A grave e precoce crise no governo federal envolvendo o PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, se arrasta a partir de ameaças, acusações e riscos de desequilíbrio na base parlamentar, prestes a receber o projeto de reforma da Previdência. Ao longo do dia, o ministro-chefe da Secretaria-Geral, Gustavo Bebianno, insistiu em se manter no cargo e chegou a advertir o Palácio do Planalto. Vinte e quatro horas depois de uma postagem do vereador fluminense Carlos Bolsonaro acusando Bebianno de ter mentido ao dizer que havia falado por três vezes com o chefe do Executivo sobre o esquema de laranjas envolvendo candidaturas do PSL, os interlocutores civis e militares tentavam encontrar uma saída para o caso.
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Parlamentares criticam excessos cometidos por Carlos BolsonaroCarlos Bolsonaro diz estar sendo atacado por 'dizer a verdade'Primo de Carlos Bolsonaro seria 'olhos e ouvidos' do vereador no PlanaltoBolsonaro decide manter Bebianno no governo, dizem aliadosApuração pedida por Bolsonaro depende da Justiça EleitoralBolsonaro não abre agenda para BebiannoO recado é claro e, segundo integrantes do Planalto, foi reforçado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, amigo de Maia. O desconforto sinalizado pelo presidente da Câmara, no entanto, se deve à ausência de articulação com o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.
Depois do susto com a publicação de Carlos Bolsonaro contra Bebianno, os militares — incluindo o vice Hamilton Mourão — tentaram agir para debelar a crise, que aumenta com o passar do tempo. A dificuldade foi definir a estratégia, pois há um incômodo sobre a atuação do vereador desde a campanha, passando pela posse — quando Carlos desfilou em carro aberto sentado na capota recolhida, atrás do pai e da madrasta, Michelle Bolsonaro — e ao longo dos primeiros 45 dias de governo, principalmente com as postagens feitas no hospital, ao lado do chefe do Executivo. “Não havia entendido a razão de ele desfilar naquele carro aberto. Não fazia sentido, mas agora fica claro a unidade entre o filho e Bolsonaro”, disse um oficial das Forças Armadas.
Entre quarta-feira e ontem, Bolsonaro se reuniu com os ministros do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno; da Defesa, Fernando Azevedo; e da Secretaria de Governo, Santos Cruz. Conselheiros próximos a Bolsonaro, os generais alertaram para o risco de o governo passar uma imagem de enfraquecimento político em caso de demissão sem sequer dar a oportunidade de Bebianno se justificar.
Congresso
A disputa de poder preocupa aliados no Congresso. Deputados temem que a instabilidade política interfira na aprovação da reforma da Previdência. Maia tem o poder da caneta na Câmara e pode pautar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) apenas se quiser. “E isso pode levar a pauta principal do país a ficar em segundo plano”, ponderou um deputado.
Dentro do PSL, a expectativa é de que tudo se resolva o quanto antes. Os deputados da legenda avaliam ser dever do governo aparar as arestas por entender que a bancada não tem nada a ver com a polêmica. Mas temem que a lentidão em dar uma resposta à situação de Bebianno respingue no partido.
Apesar dos esforços de Bebianno, a permanência é vista como improvável. Depois das acusações de Carlos Bolsonaro, o ministro tentou fortalecer a estrutura da Secretaria-Geral, ampliando o quadro de assessores especializados em crises de imagem. O desejo, no entanto, foi vetado, sob argumento de que não pegaria bem ao Planalto chamar mais gente para uma pasta que já é tratada como morta. ( Colaborou Bernardo Bittar).