O PSL continua em pé de guerra. Mesmo depois de o presidente eleito, Jair Bolsonaro, ter dado bronca e pedido a união do partido, correligionários voltaram a se desentender. O deputado eleito Alexandre Frota (SP) acusou em um grupo de mensagens da bancada o deputado Marcelo Álvaro Antônio (MG), indicado ao Ministério do Turismo, de abrigar no governo de transição um lobista: Saulo Meira. O futuro ministro usou uma rede social para se defender e voltou a expor a legenda.
Em resposta, Álvaro respondeu que nunca soube da ligação de Saulo com o lobby da área de produtos farmacêuticos. O acusado trabalhou no Ministério da Saúde no governo da ex-presidente Dilma Rousseff e, por isso, também foi chamado de petista por Frota. “Nunca tive qualquer tipo de informação que o ligasse a tal área. Até porque todos os membros da transição do Turismo fiz questão de submeter ao crivo da Advocacia-Geral da União (AGU)”, rebateu o futuro ministro.
É o segundo atrito que vai a público em duas semanas. Na outra ocasião, alguém do partido vazou conversas entre a deputada eleita Joice Hasselmann (SP) e o deputado Eduardo Bolsonaro (SP), filho do presidente eleito, em que discutem a articulação política. Para um deputado eleito do partido, o acontecimento envolvendo Frota e Álvaro é a prova clara da falta de unidade. “É muita vaidade e disputa interna por espaço”, lamenta.
A legenda definiu, na última semana, o deputado Delegado Waldir (GO) como líder do partido até 31 de janeiro sem votação aberta e sem definir o líder para a próxima legislatura. Os acontecimentos, no entanto, abrem margem para contestação da capacidade de liderança do parlamentar. “Outros partidos já escolheram seus líderes. Está tudo sendo feito no escuro e sequer foi marcada uma data para definir isso em reunião. Estamos tentando fazer movimentos concentrados em busca de espaço na Câmara, mas, sem liderança, está difícil”, critica um deputado eleito.
As brigas são um obstáculo para o PSL fechar um bloco partidário para a composição das comissões na Câmara. As exposições passam insegurança a outras legendas. É um dos motivos pelos quais a legenda está sendo escanteada na formação do blocão que está sendo costurado por PP, DEM e PSDB, com o objetivo de ficar com as principais comissões e reconduzir Rodrigo Maia (DEM-RJ) à Presidência da Casa. As conversas também estão avançadas com PSD e PR.
No esboço atualmente desenhado pelo blocão, o PP ficaria com a presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). O PSL, no entanto, reluta em aceitar o papel de coadjuvante do processo e mantém conversas com PSD, PR, PPS, PRB e PSC. A meta, explica o deputado eleito Coronel Tadeu (PSL-SP), é mostrar força e capitanear o processo de definição das comissões. A entrada do PSL no blocão de Maia não é impossível, admite Tadeu, desde que ele deixe de lado a interlocução com a esquerda e o PT. “Rodrigo gosta de namorar muito a esquerda e isso não nos agrada. Há dois anos, se amarrou com a esquerda justamente prometendo pautar nada que fosse conservador ou de direita. Agora, o discurso mudou. Precisamos dessa pauta de direita”, ressalta.
Interlocutores do presidente da Câmara também admitem a possibilidade de união com o PSL, mas esperam sinalizações mais contundentes. Por ora, o apoio sinalizado pela bancada é misto. Uma parte cogita voto a Maia, e outra tem demonstrado maior afinidade com a candidatura do deputado João Campos (PRB-GO).