Um dia depois de o Senado Federal aprovar um reajuste de 16,38% no contracheque dos magistrados do Supremo Tribunal Federal (STF), os ministros Marco Aurélio Mello e Ricardo Lewandowski disseram nesta quinta-feira, 8, que o aumento é uma "reposição" parcial de perdas inflacionárias acumuladas ao longo dos últimos anos. Com a aprovação do reajuste, a remuneração dos ministros do STF - considerado o teto do funcionalismo público - passa de R$ 33.763,00 para R$ 39.293,32, um aumento de R$ 5.530,32.
"O Senado é que decidiu. Nós temos uma defasagem e ela (a reposição) cobre uma parte dessa defasagem dos vencimentos dos juízes em relação à inflação", disse o ministro Ricardo Lewandowski a jornalistas, ao chegar para a sessão plenária do STF desta tarde.
Em agosto deste ano, os ministros do STF decidiram incluir o reajuste de 16,38% na proposta orçamentária da Corte, que para entrar em vigor dependia na época da aprovação pelo Senado Federal - e, agora, aguarda a sanção do presidente Michel Temer. Dos 11 ministros do STF, apenas quatro foram contra a inclusão do aumento: Cármen Lúcia, Rosa Weber, Edson Fachin e Celso de Mello.
"É uma reposição do poder aquisitivo, considerado o período entre 2009 e 2014. E era para estar aprovado desde 2016. Por que não foi aprovado? Depois de costurada essa reposição, que não é aumento, é parcial, costurada com o Executivo e aprovada na Câmara, estava para votação simbólica no Senado. Na gestão anterior a presidente tomaria posse, quando foi levar convite ao presidente do Senado sinalizou que não era oportuno. E se já não era oportuno em 2016, hoje, com a situação econômica, financeira da União e dos Estados, muito menos", comentou Marco Aurélio.
Com a aprovação do reajuste, a expectativa é a de que o STF marque o julgamento sobre o auxílio-moradia.
Indagado sobre a conveniência de se conceder o reajuste à magistratura em um momento em que o País possui mais de 10 milhões de desempregados, Marco Aurélio disse: "Escuta, então vamos simplesmente afastar os subsídios dos magistrados? Por que não? Vamos reduzi-lo ao salário mínimo? É o tipo da coisa. Temos que observar o contexto. Nós não vamos parar o Brasil porque ele está numa situação difícil econômica e financeira. Mas as instituições precisam continuar funcionando."
Contrária ao reajuste, a ministra Cármen Lúcia - que presidiu o Supremo de setembro de 2016 a setembro de 2018 - destacou o efeito cascata nas contas públicas e o número de desempregados no País ao se posicionar contra o aumento. "Eu admiro o voto de pobreza da ministra Cármen Lúcia", ironizou Marco Aurélio.
Para a ministra Rosa Weber, que também se posicionou contra o aumento salarial na sessão administrativa do STF em agosto, "nessas questões institucionais quem fala pelo tribunal é o presidente".
Articulação
O presidente do STF, ministro Dias Toffoli, e o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro João Otávio de Noronha, entraram em contato ao longo dos últimos dias com o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), e outras lideranças partidárias na Casa para viabilizar a aprovação do reajuste.
Em reunião com presidentes dos Tribunais de Justiça dos Estados na manhã desta quinta-feira, Toffoli disse que o pagamento do auxílio-moradia a membros do Judiciário "era um ônus que estava recaindo sobre toda a magistratura". Toffoli reafirmou que, com a aprovação do reajuste do Judiciário, o tribunal poderá resolver essa questão.
O pagamento do auxílio-moradia foi estendido desde 2014 a todos os juízes do País por decisão liminar do ministro Luiz Fux, atendendo a ações de entidades de classe. O pagamento ainda foi ampliado a membros do MP e do Judiciário de todo o Brasil no mesmo ano em resoluções aprovadas pelos conselhos Nacional de Justiça (CNJ) e do Ministério Público (CNMP).
Ao se dirigir ao plenário para a sessão desta quinta-feira, Fux não comentou aprovação do reajuste pelo Senado Federal. Um auxiliar de Fux disse a repórteres para não abordarem o ministro..