Jornal Estado de Minas

''Se tiver um bandejão, vou comer lá com o pessoal da Cidade Administrativa'', diz Zema

Clécia e Sérgio, donos de self-service, lutam contra antiga fama da administração anterior (foto: Jair Amaral/EM)
Novato na política, o governador eleito Romeu Zema (Novo), que assume o comando de Minas Gerais na próxima semana, já disse e repetiu que não vai governar numa “redoma”. “Se na Cidade Administrativa tiver um bandejão, vou comer lá com o pessoal da Cidade Administrativa no bandejão”, disse o futuro mandatário três dias depois de sua vitória, em entrevista ao Estado de Minas. Tem sim, Zema. Trabalhando com sua equipe de transição na sede do governo, ele já foi visto em estabelecimentos mais ‘requintados’, que servem salmão e picanha. Ainda não compareceu, no entanto, ao Alimentex, o restaurante “popular” da Cidade Administrativa, que, na verdade, é um self-service onde se pagam R$ 20,79 por quilo e a presença do próximo chefe do Executivo está sendo ansiosamente aguardada.



“Quero ver o Zema almoçar aqui e espero que ele conheça a realidade do servidor”, afirma a pedagoga Regina Braz, de 44 anos, servidora do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), que frequenta o restaurante desde os tempos em que o local era conhecido como “morte lenta”. Situados no terceiro andar do centro comercial da Cidade Administrativa, o “morte lenta” servia a quilo e o “morte súbita”, extinto restaurante que ficava em frente, oferecia refeições à la carte.

"O preço é bom e a qualidade da comida é boa. Quero ver se o Zema vai estar aqui em janeiro. Por volta das 13h não tem fila e do prédio Gerais até aqui gasto 10 minutos a pé", diz Diogo Quintinho, de 36, servidor (foto: Jair Amaral/EM)
Apesar da mudança da administração dos restaurantes, há cinco anos, e a melhora na qualidade da comida, averiguada pela equipe do EM, que almoçou no local, o apelido pegou e os atuais donos, Sérgio Mourão e Clécia Abdon, penam para tirar a imagem negativa herdada do antigo estabelecimento. Agora, no entanto, a maior preocupação é com a licitação do restaurante, que serve mais de 1,5 mil refeições por dia. O contrato vigente vence em março e precisa entrar na pauta do futuro governador. “Trabalhamos no limite para oferecer o melhor a R$ 20,79”, diz Mourão.

E eles garantem que, para ter a fidelidade dos servidores, oferecem muito além do exigido pela licitação. Em três rampas de alimentação – termo usado para denominar a estrutura onde é servida a comida, resfriada ou em banho-maria –, a clientela tem à escolha 37 tipos de salada, quatro tipos de carne, dois tipos de arroz, feijão preto e carioquinha, macarrão e legumes, entre outras opções.



CAPRICHO NO PRATO “Não colocamos carne nas guarnições para atender também os vegetarianos e veganos”, explica Clécia. “O filezinho empanado de frango não pode faltar e é um dos carros-chefe. Cozinhamos somente com alho e sal, sem conservantes e, de duas a três vezes por semana, colocamos salgadinhos fritos entre as guarnições”, diz.

Mesmo com todo o capricho, o atual governador Fernando Pimentel (PT) e seus antecessores, Alberto Pinto Coelho (na época, PP, e, atualmente, no PPS), Antonio Anastasia (PSDB) e Aécio Neves (PSDB) nunca estiveram no restaurante, segundo os donos do estabelecimento, que tem mais de 200 mesas e 800 cadeiras para receber o público. “Pelo menos eu nunca vi e nunca me disseram que viram”, afirma Mourão.

Chef dos restaurantes Khios e Kigai, Patrícia Cavalcanti diz que Zema já visitou local e enfrentou fila (foto: Jair Amaral/EM)
Em compensação, o servidor efetivo Diogo Quintino, de 36, bate ponto quase todo dia no Alimentex. “O preço é bom e a qualidade da comida é boa. Quero ver se o Zema vai estar aqui em janeiro”, diz. E ele dá a dica para o governador: “Por volta das 13h não tem fila e do prédio Gerais até aqui gasto uns 10 minutos a pé”, ensina.



Cardápio fitness para Zema

Em vez do restaurante popular da sede do governo mineiro, o futuro governador Romeu Zema (Novo) virou cliente dos estabelecimentos do prédio Gerais, onde está concentrada a equipe de transição. Volta e meia, é visto almoçando nos self-services do nono andar do edifício. Enquanto secretários circulam com frequência pelo espaço, os responsáveis pelos três restaurantes da área afirmam que Zema é o primeiro governador a fazer parte da clientela. Por lá, pelo prato de Zema, já deu para perceber que o governador é fitness e adepto da alimentação saudável. O empresário evita carboidratos, como arroz e massas, e prioriza legumes e carnes brancas.

Apesar de serem mais requintados do que o Restaurante Alimentex, os estabelecimentos estão longe de ser sofisticados e o local se assemelha a uma pequena praça de alimentação de shoppings centers, com preços que variam de R$ 32,90 a R$ 68,90 o quilo, no caso da comida japonesa, da qual o coordenador da transição de Zema, o vereador licenciado Mateus Simões (Novo), é fã.

O futuro mandatário já esteve por algumas vezes na praça de alimentação do nono andar, mas, agora, tem preferido pedir a refeição a almoçar no espaço destinado às mesas dos restaurantes. Os próprios funcionários dos estabelecimentos montam a marmita e entregam a emissário da equipe de transição, que busca e paga pela refeição.



Quatro empresas são cadastradas para fornecer marmitas na Cidade Administrativa, com direito a entrega nos locais de trabalho (foto: Jair Amaral/EM)
Já houve situações também de montar um pequeno bufê para as reuniões do time de Zema. “Servimos o almoço para uma reunião e Zema pediu coisas simples, sem precisar de inventar. Levamos salmão e picanha, porque é o que já tem aqui no restaurante normalmente. Montei prato com legumes, folhas, porque ele corre e faz exercício”, explica a chef dos restaurantes Khios e Kigai, Patrícia Cavalcanti. O governador eleito também já esteve no estabelecimento. “Já veio três vezes e enfrentou fila”, lembra Patrícia.

Central de marmitex

Entre as opções de almoço na Cidade Administrativa, o governador eleito Romeu Zema (Novo) pode encomendar um marmitex com uma das quatro empresas cadastradas para fornecer esse tipo de alimentação: o Almoço do Fernandão, o Cafofo do Bin Laden, o Bem Feitinho e o Requinte. O servidor escolhe o tamanho – míni, pequena, média e grande – e o prato do dia pelo WhatsApp. A entrega ocorre no ponto de distribuição de marmitas, entre as 11h30 e as 12h20, e os funcionários públicos comem nos refeitórios de cada andar dos prédios.

Os preços variam de R$ 9 a R$ 13. As marmitas são levadas em caixas de isopor, com temperatura adequada às exigências da Vigilância Sanitária. Servidor da secretaria de Educação, Winder Batista, de 43 anos, explica a fila que se forma em frente à mesa do Bem Feitinho. “É dia de tropeiro. Sexta tem feijoada e a fila vai até o elevador”, conta. A empresa tem a preferência dos consumidores e fornece, em média, 70 refeições por dia.

As marmitas já vem com o nome de cada cliente, tudo “bem feitinho”, mas o dono, Marcial Ferraz, que está há seis anos na Cidade Administrativa, assegura: nunca grafou o nome de nenhum governador na tampa de nenhuma embalagem. E desconfia que um dia isso aconteça. “Acho que pela importância do governador, ele não vai comer nunca com a gente”, desconfia. Se Zema fugir à regra, no entanto, Marcial avisa: “Temos uma marmita fitness, com frango e legumes”, comenta.