Brasília – Faz tempo que Brasília não vê tantas mudanças. Na sexta-feira, houve novo capítulo, com a posse dos novos deputados e senadores eleitos no ano passado. É uma renovação como não se vê desde a redemocratização, nos anos 1980, quando novas lideranças começaram a despontar no Congresso Nacional. O resultado disso ainda é uma incógnita, embora se note a tendência de facilidade para a aprovação de medidas liberais na economia, como privatizações e reformas, e conservadora nos costumes, incluindo a facilitação de porte de armas ou a redução do direito de aborto, que pode ocorrer hoje em casos de estupro ou de risco à saúde da mãe, por exemplo.
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Na Câmara, há 251 novos deputados, mais do que os 244 que foram reeleitos.
O critério principal para a ganhar o apoio das urnas foi a rejeição ao sistema anterior. “Eles foram eleitos por ser contra tudo o que está aí, mas não necessariamente por ter propostas”, aponta Antonio Augusto de Queiroz, diretor de Documentação do Departamento Intersindical de Análise Parlamentar (Diap).
A consonância entre a sociedade e as decisões que o novo Congresso vier a aprovar é, ainda, algo desconhecido, na avaliação de Queiroz. “A eleição trouxe maior diversidade ao Parlamento, com mais negros, índios e mulheres. Por outro lado, alguns grupos ganharam representação maior da sociedade como um todo, incluindo lideranças evangélicas, militares, policiais, celebridades e parentes de políticos.
Para Calmon, a polarização que se viu nas eleições estará presente no novo Congresso, o que poderá levar a confrontos na tribuna. O resultado prático, porém, ainda é difícil de avaliar. A dinâmica do Congresso vai depender, na avaliação de Queiroz, da atuação de três núcleos do governo: o econômico, o jurídico e o de costumes. “O que importa mais ao governo realmente é aprovar as medidas do primeiro. Os demais vão entrar para desviar a atenção da discussão das medidas econômicas, de cunho liberal fundamentalista”, argumenta.
A capacidade do governo de negociar com o Legislativo é algo que preocupa o filósofo Roberto Romano, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Aparentemente, não existem pessoas suficientemente competentes nas negociações com o Congresso. Assim, repete-se à direita o que fez Dilma Rousseff, ao colocar Aloísio Mercadante e Gleisi Hoffmann para fazer isso”, argumenta.
Depois das eleições dos integrantes da Mesa, restam as definições de comando das comissões.