Segurança pública, moral, costumes e saúde são as áreas que mais mobilizam os deputados federais da bancada mineira eleita, que expressa a síntese de duas forças políticas que emergem na Câmara dos Deputados com a clareza das urnas em 2018: a esquerda e a extrema direita, que divergem sobre o tamanho do estado e de sua função social, o posicionamento político face ao futuro governo e a abordagem de um conjunto de temas.
De um lado está o PT, com oito deputados federais, entre eles o segundo mais votado no estado, Reginaldo Lopes, que tende a agregar o apoio do Psol de Áurea Carolina, vereadora de Belo Horizonte, a quinta deputada federal mineira mais votada. Do outro, o PSL do presidente eleito Jair Bolsonaro, com seis cadeiras, sob a coordenação de Marcelo Álvaro Antônio, deputado federal que amealhou mais votos em Minas.
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Embora muitos deputados atuem em diversas áreas, a segurança é o tema que mais mobiliza. Além dos seis da bancada de Bolsonaro – na qual dois têm trajetória na Polícia Civil e um na Polícia Militar – o assunto é central para o empresário do ramo Igor Timo, eleito pelo Pode, e para veteranos como Eros Biondini (Pros), que trabalha com o combate às drogas, e para o Subtenente Gonzaga (PDT), policial militar que tem longa participação em organizações e conselhos de segurança. Estão ligados também na questão da segurança o deputado reeleito Mauro Lopes (MDB), com histórico público de financiamento pela indústria armamentista.
Na centro-esquerda e esquerda, se debruçam sobre o assunto os veteranos Mário Heringer (PDT), Reginaldo Lopes (PT) e a novata Áurea Carolina (Psol), que atualmente preside a comissão especial sobre o genocídio da juventude negra e pobre, na Câmara Municipal de Belo Horizonte. “Para nós é prioritário cessar a matança da população negra do Brasil , principalmente jovens de periferia. Isso está relacionado à vulnerabilidade social, à política reducionista da droga, de encarceramento fácil”, afirma Áurea Carolina. “O sensacionalismo em torno da segurança pública faz com que pessoas pensem que mais arma e mais cadeias vão reduzir a criminalidade.
Em lado oposto e com algumas soluções amplamente explicitadas, o fim do Estatuto do Desarmamento, facilitando de porte de armas, redução da maioridade penal, maior rigor de penas e para alguns inclusive a pena de morte são recorrentes entre os apoiadores de Bolsonaro.
EDUCAÇÃO Reeleito pela quinta vez e também atuando na articulação de eixos, Reginaldo Lopes (PT) em seu mandato passado focou na segurança pública, genocídio de jovens negros e pobres e a reforma do ensino médio. “Pretendemos continuar nesse debate, mas agora, priorizando três novos eixos: modelos econômicos capazes de gerar emprego e renda no país, novo pacto federativo para fortalecimento de estados e municípios e reforma tributária para justiça social”, afirma ele. Alguns desses eixos se conectam com a proposta de Áurea Carolina, que também pretende alavancar o debate econômico sobre a justiça tributária, dentro do que chama de democracia fiscal.
“No Brasil hoje, os pobres pagam proporcionalmente mais impostos do que os ricos. Precisamos discutir esse sistema de arrecadações e investimentos”, afirma a deputada eleita, defensora de práticas sustentáveis de economia solidária, agroecologia e de cooperação. Também com pauta diversificada, o deputado estadual Rogério Correia (PT), eleito federal, integrará os debates sobre educação. “Temos de garantir a manutenção do financiamento da educação, do ensino médio e a permanência do Fundeb que termina em 2020”, diz.
“Sou católico, mas tenho grande admiração pelas igrejas evangélicas, que tiveram grande importância na minha eleição, até por conta das parcerias no combate às drogas”, afirma o vereador de Juiz de Fora Charlles Evangelista (PSL).
Votação regional
Dos 53 deputados federais mineiros eleitos, 33 são fortemente territoriais, concentrando mais da metade de sua votação em uma única mesorregião do estado. Os outros 20 tiveram votação mais diluída. Se há algo que os unifica, é a disposição de disputar emendas parlamentares e pequenas obras para as respectivas regiões em que concentram a base eleitoral. Igualmente presente, o sentimento da perda de poder político de Minas Gerais no cenário nacional e uma manifesta disposição de lutar por investimentos, principalmente de infraestrutura, para a melhoria das rodovias federais.
O empresário Hercílio Coelho Diniz, de 55 anos, o mais votado do MDB em sua primeira incursão eleitoral – conquistou 120.489 votos – está focado em viabilizar obras fundamentais no Leste de Minas, entre as quais, a duplicação do trecho Ipatinga a Governador Valadares da BR 365 e a conclusão do hospital regional, obra paralisada há quatro anos. Hercílio foi respaldado por um grupo de 50 empresários, entidades e lideranças no entorno de Governador Valadares.
Com apenas quatro mulheres, a bancada federal mineira que saiu das urnas em 7 de Outubro apresenta maior dispersão de votos em relação àquela de 2014. Se nas eleições de 2014, Reginaldo Lopes (PT) alcançou 310.226 votos e obteve entre todos o melhor desempenho; nestas eleições, quem liderou a lista foi Marcelo Álvaro Antônio (PSL), somando 230.008 votos, ou seja, 80 mil votos a menos. Em média, deputados federais reeleitos tiveram menos 50 mil votos do que obtiveram há quatro anos. E, se em 2014 a última a conquistar uma cadeira, Brunny, arrancou 45.381 votos; desta vez, Zé Vítor, chega à casa com apenas 33.833 votos – 11.548 a menos.
São 21 legendas representadas, em sua maior parte – 92,5% - por homens que se declaram brancos. São parlamentares que se autodeclaram pardos – Áurea Carolina (Psol), Paulo Guedes (PT), Fábio Ramalho (MDB) e Igor Timo (Pode). Há apenas um preto, Leonardo Monteiro (PT).
Visões morais causam divisão
Além dos parlamentares que focam a segurança pública, há muitos deputados federais mineiros que se unem na chamada “bancada cristã”, que prioriza costumes e não está disposta a facilitar a vida de homossexuais, travestis e transexuais e minorias. Travarão com a esquerda, que luta pela tolerância à diversidade e garantias às minorias, um cabo de guerra, que passará inclusive por narrativas disseminadas ao gênero do “kit gay” e da ideologia de gênero, sinalizando aos pólos irreconciliáveis visões morais da sociedade que racham o Congresso Nacional.
A bancada cristã mineira reelegeu Stefano Aguiar, da Igreja do Evangelho Quadrangular, Lincoln Portela, da Igreja Batista Getsêmani, e como Eros Biondini, da Renovação Carismática. Ganhou como reforço, além dos novos parlamentares bolsonaristas Leo Motta e Charlles Evangelista, o deputado estadual Gilberto Abramo, da Igreja Universal do Reino de Deus, e de Lucas Gonzalez, da Igreja Batista da Lagoinha. “Sou conservador, defendo a família tradicional e me afino com os valores do Novo”, diz Gonzales.
Embora da Igreja Batista da Lagoinha, mas se recusando a misturar a política com religião, o novato André Janones (Avante) adota postura diferente de seus pares da bancada cristã: “Defendo o estado laico e vou representar o povo mineiro. Não é só evangélico nem só católico. Nunca fui em igreja pedir voto. Cada um deve ter a sua fé, que é pessoal e tem de ser respeitada”, considera Janones, que promete atuação focada na defesa dos direitos de acesso à saúde pública, em continuidade à sua atual atuação na advocacia popular, para que pessoas carentes consigam internação, medicamentos, entre outras demandas nem sempre providas pelo estado.
Além de Janones, está focado na pauta da saúde, principalmente o câncer, o deputado federal reeleito Misael Varella (PSD) (o seu pai, ex-deputado Lael Varella fundou o Hospital do Câncer de Muriaé, credenciado junto ao Ministério da Saúde para o atendimento público. Mas a bancada agora cresce com a eleição do deputado estadual Emidinho Madeira (PSB), que trabalha com o Hospital do Câncer de Passos, no Sul do estado.
SAÚDE E também com o novato Doutor Frederico (Patri), que ganha o primeiro mandato eletivo, atuando por 11 anos como oncologista em São João del-Rei. “Estamos mobilizados para uma saúde melhor e para garantir o direito ao tratamento dos pacientes com câncer. Infelizmente, cada vez mais a população é obrigada a ter de recorrer à Justiça.
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