Pesquisador associado ao Ibre/FGV, o economista Samuel Pessôa afirmou ao Estado que o gasto do Estado brasileiro com o Judiciário (considerando não só salários e benefícios, mas também custos para manutenção de estruturas e funcionamento) é quatro vezes maior do que em países que fazem parte da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). "O gasto desses países com Judiciário é de 0,5% do PIB, enquanto no Brasil está em 2%", disse Pessôa.
Segundo ele, esse alto custo tem dois principais motivos. O primeiro é o regime previdenciário da categoria. "Salários altos e aposentadorias com princípio de integralidade." A outra razão é que o Brasil tem enorme quantidade de recursos em várias instâncias. "Além da Justiça em primeira instância, há três instâncias recursais: Tribunal Regional Federal (TRF), Superior Tribunal de Justiça (STJ) e Supremo Tribunal Federal."
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STF fixa efeitos financeiros de reajuste a partir de 1º de janeiroSTJ rejeita recurso de Lula que tentava reverter condenação no caso do triplexSTJ decide não reduzir foro para desembargadores e juízes de TRF, TRT e TREJudiciário quadruplica despesas com pessoalO descompasso no aumento de despesas com pessoal do Judiciário também é visto por outros especialistas como resultado da força de pressão do setor. "Eles conseguem ter esse aumento porque têm maior poder de barganha. Eles têm força para conseguir", disse o professor da FGV Sérgio Luiz Moraes Pinto.
Um exemplo dessa força vem do benefício do auxílio-moradia, que existia por meio de duas liminares concedidas monocraticamente há quatro anos pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux.
Na sexta-feira, 30, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, recorreu na Corte, pedindo a manutenção do benefício para as carreiras do Ministério Público.
Gil Castello Branco, da Contas Abertas, classifica o reajuste salarial sancionado na semana passada como "injusto". "Ainda que argumentem que são apenas reposições de perdas geradas pela inflação, o Brasil tem cerca de 13 milhões de desempregados e a enorme maioria das categorias profissionais na iniciativa privada não está obtendo o mesmo benefício."
Nelson Marconi, professor da FGV, rebate o argumento das categorias de que o reajuste não traria maiores despesas aos cofres públicos. Isso porque a remuneração no Judiciário causa o chamado efeito cascata, em que outras categorias que ganham o teto vão pedir equiparação de salários.
"Sob o pretexto de que têm autonomia decisória, o que é correto, defendem que também possuem autonomia orçamentária e daí acabam pressionando por aumentos. Como muita gente não quer ter dor de cabeça com o Judiciário, aceitam a pressão", afirmou o professor, que auxiliou o candidato derrotado do PDT à Presidência, Ciro Gomes..