A transferência da Embaixada do Brasil de Tel-Aviv para Jerusalém não traria ganhos na relação brasileira com Israel e tiraria o País de uma posição amparada pelo direito internacional, afirmou o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.
"Não somos um País poderoso a ponto de chutar o balde quando alguma regra internacional não nos beneficia." Após o futuro governo indicar uma nova orientação diplomática do Brasil neste assunto, o premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, programou uma visita inédita ao País na próxima semana. O chanceler brasileiro afirmou também que a eleição de Jair Bolsonaro trará para o governo ideias como o nacionalismo e o "antiglobalismo", em contraponto com uma cultura política presente no País desde a redemocratização. A entrevista completa pode ser acessada no portal estadao.com.br. A seguir, os principais trechos:
Qual sua avaliação sobre o futuro governo anunciar a saída do acordo de migrações quando o sr. formalizava a participação do Brasil?
Em alguns temas, os interesses do país são mais eficientemente tutelados quando há cooperação com outros países. A cooperação não contradiz a soberania do País. A lei brasileira de migração foi aprovada pelo Congresso Nacional.
E a saída do Acordo do Clima?
As metas do Acordo do Clima, nós propusemos. Se não conseguirmos atingir, vão invadir o Brasil? Vão replantar a vegetação do cerrado na marra? Não. Tem quem ache que o aquecimento global é uma ficção. Há gente que acredita que a humanidade nasceu de Adão e Eva. É uma crença. Mas o aquecimento global é cientificamente constatado. O Brasil se engajou voluntariamente no acordo, e fico feliz quando o futuro ministro do Meio Ambiente (Ricardo Salles), transmitindo posição do presidente Bolsonaro, diz que o Brasil se manterá no acordo.
Esses ataques a ONU e ao multilateralismo são uma negação de pilar da diplomacia brasileira?
A eleição do presidente Bolsonaro foi triunfal, essa que é a verdade.
Isso é bom ou ruim?
É uma coisa nova, vai levar a um debate político. Espero que não bloqueie uma vertente importante do governo Bolsonaro que se anuncia, a vertente reformista. O aprofundamento do processo de reformas, colocado em andamento no governo Temer com resultados benéficos.
Qual sua opinião sobre a mudança da Embaixada do Brasil de Tel-Aviv para Jerusalém?
Isso (a mudança da embaixada) acrescenta ao interesse nacional? Acho que não. E (a consequência negativa) não é só a questão do comércio. É uma condição de respeito do Brasil à lei internacional.
Se a mudança ocorrer, o Brasil pode ser alvo de terrorismo?
Não vejo isso. Mas a gente não ganha nada. E é uma pauta que nunca foi colocada para nós por autoridades israelenses.
O sr. vê ganhos no alinhamento com os Estados Unidos?
Acho positiva a ideia de aprofundar os vínculos econômicos, culturais e tecnológicos com os Estados Unidos. Foi o que procuramos fazer.
O futuro da relação do Brasil com a China o preocupa?
Estive com o embaixador da China (Li Jinzhang), que se despedia. Ele tinha tido uma conversa muito positiva com o presidente Bolsonaro. Não tenho maior receio.
Estamos sendo pressionados a escolher um lado na guerra comercial entre EUA e China?
O professor (Henry) Kissinger, com quem estive em Nova York, me disse: 'Olha, vocês vão ser pressionados a tomar partido'. Acho que seremos instados a tomar partido à medida que a confrontação China-EUA adquira tonalidades mais dramáticas. Seria um erro. Não creio que o próximo governo incorra nele. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo..