Para o historiador e cientista político Boris Fausto, o Brasil nunca esteve tão dividido como hoje e a existência de diferentes visões deve se refletir no Congresso que tomou posse nesta sexta-feira, 1.º. "Houve divisões na sociedade no passado, mas nesse grau e nessa consistência, nunca tivemos."
Para o historiador e cientista político Boris Fausto, o Brasil nunca esteve tão dividido como hoje e a existência de diferentes visões deve se refletir no Congresso que tomou posse nesta sexta-feira, 1.º. "Houve divisões na sociedade no passado, mas nesse grau e nessa consistência, nunca tivemos."
Qual a avaliação do sr. sobre o perfil deste novo Congresso?
É preciso acompanhar o que vai fazer essa grande bancada do PSL (na Câmara, com 52 deputados). Tem muita gente nova e não sabemos se vão se comportar maciçamente votando sempre a favor do governo, ou se uma parte terá independência em casos que contrariem sua opinião. Os sinais indicam que é uma salada composta de muitos elementos, sem unanimidade. Quando o grupo foi para a China, por exemplo, produziu indignação nos setores mais ideológicos do bolsonarismo. Vejo que esses votos, aparentemente, não são garantidos.
Como a divisão da sociedade pode se refletir no Congresso?
É saudável haver disputas, conflitos e opiniões divergentes na sociedade desde que tenham um mínimo denominador comum e que pelo entendimento cheguem a algum consenso. Quando não há isso, não tem diálogo. Houve divisões na sociedade brasileira no passado, mas nesse grau e nessa consistência, nunca tivemos. Por exemplo, o getulismo e antigetulismo.
O discurso do governo estimula essa divisão?
Essa corrente de direita a que o Bolsonaro está associado encontrou um inimigo no chamado comunismo internacional, com determinações internas. Hoje, se criou essa fantasia e não se criou por propósitos inocentes. É a ideia de juntar uma porção de correntes e pessoas nesse "perigoso inimigo" construído que é a esquerda, o marxismo, a influência cultural gramsciana, com esse propósito de criar "nós e eles".
Como acredita que deve agir a oposição no governo Bolsonaro?
A oposição tem de ser de combate responsável e de reconstrução. Não é oposição por oposição, a favor de que nada dê certo, mas de vigilância. A oposição vai ser forçada a evitar o deslize para a corrupção interna da democracia, mais do que apoiar um ou outro ato do governo. Com relação a projetos que façam sentido do ponto de vista nacional, como a Previdência e uma reforma tributária, na dependência de como forem, não vejo porque fazer uma oposição cerrada a qualquer preço, contrariando um interesse nacional. Numa situação em que os partidos, e a esquerda sobretudo, foram fortemente atingidos, a tendência à aglutinação e aproximação das pessoas é muito forte.
Qual seria a participação do PT em um eventual bloco de esquerda no Congresso?
O PT deveria ir por uma linha mais flexível se quiser ter papel relevante na união das esquerdas.