A presidente do Instituto Ayrton Senna, Viviane Senna, se tornou um dos nomes mais conhecidos do terceiro setor que investe em educação. O instituto tem projetos em 17 Estados, que atingem mais de 1 milhão de crianças. Seu nome surgiu entre os cotados para assumir o ministério da Educação do governo Jair Bolsonaro - às vésperas do segundo turno, ela visitou o então candidato e tem mantido contato com ele desde então.
Viviane, no entanto, nega ter recebido convite e qualquer interesse no cargo. Ela disse ver no novo governo disposição para ouvir propostas e, ao falar sobre uma das principais ideias de Bolsonaro para a educação, o Escola sem Partido, propõe a substituição da "pauta que não impacta a aprendizagem por uma que impacta". A seguir os principais trechos da entrevista concedida ao jornal O Estado de S. Paulo:
Como têm sido as conversas com o governo eleito?
Antes do segundo turno visitei Jair Bolsonaro e conversamos durante uma hora e meia. Foi muito bom. A gente sempre faz isso, fomos no governo Lula também.
E isso aconteceu essa semana, na reunião com Onyx Lorenzoni?
Sim, eu já tinha dito que o grande desafio era a educação básica e a aprendizagem. Apresentamos um estudo para mostrar os principais desafios de aprendizagem e as alavancas críticas para poder destravar esse cenário. A questão que eu quis ressaltar foi a da alfabetização. O Brasil não resolveu isso em 500 anos de história, estamos no século 21 e metade das crianças brasileiras são analfabetas. É inaceitável.
A sra. fez críticas também?
Acho que não podemos voltar atrás e repensar a Base Nacional Comum Curricular. Tem que terminar de aprovar.
Muito do que o atual governo afirma vai na linha oposta do que a sra. está dizendo. O presidente eleito fala em doutrinação dos professores, escolas militares, ensino à distância. Qual a sua opinião sobre o que têm dito?
Olha, a receptividade foi a melhor possível. Poucas vezes vi um desejo tão grande e abertura genuína a entender e buscar soluções. Acho que eles têm todo interesse de acertar, de entender o professor, de tratar com o maior cuidado. Temos a missão de ajudar esse governo a acertar, a fazer dar certo, estamos todos no mesmo avião. Se cair o avião, caímos todos.
Mas qual a sua opinião sobre o projeto Escola sem Partido, defendido por Bolsonaro?
Precisamos de uma agenda que vai resolver o problema do País. Existem dispositivos legais para quando há partidarização, devem ser trabalhados com a lei que já existe. É desnecessário isso, criar mais uma lei. A minha proposta é que se substituísse essa pauta, que não impacta a aprendizagem, para uma pauta que impacta.
E a sra. acredita que isso vá acontecer?
Estão pedindo para ouvir opiniões. O que eles falaram antes não é o ponto. Estão se propondo a ouvir. Não é uma atitude de não quer ouvir. Quem convidou foram eles. Precisamos olhar os sinais positivos.
Prometer não, mas acreditar, a sra. Acredita?
Tem uma grande disposição. Se vai ser feito ou não....Vi grande disposição de dialogar. É um sinal muito bom.
A sra. foi convidada para ser ministra da Educação?
Não tem esse convite, só tem um pedido para ajudar na educação. Eu convidei o Ricardo Paes de Barros (economista do Instituto Ayrton Senna e professor do Insper) para ir comigo. São elementos que estão sendo trazido para a mesa para que se possa ter passos bons pela frente.
A sra. não tem interesse no ministério?
Já fui convidada três vezes para ser ministra por governos anteriores. Meu objetivo não é esse.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo..