A eleição de Davi Alcolumbre (DEM-AP) para a presidência do Senado representa uma vitória do governo de Jair Bolsonaro e, mais ainda, do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Alcolumbre ganhou ontem a queda de braço com o senador Renan Calheiros (MDB-AL). Mesmo assim, o Palácio do Planalto sai com escoriações do confronto e pode enfrentar dificuldades para aprovar projetos na Casa, como a reforma da Previdência, considerada essencial para o equilíbrio das contas públicas.
Articulador político do Planalto, Onyx interferiu na disputa ao apoiar Alcolumbre e articular uma frente para derrotar Renan, que renunciou à candidatura quando viu que iria perder o jogo após 12 senadores terem votado. Investigado pela Lava Jato, Renan teve apenas cinco votos e o senador do DEM, 42 de um total de 77.
Em uma sessão de quase nove horas, marcada por xingamentos, bate-boca e até denúncia de fraude, Alcolumbre foi eleito para um mandato de dois anos, até janeiro de 2021. É a primeira vez que o DEM comanda as presidências da Câmara e do Senado (mais informações na pág. A7).
Reconduzido ao cargo na sexta-feira, o deputado Rodrigo Maia também é do DEM, mas venceu a eleição na Câmara sem a ajuda do Planalto. Onyx não queria a candidatura de Maia, mas teve de aceitá-la porque o deputado conseguiu angariar apoio da esquerda à direita, incluindo o do PSL, partido de Bolsonaro. Quarta bancada do Senado, com apenas seis integrantes, o DEM também comanda três ministérios (Casa Civil, Agricultura e Saúde).
Até mesmo aliados do presidente Bolsonaro admitem, nos bastidores, que o empenho de Onyx em derrotar o experiente Renan terá impacto sobre votações de interesse do governo.
Agenda. Na lista de prioridades do governo está a reforma da Previdência, que a equipe econômica quer encaminhar ao Congresso até o fim do mês. Há também projetos de mudanças tributárias, privatizações e uma agenda conservadora de costumes.
Ao medir forças com Renan e dar estocadas em Maia, Onyx desagradou ao ministro da Economia, Paulo Guedes. A equipe econômica sempre avaliou que Maia e Renan teriam mais pulso para conduzir votações estratégicas no Congresso, principalmente a reforma da Previdência, um tema árido que enfrenta resistências e requer o aval de 308 votos na Câmara e 49 no Senado, em duas votações. Além disso, a proposta de mudanças na aposentadoria planejada por Onyx é mais suave do que a de Guedes.
"Espero e confio que possamos entregar essa Casa, ao fim deste biênio, com o País retomando os trilhos do desenvolvimento e da prosperidade, enfrentando as reformas complexas que, com urgência nosso País reclama, com um Legislativo forte e reabilitado com a cidadania, que não se curve à intromissão amesquinhada do Poder Judiciário ou de qualquer outro poder", disse Alcolumbre após o triunfo.
Foi uma resposta ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, que na madrugada de ontem atendeu a pedido do MDB e do Solidariedade e determinou que a sessão do Senado fosse secreta, como manda o regimento da Casa. A reação não tardou: em uma segunda votação, aliados de Alcolumbre mostraram suas cédulas para as câmeras.
Renan contava com o apoio de Flávio. Tinha até mesmo feito acenos de que, caso chegasse ao comando do Senado, barraria tentativas de investigar o colega no Conselho de Ética pelo caso envolvendo movimentações atípicas de seu ex-assessor Fabrício Queiroz.
Depois de muito tumulto, Renan subiu à tribuna e, irritado, anunciou sua renúncia. "Davi não é Davi. É o Golias. O Davi sou eu. Ele (Alcolumbre) atropela o Congresso. O próximo passo é o Supremo Tribunal Federal sem o cabo e sem o sargento. Estou saindo do processo por entendê-lo deslegitimado", afirmou o senador.
Fraude. Foram necessárias duas votações porque houve suspeita de fraude na primeira, que acabou anulada. Na urna havia 82 cédulas, quando o número de senadores é de 81. Na prática, o processo eleitoral no Senado começou na sexta-feira, mas, após mais de cinco horas de discussões, manobras e troca de ofensas, além do "roubo" da pasta de condução dos trabalhos, a disputa foi adiada para ontem.
O senador Esperidião Amin (PP-SC), teve 13 votos; Ângelo Coronel, 8; José Reguffe (sem partido-DF), 6, e Fernando Collor (PROS-AL), que teve o aval do vice-presidente Hamilton Mourão, obteve 3. Major Olímpio (PSL-SP), Álvaro Dias (Pode-SP) e Simone Tebet (MDB-MS) abandonaram a corrida, em estratégia sob medida para "descarregar" votos em Davi. A desistência de Major Olímpio foi combinada com Flávio Bolsonaro.
Com 41 anos e apresentado por seus apoiadores como símbolo da renovação na política, Alcolumbre também acumula polêmicas no currículo: votou contra a cassação do então senador Aécio Neves (PSDB-MG), em 2017, e "puxou" seu irmão para ser seu suplente. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo..