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Estado de Minas

Filhos de Bolsonaro têm condutas opostas, confira

Enquanto Eduardo Bolsonaro circula quase como um 23º ministro no governo, o irmão mais velho, Flávio, é acuado pela investigação de ex-assessor e pressionado nas redes


postado em 04/02/2019 06:00 / atualizado em 04/02/2019 08:12

O deputado federal Eduardo Bolsonaro e caçula entre os herdeiros do presidente que seguiram o caminho da política tem influência na indicação de ministros(foto: Valter Campanato/Agência Brasil)
O deputado federal Eduardo Bolsonaro e caçula entre os herdeiros do presidente que seguiram o caminho da política tem influência na indicação de ministros (foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

Sem ocupar nenhum cargo no governo do presidente e pai Jair Bolsonaro, Flávio e Eduardo vivem momentos distintos na carreira política. Enquanto o primeiro assumiu o mandato de senador fragilizado pelas investigações das movimentações financeiras de um ex-assessor seu pelo Coaf, o segundo assume protagonismo no novo governo mesmo sem ter feito da equipe de transição ou integrar a assessoria pessoal do pai. Terceiro dos cinco filhos do presidente e o caçula entre os três que se fizeram na política à sombra do pai, Eduardo, de 34 anos, é o herdeiro que tem se mostrado mais à vontade até agora no governo.


Embora reeleito com quase 2 milhões de votos, a maior votação já obtida por um deputado federal, ele parece mais envolvido com o dia a dia do Executivo do que com as questões mais urgentes do Congresso, como as articulações para formação de um bloco de apoio às reformas, em especial a da Previdência, considerada fundamental para o equilíbrio das contas públicas. Já Flávio, de 48 – o mais velho – está acuado e chegou ao Congresso de forma discreta na sexta-feira, após derrota na Justiça, com o ministro Marco Aurélio Mello negando foro privilegiado a ele nas investigações do Ministério Público do Rio de Janeiro sobre a movimentação suspeita de R$ 1,2 milhão de seu ex-assessor Fabrício José Carlos Queiroz.

O senador Flávio Bolsonaro assumiu o mandato de forma discreta e teve de abrir o voto na eleição para presidência do Senado após ser criticado por aliados(foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil )
O senador Flávio Bolsonaro assumiu o mandato de forma discreta e teve de abrir o voto na eleição para presidência do Senado após ser criticado por aliados (foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil )


Sob pressão

Para aliados, recorrer ao Supremo pleiteando foro para uma investigação que envolve um assessor e ainda não chegou a Flávio teria sido um erro do agora senador. Discreto na posse e se mostrando fragilizado, Flávio passou por novo constrangimento no sábado, na eleição para a presidência do Senado. O senador do PSL afirmou que não abriria seu voto nas eleições secretas para a Mesa Diretora. “Sou a favor do voto aberto, mas nessa ocasião específica, por ser filho do chefe de outro Poder, optei por não abrir meu voto, para evitar especulações com intuito de prejudicar o governo”, escreveu no Twitter com a primeira votação em curso no plenário do Senado.


Recebeu uma saraivada de críticas de seus seguidores nas redes sócias, que chegaram a acusar o senador de ter a intenção de votar em Renan Calheiros (MDB-AL) em segredo. Por suspeita de fraude, a primeira votação no Senado foi anulada. Flávio Bolsonaro ganhou tempo e pouco mais de uma hora após votar de forma sigilosa, voltou à rede social para anunciar: “Após essa fraude na urna e para que não pairem dúvidas, declaro meu voto em Davi Alcolumbre para presidência do Senado”, publicou, após declarar o mesmo no Senado. Sua atitude forçou Calheiros a abrir mão de sua candidatura, abrindo caminho para a eleição de Davi Alcolumbre (DEM-AP). Escolhido para ser o protagonista do governo no Senado, Flávio perde espaço.


Como uma espécie de 23.º ministro, com o cacife reforçado pelos laços familiares com Bolsonaro, Eduardo, ao contrário do irmão, circula com desenvoltura nos corredores do poder, pontifica sobre as diretrizes do governo, faz contatos internacionais em nome do pai, à margem do Itamaraty, e foi o único parlamentar a acompanhar o presidente ao Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. Nos bastidores, ele manobra como qualquer representante da “velha política”, para emplacar nomes de seu relacionamento no primeiro e no segundo escalões e interferir na redistribuição de órgãos entre ministérios.

Ativista


Considerado o representante mais ideológico do clã, ele teve participação ativa na nomeação do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, cuja indicação foi atribuída ao escritor e pensador Olavo de Carvalho, de quem é um fiel seguidor e a quem chama de “o maior filósofo brasileiro vivo”. Como ativista inflamado contra o que classifica de “marxismo cultural”, presente, em sua visão, nas universidades, nas escolas, na mídia e no mundo do entretenimento, ele teria se envolvido também, segundo quem acompanhou a formação da equipe de Bolsonaro, na nomeação do ministro Ricardo Vélez Rodriguez, da Educação, outro integrante do governo indicado por Olavo.


Em sua cota pessoal, destacam-se as indicações de Filipe G. Martins, assessor de Assuntos Internacionais da Presidência, que o acompanha há anos, e as da empresária Letícia Catelani, sua ex-namorada, e do ex-assessor parlamentar Márcio Coimbra, para diretorias da Agência Brasileira de Promoção das Exportações (Apex), com salários na faixa de R$ 40 mil. Antes, com o apoio de Araújo, ele já havia convencido Bolsonaro a manter a Apex com o Itamaraty, contra a demanda do ministro Paulo Guedes, da Economia, que queria o órgão sob seu comando.


Flávio Bolsonaro continuará acuado pelas investigações envolvendo seu ex-assessor, que foram retomadas na sexta-feira depois de serem suspensas temporariamente pelo presidente do STF, ministro Dias Tofolli. Novos desdobramentos podem atingir o senador e deixá-lo em posição ainda mais incômoda dentro do governo, principalmente em relação aos ministros militares do governo. Terá de ver o irmão deputado surfar no sucesso político, enquanto tenta não se deixar atingir pelas acusações contra seu ex-assessor e que envolvem, além dele, uma dezena de deputados estaduais do Rio de Janeiro. São dois filhos e dois momentos no clã Bolsonaro.

 

Enquanto isso... Carlos é o mais próximo do pai

 

Vereador Carlos Bolsonaro(foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo)
Vereador Carlos Bolsonaro (foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo)

Vereador no Rio de Janeiro e diferentemente dos irmãos, Carlos Bolsonaro é o filho do meio e o mais próximo do presidente Jair Bolsonaro, segundo pessoas próximas à família. É também o mais impulsivo e com histórico de aversão à imprensa e paixão pelas redes sociais. Foi cogitado para ser o assessor do Comunicação Social no governo, mas não chegou a ficar até o fim na equipe de transição. Saiu acusando e dizendo que morte do seu pai interessaria não apenas a sues inimigos como também a pessoas próximas a ele.

Carlos é quem está acompanhando o pai na cirurgia para a retirada da bolsa de colostomia, no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. É de lá que ele noticiou uma recaída do paí na sexta-feira. Bolsonaro continua usando uma sonda nasogástrica (colocada pelo nariz) para retirar líquido acumulado no estômago. De acordo com a assessoria do Planalto, Bolsonaro descansou bem à noite e, mesmo com o uso da sonda. Carlos passou a noite no hospital.


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