Um dia após a vitória de Jair Bolsonaro (PSL) na disputa pela presidência da República, o professor de matemática Emerson Teixeira, 46 anos, que se autointitula "Professor Opressor", publicou um vídeo nas redes sociais comemorando a eleição do militar com um churrasco em sala de aula. A gravação tinha quase 13 mil visualizações no início da noite desta quinta (1º/11).
O caso ocorreu no Centro Educacional 4 (CED 4) do Guará. Nas imagens, o professor circula pela escola comemorando com os alunos, simula com a mão a posse de uma arma e participa de um churrasco dentro de sala de aula. "A matemática hoje não tem importância. O importante hoje é o churrasco. Dia histórico. Bolsonaro presidente", contou Emerson no vídeo.
Diretora do CED 4 do Guará, Janete Vieira identifica alguns problemas no ocorrido: "Aquele tipo de comemoração não deve ser feito no ambiente escolar, não é prudente. Além disso, depois de ver o vídeo na internet, conversei com ele e falei que gravar os alunos sem a autorização dos responsáveis é errado". A docente recorreu à Regional de Ensino do Guará, que apura o caso e deve tomar medidas contra o professor.
"Eu me excedi, porque, com aquela empolgação, euforia, eu acabei chamando os professores de esquerdopatas. Do vídeo, tudo, eu acho que o que pegou mal foi mais essa parte que eu reclamo que os professores são esquerdistas, são esquerdopatas", conta Emerson, que pede desculpa aos colegas pela situação.
Apesar disso, a repercussão do vídeo nas redes sociais e em sala de aula faz o professor entender que a comemoração foi aprovada pelo público. "Pela repercussão do vídeo, pela quantidade de likes e quantidade de deslikes do vídeo, a gente percebe claramente que a maioria das pessoas não achou que foi inadequada essa minha atitude dentro de sala de aula", acredita.
A Secretaria de Educação, em nota, informou que apura o ocorrido e que encaminhará à Corregedoria da pasta as informações necessárias, "com o objetivo de instauração de processo, apuração e indicação das medidas cabíveis ao fato".
Escola sem Partido
Uma das bandeiras que o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) levanta é a Escola sem Partido, projeto de lei que tramita no Congresso. Entre as propostas, há uma que estabelece que cada sala tenha um cartaz especificando seis deveres do professor, como "não cooptar os alunos para nenhuma corrente política, ideológica ou partidária".
O professor Emerson, que aparece no vídeo com a camisa de Bolsonaro, conta que não concorda integralmente com o projeto, que pode servir como "mordaça" aos professores em sala de aula. "Como que eu conquistei tanta gente a favor do Bolsonaro ali naquela escola? Porque, durante muitas aulas minhas, explicando matemática financeira, eu citava alguns exemplos de corrupção, como no BNDES, e encaixava no conteúdo da matemática financeira. Inevitavelmente, você acaba falando de um partido tal que estava envolvido naquela corrupção, mas tudo isso baseado em fatos", conta o professor.