Brasília – Depois de um dia inteiro sem abrir espaço na agenda para o ministro Gustavo Bebianno, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) se reuniu com o titular da Secretaria-Geral da Presidência no fim da tarde. Nos bastidores do Planalto, a informação era de que Bolsonaro teria comunicado ao ministro sua exoneração, que só deve ser oficializada na segunda-feira. Bebianno, por sua vez, teria avisado: se tiver de deixar o governo, terá de ser buscada “uma saída honrosa”. O ministro cobrava uma conversa com o presidente desde que foi chamado publicamente pelo chefe de “mentiroso”. A reunião de ontem foi articulada por outros ministros, com a participação também do vice-presidente Hamilton Mourão.
Gustavo Bebianno enfrenta uma crise envolvendo Carlos Bolsonaro, um dos filhos do presidente. Na quarta-feira, Carlos, vereador no Rio, divulgou um áudio do pai para dizer que é uma “mentira absoluta” que Bebianno tenha conversado com o presidente na véspera. A publicação de Carlos foi compartilhada pelo pai, horas depois. Em entrevista no mesmo dia, Bolsonaro disse ser “mentira” que tivesse falado com o ministro sobre o caso das candidaturas laranjas do PSL. Desde então, há pressão no Palácio do Planalto pela demissão de Bebianno.
Um esquema de candidaturas laranjas que receberam repasses volumosos do fundo partidário do PSL no ano passado foi revelado pelo jornal Folha de S.Paulo. O ministro comandou o partido durante a última eleição, em uma campanha marcada por discurso de ética e de combate à corrupção por Bolsonaro.
No início da tarde de ontem, o presidente surpreendeu sua equipe ao chegar ao Palácio do Planalto, já que a ida dele não estava prevista na agenda oficial. Como está em fase de recuperação, a expectativa inicial era de que Bolsonaro só voltasse a despachar no Planalto na próxima semana.
Quando ele chegou, Bebianno tinha deixado o prédio cerca de 15 minutos antes. O ministro não teve agenda oficial. Seu único compromisso no Planalto foi a reunião com os colegas da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e da Secretaria de Governo, Alberto Santos Cruz, responsáveis por comunicar qie ministro que, por ora, ele continua na Esplanada.
Bolsonaro deixou o local três horas depois. Interlocutores do presidente afirmam que ele decidiu atender aos apelos políticos e manter Bebianno no cargo. Ele havia passado a manhã reunido com ministros e assessores no Alvorada para costurar o fim da crise que envolve diretamente Carlos Bolsonaro. Também se reuniu com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Segundo fontes, o presidente concordou com a avaliação de auxiliares próximos da necessidade de afastar Carlos de questões do governo.
Mas a informação de que o filho do presidente será “controlado” a partir de agora causa desconfiança de que essa parte do acordo será realmente cumprida. Carlos tem feito ataques a membros do governo e divulgou o áudio de Whatsapp do pai para corroborar seu ataque a Bebianno, a quem chamou de mentiroso.
FILHOS-PROBLEMA A disputa entre o filho de Bolsonaro e o ministro é antiga. Bebianno deixou vazar ainda na época da transição de governo que o vereador integraria o governo, o que provocou críticas até mesmo de eleitores de Bolsonaro nas redes sociais condenando o nepotismo. Esse movimento tirou de Carlos a chance de despachar do Planalto.
Onyx e Santos Cruz foram ao encontro de Bebianno após conversar com o presidente sobre o caso. Preocupados com a ação dos filhos, que em vários momentos têm trazido diferentes crises para o governo e com a proteção que eles têm recebido do pai, os “bombeiros” do Planalto entraram em campo.
Mais do que proteger Bebianno, esses interlocutores do presidente estão convencidos de que “é preciso estancar” essa ação dos filhos de Bolsonaro, que estariam prejudicando o país. Lembram que misturar família e governo nunca deu bons resultados e isso, mais uma vez, está sendo provado com seguidos episódios nestes menos de dois meses de nova administração.
Em evento em uma fazenda em Sorriso, a 420km de Cuiabá, o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que o presidente vai ‘botar ordem’ nos filhos. “Essas questões são internas. Os filhos são um problema de cada família. Tenho certeza de que o presidente, em momento aprazado e correto, vai botar ordem na rapaziada dele”, afirmou Mourão.
A crise, a maior em um mês e meio de governo, ocorre no momento em que o Planalto tenta manter coesão para as negociações da pauta de votação mais importante no Legislativo, a da reforma da Previdência.
Entenda o caso
Em meio a denúncias de supostas irregularidades nas candidaturas do PSL, o ministro da Secretaria-Geral, Gustavo Bebianno (foto), disse ao O Globo, na terça-feira passada, que o caso não criou crise no governo e tinha conversado sobre o assunto com o presidente Jair Bolsonaro – naquele momento internado. “Não existe crise nenhuma. Só hoje falei três vezes com o presidente”, afirmou o ministro. No dia seguinte, Carlos Bolsonaro escreveu no Twitter: “É uma mentira absoluta de Bebianno que ontem teria falado três vezes com Bolsonaro”. Também postou: “Não há roupa suja a ser lavada! Apenas a verdade: Bolsonaro não tratou com Bebianno o assunto exposto pelo O Globo como disse que tratou”. Horas depois, Bolsonaro retuitou as mensagens. Numa entrevista à noite divulgada pela TV Record, o presidente disse que Bebianno poderia “voltar às origens” caso estivesse envolvido em irregularidades.
Sem declarações
Pivô da crise no governo de seu pai, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC) foi ontem à Câmara Municipal do Rio, mas deixou a sessão antes de a votação acabar por falta de quórum e sem falar com a imprensa. A Casa só voltou ontem do recesso parlamentar, que começou em 26 de dezembro. Antes de ir embora, Carlos compartilhou em suas redes sociais a foto de um requerimento de outro vereador para homenagear o vice-presidente Hamilton Mourão na Câmara Municipal. “Assinando pedido de colega para oferecer a Medalha Pedro Ernesto para o general Mourão”, escreveu. Mourão tem demarcado diferenças em relação ao presidente Bolsonaro, em entrevistas diárias. Carlos já insinuou no Twitter que o vice gostaria de substituir seu pai na presidência. A homenagem foi proposta pelo vereador Jimmy Pereira, do PRTB, partido de Mourão.