A Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) será formada, na próxima legislatura, por uma maioria de deputados com base eleitoral na Região Central do estado. Dos 77 eleitos, 37 (48% do total) tiveram votação expressiva nas cidades próximas à Região Metropolitana de Belo Horizonte, que concentram 35% do eleitorado (5.554.080). Levando esse dado em consideração, pode-se observar uma desproporção de eleitos em relação às outras localidades (veja quadro).
A mesorregião Noroeste, por exemplo, com quase 2% dos eleitores (294.359), não viu nenhum dos postulantes ficar com uma vaga. Os candidatos a deputado estadual mais votados nas cidades da região não foram eleitos. Em Paracatu, por exemplo, a maior zona eleitoral da região, Ragos Oliveira (PRTB), político local, foi o campeão de votos, com 9.366 (23,62%), mas não ficou com uma vaga. Outras regiões tiveram menos ‘representantes’ com cadeira na ALMG. O Centro-Oeste mineiro, com 914.001 eleitores (5%), terá dois políticos (2,6%) na Assembleia, assim como o Alto Paranaíba (533.550 eleitores, ou 3% dos votantes).
Com 5% do eleitorado mineiro (782.209), os vales do Jequitinhonha e Mucuri tiveram quatro candidatos (5%) com força na região eleitos para a legislatura 2018-2021. Já o Triângulo, detentor de 7% do eleitorado (1.157.725), ‘elegeu’ cinco deputados (6%), assim como a região do Rio Doce, que abrange 8% dos votantes (1.307.601).
Em seguida, aparecem Norte, com 8% do eleitorado (1.268.937) e sete eleitos (9%); Sul de Minas, com oito deputados (10%) da região e 13% dos votantes (2.117.140); e Zona da Mata, com 11% dos votos (1.765.608) e sete deputados (9%).
O levantamento feito pelo jornal Estado de Minas considera base eleitoral dos deputados a região de origem ou a localidade na qual eles receberam mais votos.
Para o professor de direito eleitoral da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Rodolfo Viana, essa desarmonia de representantes entre as regiões de Minas Gerais expressa nessa eleição legislativa se explica porque a área central é mais populosa, sendo “natural” o maior número de políticos eleitos. “Natural, por ser um sistema proporcional, que ele gere uma desproporção na representação dos deputados. Quanto maior o número de eleitores, mais força eleitoral tem a região. Então, regiões de Minas com mais eleitores tendem a ter um poder maior que outras”, afirmou Viana.
O estudioso explica que essa política concentrada dos deputados em determinadas áreas é algo histórico em função dos acordos com políticos locais, gerando assim uma base eleitoral mais fiel. “A eleição para deputado estadual tem como unidade o estado de Minas Gerais.
Mas a falta de políticos locais, gerando essa diferença de representação entre as regiões na Assembleia, pode ter consequências na queda de serviços públicos, alerta o professor da UFMG: “A função de um deputado é promover leis que se apliquem em todo o território do estado. Mas não há dúvida de que vários deputados concentrados em uma região podem acabar privilegiando essas localidades, com emendas e verbas públicas destinadas a elas. Se a gente tem um quadro de representação desproporcional, é possível que as regiões que não estão representadas tenham menos benefícios públicos. Assim, cabe à Assembleia Legislativa não ter uma pauta vinculada à representação territorial”, acrescentou.
O professor Rodolfo Viana ressalta que o Poder Executivo, detentor de grande parte dos recursos públicos estaduais, deve criar políticas justas de investimentos para corrigir possíveis prejuízos promovidos pela Assembleia Legislativa. “O Executivo é o líder da política publica. Cabe a ele alocar os recursos públicos de forma mais justa. As emendas dos parlamentares são pequenas em relação ao dinheiro que cabe ao setor executivo”, disse.
VOTO NA PAUTA A representação regional talvez seja a mais relevante em termos da eleição para deputados estaduais.
O deputado Sargento Rodrigues (PTB) foi vice-campeão de votos em Minas Gerais, com 123.648 eleitores. Outros exemplos são as vitórias da delegada Sheila (PSL), com 80.038 votos; do delegado Heli Grilo (PSL), com 75.920; do coronel Sandro (PSL), com 48.530; e do coronel Henrique (PSL), com 27.867. O destaque do Partido Social Liberal (PSL) nesta eleição legislativa se deve, em grande medida, além da abordagem da segurança pública, à onda em prol do candidato a presidente Jair Bolsonaro, que recebeu 5.308.047 (48,31%) dos votos no estado.
Outra categoria bem representada foi a de professor. Embora a pauta da educação talvez não seja a principal bandeira de todos eles, os educadores tiveram grande aceitação social. Eles estão em diferentes partidos: Beatriz Cerqueira (PT), Wendel Mesquita (Solidariedade), Cleiton Oliveira (DC), Betão (PT) e Rosângela Reis (Podemos).
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