Em interrogatório nesta quarta-feira, o empresário Marcelo Odebrecht, delator da Operação Lava-Jato, afirmou que as reformas do sítio de Atibaia, no interior de São Paulo, estavam ligadas à "pessoa física" do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O petista é réu em ação penal por corrupção e lavagem de dinheiro, por supostamente ter recebido propinas da Odebrecht e da OAS em reformas e melhorias da propriedade rural. Ele será interrogado no dia 14. O empreiteiro também é réu neste processo.
À juíza federal Gabriela Hardt, sucessora de Sérgio Moro nos processos da Lava-Jato, o empreiteiro contou que soube do sítio de Atibaia quando "a obra já estava em andamento", em 2010. Odebrecht citou o ex-executivo do Grupo Alexandrino Alencar e seu pai Emílio Odebrecht.
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Emílio Odebrecht diz que aprovou reforma do sítio de Atibaia ligado a LulaÉ 'possível' que habeas de Lula contra Moro seja julgado neste ano, diz Fachin Haddad visitará Lula pela primeira vez após derrota nas eleiçõesPT e movimentos aliados organizam ato para depoimento de Lula em CuritibaEle citou a história de um terreno em São Paulo que sua empreiteira iria adquirir para supostamente alojar as dependências do Instituto Lula - episódio que sustenta uma outra acusação da força-tarefa da Lava-Jato contra o ex-presidente.
"Até então, por exemplo, tinha tido o caso do terreno do Instituto. O terreno do Instituto, bem ou mal, era para o Instituto Lula não era para a pessoa física dele (Lula)", seguiu Odebrecht em seu relato à juíza.
"Quando eu vi lá, que eu soube, tinha um bando de gente trabalhando na obra (do sítio).
O ex-presidente está preso em Curitiba desde 7 de abril. Ele cumpre pena de 12 anos e um mês de reclusão, no processo do caso triplex, também por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O petista nega enfaticamente ter recebido valores ilícitos da empreiteira.
Durante a audiência, Gabriela Hardt perguntou a Marcelo Odebrecht se Lula "tinha ciência da reforma que estava sendo custeada em parte pela Odebrecht".
"Ah tinha, com certeza. E, olha, ele sabia que tinha. Eu não escutei isso de Lula, mas meu pai sempre deixou isso claro para mim que ele sabia que estava sendo custeado e, dentro de casa, todos nós entendíamos que aquele sítio era de Lula", disse o delator.
"O que eu soube foi que esse pedido chegou via Alexandrino, foi autorizado por meu pai e a obra era para o sítio do presidente.
O ex-presidente Lula nega ser o dono do sítio.
Crocodilo
Em outro trecho de seu interrogatório, o empresário disse que reclamou com seu pai sobre "valores muito altos" que o PT, via ex-ministro Antônio Palocci, pedia ao grupo. Numa dessas ocasiões, o patriarca da Odebrecht teria dito ao próprio Lula que o pessoal do PT ia "da boca de jacaré para boca de crocodilo".
"De fato, em vários momentos reclamei de valores muito altos. Falei com meu pai e, de alguma maneira, ele ia lá e reclamava com o Lula. De fato, não foi uma ou duas vezes só que fui reclamar com meu pai das demandas do Palocci, mais o Palocci, que estavam muito altas."
A juíza questionou Marcelo Odebrecht se, em determinada reunião, houve discussão sobre contratos de interesse da empresa.
"Eu não diria contratos, na verdade, a gente tratou os temas. A gente nunca discutiu, eu, acho que meu pai também, nunca discutiu detalhe de contrato com o presidente. A gente foi discutindo, a agenda é bem clara", disse.
"Foram os temas que a gente achava relevante da relação, seja da Odebrecht com o Governo, seja da Odebrecht com outros países de Geopolítica brasileira, alguns temas que a gente sempre levava para contribuir com o presidente de maneira institucional, com o país. Quer dizer, não foi nada a ver com contrato. Eu, pelo menos, eu acho que, meu pai também, nunca discutimos contratos, essas coisas, com os presidentes."
A magistrada perguntou a Odebrecht se, no início do Governo Lula, ele participou de reuniões para "reclamar de dificuldades com diretoria de Petrobras".
"Não, não participei dessas reuniões.
"Eu nunca levei, nunca tratei esse assunto Petrobras por cima, digamos assim. Eu achava que isso devia ser conduzido pelos executivos. Meu pai tinha uma visão um pouco diferente. Ele gostava do tema Petrobras, principalmente relativo a relação Petrobras com Braskem, então, ele costumava ter o tema Petrobras na agenda dele com o presidente. Não estou dizendo que tratava-se nada ilícito, mas que o tema Petrobras de modo geral, na agenda com o presidente."
Durante a audiência, o Ministério Público Federal perguntou ao delator se ele sabia que os "líderes empresariais tinham que efetuar pagamento no interesse do PT, PMDB, PP, no âmbito das diretorias da Petrobras".
"Eu seria ingênuo se eu dissesse que eu não sabia. Eu confirmo que eu tinha ciência", declarou..