Uma discreta aproximação entre o governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), e o presidente da Assembleia Legislativa fluminense, André Ceciliano (PT), isolou o PSL e deverá deixar o partido do presidente Jair Bolsonaro fora do comando do Legislativo do Rio. A articulação ocorreu enquanto o presidente da legenda no Estado, senador eleito Flávio Bolsonaro, enfrentava as consequências da divulgação de um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que o fragilizou.
O documento apontou movimentações financeiras atípicas e incompatíveis com a renda de um ex-assessor de Flavio, Fabrício Queiroz. A bancada não teve como substituir o candidato a presidente que apoiava, André Corrêa (DEM), preso na Operação Furna da Onça. A falta de experiência dos pslistas facilitou a ação de Ceciliano em direção a Witzel.
Detentor da maior bancada da Casa, com doze dos 70 deputados, o PSL, após a euforia da vitória em outubro, chegou à Alerj fazendo exigências. Tinha como metas tirar o PT da presidência do Legislativo, que queria para si, e tomar o comando da Comissão de Direitos Humanos do PSOL, que a controla desde 2009.
O primeiro pré-candidato a presidente da Assembleia pela legenda foi o deputado Rodrigo Amorim. Ele ficou conhecido por quebrar uma placa em homenagem à vereadora assassinada Marielle Franco (PSOL), ao lado de Witzel. Ganhou apoio de Flávio durante a campanha, que o acompanhou em diversos compromissos no Rio, o que provavelmente foi decisivo para a sua votação. O tom de imposição das exigências do PSL, feitas por uma bancada de novatos, porém, irritou os parlamentares mais antigos, de outros partidos, acostumados a negociar cargos e atender aos partidos mais influentes da Casa.
O PSL também se dividiu, e o consenso em torno de Amorim tornou-se impossível.
Diante desse cenário, cresceu a candidatura de Ceciliano. Ele preside interinamente a Alerj desde que o presidente Jorge Picciani (MDB) foi preso, em 2018.
O nome de Ceciliano também apareceu no relatório do Coaf. Segundo o documento, três pessoas ligadas ao presidente da Alerj, entre eles dois servidores - movimentaram entre 2011 e 2017 cerca de R$ 45 milhões. Ceciliano negou irregularidades e abriu voluntariamente seus sigilos telefônico e bancário para procuradores que investigam o caso no Ministério Público do Rio.
Posse inviável. Nesta quinta, o Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF - 2) negou pedido de três deputados da Alerj, Luiz Martins (PDT), Marcos Abrahão (Avante) e Chiquinho. Eles queriam uma "saída temporária" da prisão para tomar posse na nova legislatura.