Prometendo apresentar um Brasil "sem amarras ideológicas", o presidente Jair Bolsonaro concentrará sua agenda bilateral em Davos em encontros exclusivamente com governos conservadores, nacionalistas e que fazem parte de um movimento que contesta o que chamam de "globalismo".
A agenda do brasileiro inclui encontros com Polônia, República Tcheca, Japão, Itália e Suíça, todos comandados por governos com forte características de questionamento do atual sistema e pautado em assuntos que tocam em temas como soberania e rejeição às instituições internacionais.
Na quarta-feira, 23, Bolsonaro vai se reuniu com o governo da Itália, com um forte discurso anti-imigração.
O caso de Cesare Battisti deve estar na pauta e fontes em Roma confirmaram ao jornal O Estado de S. Paulo que os italianos querem abrir um "novo capítulo" na relação bilateral, como resposta ao gesto brasileiro. Bolsonaro estará com o primeiro-ministro, Giuseppe Conte, que, no dia da prisão de Battisti, telefonou para negociar com o brasileiro uma deportação direta do condenado, sem passar pelo Brasil.
O presidente brasileiro também tem um encontro fechado com o primeiro-ministro do Japão, Shiunzu Abe, eleito com uma plataforma nacionalista.
Bolsonaro ainda se reunirá com o presidente da Polônia, Andrzej Duda, alvo de polêmicas por ser acusado de violar a constituição de seu país para escolher seus próprios juízes da Suprema Corte. Ele também manobrou para assinar uma lei em que passaria a ser ilegal acusar a "nação polonesa" por cumplicidade no Holocausto.
A agenda incluiu uma reunião com o primeiro-ministro da República Tcheca, Andrej Babis. Ele é um forte crítico da abertura de fronteiras para imigrantes e insiste que é contra o euro.
Outro encontro bilateral de Bolsonaro no dia 23 será com o presidente da Suíça, Ueli Maurer, que lidera o partido de direita no país alpino. Maurer é do Partido do Povo Suíço que, há poucos anos, criou uma polêmica internacional ao fazer uma publicidade sugerindo que as ovelhas brancas chutassem para fora da Suíça as ovelhas negras.
O encontro tem sido alvo de debates, já que partidos políticos de centro e esquerda querem garantias de que Maurer também tratará de temas como meio ambiente, democracia e direitos humanos com Bolsonaro.
Contraste
A agenda se contrasta com a promessa do tom do discurso oficial, em que Bolsonaro supostamente vai falar nesta terça-feira ao meio dia do horário brasileiro que o País está disposto a fazer negócios com "todos os países do mundo". Antes de chegar a Davos, Bolsonaro insistiu nas redes sociais que anunciaria que o "Brasil mudou" e que estaria livre das "amarras ideológicas".
Na manhã desta terça, saindo pela garagem de seu hotel em Davos, Bolsonaro fez um rápido passeio pela cidade suíça.