prudência. Já vimos fracassos colloridos. Torço pelo melhor, temo que não, sem negativismos nem adesismos. A corrupção arruína a política e o país. Se Moro a combater ajudará o país".
Para o governador eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), o juiz é um "patrimônio moral do Brasil". Segundo o tucano, "ter o juiz Moro como Ministro da Justiça dignifica o governo Bolsonaro e sinaliza um novo caminho de transparência e verdade na política brasileira".
Deputada estadual mais votada nessa eleição, com 2 milhões de votos, a jurista Janaína Paschoal (PSL-SP) afirmou à reportagem que Moro no Ministério da Justiça constitui um "sinal de que o processo de depuração do País, iniciado com o impeachment, vai ter seguimento".
Também do partido de Bolsonaro, a jornalista Joice Hasselmann, eleita deputada federal por São Paulo, fez um post nas redes sociais para dizer que a "luta contra a corrupção não foi apenas um discurso de campanha". Ele afirmou que "Brasília está tremendo de medo! E muitos estão com inveja da astúcia política de Jair Bolsonaro. Foi também um nocaute na campanha para denegrir Jair Bolsonaro fora do Brasil", escreveu.
Integrante do MBL, o vereador paulistano Fernando Holiday (DEM-SP) afirmou que a notícia de que Sergio Moro aceitou o Ministério da Justiça é magnífica. "Pela primeira vez desde a redemocratização, a pasta não será ocupada por indicação partidária. Agora, ele terá um papel fundamental não só no combate à corrupção, mas também no combate ao crime organizado."
Mas a escolha de Bolsonaro também rendeu críticas nas redes. A ex-presidente Dilma Rousseff (2010-2016) afirmou que Moro condenou e determinou a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva "sem provas" e inviabilizou a sua candidatura. "Agora, anuncia que largará a magistratura para ser ministro do governo que viabilizou a eleição com suas decisões. O rei está nu", escreveu.
O senador petista Lindbergh Farias lembrou que Moro prendeu o ex-presidente Lula e atuou com "afinco" para impedi-lo de concorrer. "Poucas coisas podem ser mais descaradas do que isto. Sempre alertamos que Moro atuava como militante, e não como magistrado. Depois de interferir no processo eleitoral, vira ministro do candidato beneficiado por ele. Em qualquer lugar do planeta isso seria um escândalo."
O candidato derrotado pelo PT, Fernando Haddad, afirmou que o conceitos de democracia e de república "escapam" à elite do país, e que haverá incompreensão sobre o anúncio do novo ministro. "O significado da indicação de Sérgio Moro para Ministro da Justiça só será compreendido pela mídia e fóruns internacionais", criticou.
Também candidato derrotado, Guilherme Boulos (PSOL) afirmou que o magistrado assumiu sua condição de "político profissional". Ele esclareceu que não há problema em um juiz deixar a magistratura para fazer política. "O problema é ter passado alguns anos fazendo isso vestido de toga. Mais do que nunca, suas decisões estão colocadas sob suspeição".
Presidente do PT, Gleisi Hoffmann afirmou que Moro foi "decisivo" para a eleição de Bolsonaro ao impedir Lula de concorrer. "Denunciamos sua politização quando grampeou a presidenta da República e vazou pra imprensa; quando vazou a delação de Palocci antes das eleições. Ajudou a eleger, vai ajudar a governar", declarou.
Em seu perfil oficial, o PT escreveu que a "parcialidade" de Moro foi recompensada. "Primeiro Moro vazou ilegalmente um grampo de Dilma, depois prendeu o candidato adversário, Lula, vazou delação premiada fajuta pra prejudicar Haddad às vésperas das eleições e, agora, aceita ser 'super' ministro da Justiça de Bolsonaro", diz a nota.
Orlando Silva, deputado federal do PCdoB-SP, qualificou como "inacreditável" a decisão do juiz. "Pior, já há compromisso público de ser designado ministro do STF na primeira oportunidade. Parece prêmio! Me lembrou a famosa frase de Jarbas Passarinho quando do AI-5. Chocante!".
Ivan Valente, deputado federal do PSOL-SP, também foi às redes sociais para comentar a notícia. "Cai a máscara de Moro. Ele aceitou ser ministro do Bolsonaro, vai trabalhar ao lado de investigados da Lava Jato. Comprova que sempre foi um carreirista e teve atuação seletiva. Reiteramos, vai mandar prender Onyx Lorenzoni? Réu confesso de praticar Caixa 2 da JBS?", questionou.
O deputado federal Wadih Damous (PT-RJ) afirmou que Moro será o pilar do "estado policial-fascista brasileiro". "Mas também carregará para sempre a pecha de juiz parcial e sem isenção". O parlamentar afirmou que o juiz deve se afastar ou "ser afastado imediatamente" dos processos da Lava Jato, em especial os que envolvem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O também deputado federal Adelmo Leão (PT-MG) comentou que o aceite "não deixa dúvidas sobre a parcialidade" do juiz. "A prisão do Lula foi política, está aí a confissão de culpa do Moro", escreveu.
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