O deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente eleito, Jair Bolsonaro, usou as conversas com integrantes do governo americano nesta segunda-feira, 26, para falar sobre a estratégia do Brasil para intensificar a pressão sobre o governo de Nicolás Maduro, na Venezuela. O assunto é um dos principais interesses do governo dos Estados Unidos na América Latina. Em almoço com estrangeiros, ele também foi cobrado sobre posições do pai que poderiam representar ameaças à defesa dos direitos humanos.
Após se reunir com representantes do Departamento de Estado, do Conselho de Segurança Nacional, da vice-presidência dos EUA e do Departamento de Comércio, Eduardo Bolsonaro sugeriu que a estratégia sobre a Venezuela passará pela cooperação entre Ministério da Justiça, conduzido por Sérgio Moro, e pelo Itamaraty, com o embaixador Ernesto Araújo.
"Existem diversos instrumentos que o Brasil por anos, de maneira proposital, não levou a sério. São instrumentos que estão à mão. O juiz Sérgio Moro sabe melhor do que ninguém com relação à lavagem de capitais, combate ao crime organizado, Convenção de Palermo. E junto com a equipe do embaixador Ernesto Araujo, tem muita coisa nessa área. Se você for congelar tudo aquilo que remete e passa pelas ditaduras cubana e venezuelana, você pode dar um calote muito grande nesses ditadores", disse Bolsonaro, ao sair da Casa Branca.
Mais cedo, em almoço com estrangeiros, ele mencionou a Convenção de Palermo como um instrumento a ser usado e indicou que essa poderá ser uma medida concreta de cerco a Caracas.
"Tudo o que estiver possível. Os detalhes são os ministros que vão dar pra vocês, mas certamente está nas nossas ideias todo esse tipo de congelamento, enfim, tudo aquilo que faz o povo passar fome a gente pretende congelar", disse Bolsonaro.
A possibilidade de usar o sistema de investigação de crimes financeiros no Brasil para endurecer o tom com a Venezuela tem sido discutida internamente por membros do governo americano, de forma reservada.
A Convenção de Palermo é um dos acordos internacionais do qual o Brasil é signatário e trata de crimes transnacionais. Segundo o procurador Regional da República e ex-secretário de Cooperação Internacional da Procuradoria-Geral da República, Vladmir Aras, é factível usar os tratados internacionais para investigar e acusar criminalmente autoridades venezuelanas que tenham cometido crimes de lavagem de dinheiro - por exemplo no caso delatado pela Odebrecht.
"Em tese, o Ministério Público Federal pode processar autoridades venezuelanas por lavagem de dinheiro oriundo de corrupção passiva cometida no estrangeiro e por associação em organização criminosa, usando esses tratados", afirmou o procurador. Segundo ele, o governo pode usar COAF, CGU e Polícia Federal para obter provas fora do País e caberia ao Ministério Público Federal analisar a possível acusação.
Eduardo Bolsonaro disse ainda que as conversas nos EUA têm sido "muito receptivas" e "muito boas". Ele pretende ser um "cartão de visitas" do governo do pai no estreitamento da relação com os americanos.
Durante o almoço, Eduardo Bolsonaro participou de encontro com estrangeiros organizado think tank American Enterprise Institute. O encontro aconteceu a portas fechadas, só para convidados.
Ao chegar, Eduardo falou que a viagem é uma forma de "resgatar a credibilidade brasileira e dizer que o novo governo está disposto a não só fazer comércio como cooperar em diversas outras áreas e não somente fazer comércio com aquele viés ideológico que a gente sabe que era feito antigamente". Ele disse ainda que o Brasil durante os governos do PT enviou dinheiro via BNDES "para ditaduras como a cubana e como a venezuelana".
Eduardo é questionado sobre posições do pai em relação a direitos humanos
No encontro, ele foi questionado sobre a posição do governo com relação a direitos humanos, confrontado com preocupações por parte da plateia sobre falas do presidente eleito a respeito do assunto.
Segundo uma fonte presente, ele minimizou falas polêmicas do presidente eleito ao dizer que "o problema é que seu pai fala com o público e com a imprensa da mesma forma como se estivesse em um churrasco".
Sobre Venezuela, ele afirmou que Bolsonaro quer assumir a liderança numa solução regional para a crise humanitária no País, em parceria com EUA, Colômbia e Argentina..