O vice-governador de Minas Gerais, Antonio Andrade (MDB), foi solto nessa segunda-feira. Também foram beneficiados com habeas corpus outros 17 implicados - entre eles o empresário e um dos donos da JBS, Joesley Batista, e o deputado estadual João Magalhães (MDB). Todos são implicados em investigação da Polícia Federal, que deflagrou na sexta-feira (9) a Operação Capitu para apurar indícios de corrupção no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento durante a gestão de Andrade, entre 2013 e 2014, no governo Dilma Rousseff.
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Vice-governador de Minas recebe habeas corpus e deve ser liberado nas próximas horasVice-governador de Minas e deputado são presos pela PFSTJ manda soltar Joesley, Saud e demais colaboradores presos na Operação CapituEntre 19 mandados de prisão, 16 haviam sido cumpridos em Belo Horizonte, Vazante, São Paulo, Brasília, Curitiba e Rondonópolis (Mato Grosso).
A Operação batizada de Capitu é um desdobramento da Operação Lava-Jato e se baseou em delação do doleiro Lúcio Bolonha Funaro – ligado ao MDB – sobre supostos pagamentos de propina a servidores públicos e agentes políticos que atuavam direta ou indiretamente no Ministério da Agricultura em 2014 e 2015.
Em troca de medidas que beneficiassem a JBS foram pagos pelo menos R$ 37 milhões em propinas. A maior parte, R$ 30 milhões, foi paga durante a gestão de Antonio Andrade. Metade do valor foi destinado à campanha de Eduardo Cunha ao comando da Câmara dos Deputados, e os outros R$ 15 milhões ficaram sob responsabilidade de João Magalhães, que na ocasião era deputado federal, para rateio entre integrantes da bancada do MDB mineiro.
A distribuição dessa propina, segundo a PF, serviu para comprar o apoio dos deputados à candidatura de Andrade para vice-governador em 2014.
Supermercados
O esquema de repasse do dinheiro envolveu duas redes de supermercado de Belo Horizonte e seis escritórios de advocacia em Belo Horizonte e Uberaba, no Triângulo Mineiro. No primeiro caso, houve uma espécie de “compensação financeira” entre os supermercados e a JBS, fornecedora de produtos.
Em vez de as lojas quitarem suas dívidas com a cadeia de frigoríficos, elas repassavam os valores a João Magalhães. De acordo com o delegado Mario Veloso Aguiar, responsável pelo inquérito, há provas de entrega do dinheiro em malas e até caixas de sabão. Outro mecanismo foi a doação de R$ 9 milhões a candidatos do MDB nas eleições de 2014. Um dos empresários citados no esquema é Pedro Lourenço de Oliveira, dono da rede de supermercados BH. Procurada, a empresa informou que não vai se pronunciar a respeito.
Entraves
Ao longo do trabalho da Polícia Federal, foram apurados outros crimes.
“Esse grupo dependia de normatizações e licenciamentos do ministério e teria passado a pagar propina a funcionários do alto escalão da pasta em troca de atos de ofício, que proporcionariam ao grupo a eliminação da concorrência e de entraves à atividade econômica, possibilitando a constituição de um monopólio de mercado”, informou a Polícia Federal.
Segundo o delegado Mário Veloso Aguiar, foi verificado ainda o pagamento de R$ 50 mil para o então deputado federal Manoel Júnior (MDB), atualmente vice-prefeito de João Pessoa, capital da Paraíba. Ele foi o autor de uma emenda à MP 853/14, que tratava do setor farmacêutico. O parlamentar incluiu trecho para garantir que as inspeções de frigoríficos fossem feitas exclusivamente pelo Ministério da Fazenda, sem qualquer interferência municipal ou estadual. O apartamento dele, no Bairro de Altiplano, foi alvo de operação de busca e apreensão.
Os acusados serão indiciados por organização criminosa, obstrução da Justiça, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro. As penas podem variar entre três e 120 anos de prisão.
A assessoria do vice Antonio Andrade informou que a defesa vai se manifestar assim que tomar conhecimento do conteúdo do inquérito. “Durante o depoimento, Antonio Andrade respondeu a tudo o que lhe foi perguntado e colaborou com o trabalho da Polícia Federal”, diz a assessoria.
Capitu
A operação foi batizada com o nome da famosa personagem de Dom Casmurro, obra de Machado de Assis, porque a PF verificou que empresários e funcionário da JBS, que inicialmente atuaram em colaboração premiada com a polícia, teriam praticado atos para obstruir a Justiça e prejudicar as investigações. No livro de Machado de Assis, Capitu é uma personagem dissimulada e acusada de traição por Bentinho.