Jornal Estado de Minas

POLÍTICA

Família do desaparecido político Aluízio Palhano avalia fazer funeral

Na volta ao Rio de Janeiro na semana que vem, Márcia Ferreira Pereira Guimarães vai decidir com a família se vai organizar um funeral para o pai, o sindicalista e militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) Aluízio Palhano. Desaparecido político desde 1971, o militante teve sua ossada oficialmente identificada por peritos.

A informação foi dada ao Estado por Clarisse Montuano, sobrinha-neta de Palhano e autora do documentário Um Companheiro. Nele, conta a história do tio-avô. "A família só soube da morte em 1976, cinco anos depois (do desaparecimento de Palhano). A partir daí, iniciou uma busca incessante pelo corpo. Fui a Cuba com minha mãe atrás de informações sobre o período em que ele esteve lá e descobri que, em Cuba, é um herói. Recolhemos muitos dados", contou Clarisse. Ela acrescentou que Márcia vai avaliar ainda se será possível desarquivar o processo sobre o caso no Supremo Tribunal Federal (STF).


A identificação do corpo foi anunciada publicamente na segunda-feira, 3, no 1.º Encontro Nacional de Familiares, promovido em Brasília pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos. Palhano foi vice-presidente do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), posto na ilegalidade em 1964, e posteriormente aderiu à VPR, organização armada da qual seria um dos líderes. Sua prisão e morte foram denunciadas pelo preso político Altino Rodrigues Dantas Júnior, em carta enviada ao general Rodrigo Octávio Jordão Ramos em 1978.

A denúncia era de que o sindicalista foi assassinado no DOI-CODI de São Paulo, comandado pelo major Carlos Alberto Brilhante Ustra. Palhano foi capturado devido à ação do ex-marinheiro José Anselmo dos Santos, o cabo Anselmo, um agente infiltrado na luta armada pela repressão.

Marcia recebeu na semana passada a notícia de que os ossos de Aluízio estavam numa vala comum descoberta na década de 1990 no cemitério Dom Bosco, em Perus (SP), em meio a centenas de outras ossadas.

Um dos nove irmãos de Palhano, Anísio Palhano Pedreira Ferreira, e sua mulher, Branca Eloysa Pedreira Ferreira, se tornaram ativistas ao lado do grupo Tortura Nunca Mais. Branca morreu em abril deste ano, um mês antes de o STF arquivar o processo judicial que reivindica o reconhecimento de que o sindicalista foi vítima da ditadura.

A identificação da ossada é a segunda do Grupo de Trabalho Perus - a outra, de Dimas Casemiro, integrante do Movimento Revolucionário Tirantes, foi entregue à família em agosto. Formado em 2014, o grupo engloba o Ministério dos Direitos Humanos, a Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, a Prefeitura de São Paulo e a USP, onde 1.049 caixas com restos mortais de Perus estão sendo preservados.
.