Primeiro ministro do governo Michel Temer a ser mantido no posto pelo presidente eleito Jair Bolsonaro, Wagner Rosário, da Transparência e Controladoria-Geral da União (CGU), defende que a Lei Anticorrupção possa prever isenção de multas de empresas que revelarem casos de corrupção. Para Rosário, é uma forma de incentivar as companhias a criarem mecanismos de integridade e ajudar no combate à corrupção.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, ele também disse que pretende atuar em parceria com o futuro titular da Justiça, Sérgio Moro, no fortalecimento do combate à corrupção. Afirmou ainda que a manutenção do status de ministério para a CGU é "essencial" e admitiu ter aceitado o convite de Bolsonaro mesmo sem ter discutido as diretrizes de atuação no novo governo. "A CGU é um órgão de Estado. Não precisa o presidente dizer qual é a atribuição", afirmou. Auditor federal e com carreira na CGU, Rosário, de 42 anos, ocupou o cargo de secretário executivo da pasta no governo da petista Dilma Rousseff e foi alçado ao posto interinamente por Temer.
Quais devem ser as diretrizes da CGU no novo governo?
O presidente eleito não deu diretriz específica, ela está clara na lei.
O sr. aceitou o convite sem saber se há convergências ou divergências com o governo?
Considero a CGU um órgão de Estado. Não precisa dizer qual é a atribuição da PGR (Procuradoria-Geral da República), e o presidente não precisa dizer qual é a atribuição da CGU. Ele conhece. Eu conheço, se você pegar as leis está bem especificado quais as missões da CGU.
Sua missão não muda?
Continua a mesma. Não diverge em nada.
Como o sr. pretende construir e em que pontos pode ser essa parceria com o ministro Moro?
Total. Tenho certeza de que eu e o ministro Moro só temos convergências de ideias. Temos uma visão muito próxima, pelo que eu vejo dele, apesar de não o conhecer pessoalmente, pelas posições dele na área de combate à corrupção. E aqui eu não tenho nenhum tipo de vaidade nem nada, nós vamos trabalhar conjuntamente dentro de uma estratégia que for traçada. E o trabalho vai ser conjunto e voltado ao que é melhor para o País.
O futuro governo chegou a cogitar retirar o status de ministério da CGU e incorporá-la à Justiça. O sr. foi consultado?
Eu não fiz parte das discussões.
O ministro Moro falou que quer alterações legislativas. O sr. também deseja mudanças para fortalecer a atuação da CGU?
Não, hoje a CGU não precisa de alteração legislativa para se fortalecer. As alterações legislativas são de pontos que ainda necessitam de algum ajuste.
Esse ajuste seria feito em acordos de leniência, por exemplo?
Os acordos de leniência poderiam ter alguns ajustes, principalmente numa geração de um maior benefício para a empresa que colaborasse.
Que tipo de trabalho o sr. quer tentar viabilizar ficando mais tempo no cargo?
Uma das coisas que queremos trabalhar é identificar a fragilidade dos órgãos, criar mecanismos efetivos. Estamos estudando diversas maneiras de evitar problemas na administração. Um dos casos ainda pendentes no País é a regulamentação do lobby, que defendemos. Nós já temos um decreto de lobby (para servidores federais) pronto para tratar.