Em mais uma rodada de críticas à contratação de profissionais cubanos pelo programa Mais Médicos, o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) jogou a responsabilidade para os prefeitos. Sem citar nomes, ele afirmou que algumas prefeituras dispensaram médicos para se ver livres dos gastos com profissionais de saúde – o Mais Médicos é bancado pelo governo federal. Na quarta-feira, o governo de Cuba anunciou a saída do programa, o que levou Bolsonaro a elevar o tom das críticas e o governo Temer a anunciar a publicação de edital para contratação de médicos brasileiros para substituir os cubanos.
“Tem prefeitura que simplesmente mandou embora o seu médico para pegar o cubano, quer ficar livre da responsabilidade. A saúde também tem sua responsabilidade e a convocação é só em situações extraordinárias”, afirmou Bolsonaro, ao acompanhar, na manhã de ontem, a competição mundial de jiu-jítsu Abu Dhabi Grand Slam, no Parque Olímpico da Barra, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Pelas regras do Mais Médicos, os brasileiros têm prioridade na ordem de escolha, seguidos de estrangeiros com registro no Brasil. Na sequência são convocados brasileiros e estrangeiros formados no exterior. Havendo vagas, elas devem ser preenchidas pelos cubanos. Segundo o Ministério da Saúde, o programa tem participação de 8.332 mil médicos do país caribenho, dos quais 301 estão em distritos sanitários especiais indígenas.
O presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Glademir Aroldi, evita polemizar com Bolsonaro. Ele disse que desconhece a prática apontada por Bolsonaro e que vai se encontrar hoje, às 15h, com o presidente Michel Temer para tratar do Mais Médicos. “Não é isso que temos que discutir, mas uma forma de manter o programa, que é muito importante”, afirmou ele, que também pretende marcar encontro com o presidente eleito.
Dados da CNM apontam que moradores de 1.575 municípios brasileiros são atendidos exclusivamente por médicos cubanos. A saída dos caribenhos do programa é motivo de grande preocupação para os prefeitos, afirmou Aroldi. “A gente precisa respeitar a decisão do governo de Cuba, mas temos que encontrar um caminho com diálogo e disposição”. Em Minas Gerais, são 596 profissionais cubanos, o quarto maior estado a abrigar os estrangeiros no programa, atrás apenas de São Paulo (1.394), Bahia (822) e Rio Grande do Sul (617).
Na quarta-feira, o governo de Cuba rompeu a participação do país no programa. A justificativa do país caribenho são declarações “depreciativas e ameaçadoras” feitas por Bolsonaro, que questionou a formação dos médicos e condicionou a permanência deles no programa a uma revalidação do diploma. Ontem, Bolsonaro disse que o presidente Michel Temer está tratando do assunto. Segundo ele, será necessário avaliar os casos das centenas de municípios que ficarão sem médicos, justamente por terem dispensado seus profissionais para ingressar no programa federal. “Eu não sou presidente. Dia 1º de janeiro, após a posse, vamos apresentar o remédio para isso, mas o presidente Temer já está trabalhando nesse sentido”, assegurou.
O presidente eleito voltou a chamar o regime de trabalho dos cubanos no Brasil de “escravidão” e afirmou que será possível substituir os profissionais se for oferecido “tratamento adequado”. “Não podemos admitir escravos cubanos trabalhando no Brasil e não podemos continuar financiando a ditadura de Cuba”, completou o futuro presidente.
ESPORTE Ao participar da etapa do Rio de janeiro do torneio mundial de jiu-jítsu, Bolsonaro contou que ainda não escolheu um nome para o Ministério do Esporte, que, segundo ele, terá espaço de destaque em seu governo. O presidente disse que ainda estuda a possibilidade de fusão da pasta com o Ministério da Educação. “Falo uma coisa aqui e lá na frente falam que estou recuando. Estamos definindo essas coisas todas.”
Bolsonaro disse desconhecer as informações de que a futura ministra da Agricultura, Tereza Cristina, foi mencionada na delação premiada dos executivos da JBS. Reportagem publicada pelo jornal Folha de S. Paulo mostra que a ministra da bancada ruralista, uma das primeiras escolhidas para o próximo gabinete, concedeu incentivos fiscais e arrendou terras no Mato Grosso do Sul ao grupo JBS. “Eu também sou réu no Supremo. Devo renunciar ao meu mandato? Ela já foi julgada? Apenas um processo foi apresentado? Desconheço. Já fui representado umas 30 vezes na Câmara e não colou nenhuma. Afinal, sou ser humano e posso errar. Se qualquer ministro tiver uma acusação grave, a gente toma uma providência. No momento ela tem toda a nossa confiança”, alegou.
Durante o evento, Bolsonaro se encontrou com o cônsul geral dos Emirados Árabes Unidos, Ibrahim Al Alawi, que o convidou para visitar o país. Saudado pelo público, Bolsonaro participou da premiação de três atletas. Durante a campanha, ele recebeu apoio da Federação de Jiu-Jítsu e chegou a ser agraciado com uma faixa preta pelo presidente da entidade, Robson Gracie. Antes de retornar para casa, o presidente eleito parou em um quiosque na orla da Barra da Tijuca, na altura do Posto 4, perto de sua residência. Acompanhado por seguranças da Polícia Federal, ele cumprimentou eleitores. Depois, passou a tarde em casa, onde, de acordo com fotos divulgadas por sua assessoria, preparou um churrasco.
Bolsonaro volta a Brasília amanhã para nova rodada de encontros com autoridades, políticos e integrantes da equipe de transição de governo. Esta é a terceira viagem à cidade depois de eleito. Nos últimos dias, Bolsonaro se reuniu com Michel Temer, presidentes de tribunais superiores e comandantes das Forças Armadas. Ele também participou no Congresso Nacional de solenidade em comemoração aos 30 anos da Constituição Federal. (Com agências)