Brasília – A demissão do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, já foi assinada pelo presidente Jair Bolsonaro e enviada para ser publicada no Diário Oficial da União (DOU) de amanhã. Nos últimos dias, políticos e militares tentaram interceder a favor de Bebianno, mas o presidente está irredutível e, segundo apurou a reportagem, planeja nomear um general para o lugar do ministro. Se isso ocorrer, será o nono militar a ocupar o primeiro escalão da Esplanada. Atualmente, o secretário-executivo da pasta é o general Floriano Peixoto. Em conversas reservadas, Bolsonaro avaliou que o chefe da Secretaria-Geral quebrou a relação de confiança com ele ao “vazar” áudios de diálogos entre os dois. O ministro nega o vazamento.
Ciente de que Bebianno está com “ódio” de Bolsonaro, nas palavras de um ministro, o chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, foi escalado para tentar construir no fim de semana uma saída honrosa para o colega. Como compensação, foi oferecido a Bebianno um cargo na máquina federal fora do Palácio do Planalto. A lei o proíbe de assumir uma estatal. No início da tarde de ontem, Lorenzoni saiu do Palácio da Alvorada – onde se reuniu com Bolsonaro por cerca de uma hora – sem falar com a imprensa.
Preocupados com a alta temperatura da crise, auxiliares do presidente observam que Bebianno ainda pode criar muitos problemas para o governo se a demissão não for revertida, porque seria o que se chama no jargão político de “homem-bomba”. Um desses interlocutores, que conversou recentemente com Bolsonaro, disse à reportagem, porém, que a situação é insustentável e a decisão do rompimento, “irreversível”.
Segundo esse auxiliar, que pediu anonimato, a decisão de Bolsonaro não se deve à interferência do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ). O filho de Bolsonaro chamou Bebianno de “mentiroso” logo após o ministro ter concedido entrevista ao O Globo, na terça-feira, dizendo que não estava isolado no Planalto depois da denúncia, publicada pela Folha de S. Paulo, de que teria patrocinado candidaturas laranjas do PSL em 2018, para desviar recursos do fundo eleitoral. À época, Bebianno presidia o PSL.
Na tentativa de mostrar que não havia crise, o ministro afirmou ao O Globo que, no dia anterior, falara três vezes com o presidente, então no Hospital Albert Einstein. Carlos desmentiu essas conversas no Twitter e Bolsonaro endossou a atitude do filho, horas depois, em entrevista à TV.
Mais tarde, o presidente também mandou Bebianno cancelar viagem ao Pará, com outros ministros, porque não gostou de saber que ele havia convidado um veículo de comunicação para acompanhar a comitiva. A partir daí, o chefe da Secretaria-Geral da Presidência teria mostrado a amigos arquivos de áudio com a voz de Bolsonaro ordenando que ele suspendesse a viagem, além de outras conversas.
Ao tomar conhecimento dessa atitude, o presidente – que já havia resolvido manter Bebianno no cargo – ficou furioso e decidiu dispensá-lo. Na sexta-feira, em conversa ríspida com o ministro, disse que se sentia traído. Depois, ofereceu a Bebianno uma diretoria na Itaipu Binacional, mas ele recusou. “Não estou no governo por causa de cargos. Sou uma pessoa leal”, afirmou o chefe da Secretaria-Geral.
DUAS MEDIDAS Gustavo Bebianno questiona o tratamento diferenciado conferido ao ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, também alvo de suspeitas sobre uso de candidaturas laranjas em Minas Gerais em 2017. Na época, o ministro do Turismo era presidente do Diretório Estadual do partido. Ele foi mantido na Esplanada. Bebianno afirmou ontem, ao deixar o hotel onde mora, em Brasília, que sua inocência no caso é questão de “bom senso”. Ele reforçou que não fez “nada de errado” e que está com a consciência “absolutamente tranquila e limpa”.
Durante visita a Brumadinho, também ontem, Marcelo Álvaro minimizou o caso das candidaturas laranjas no PSL e afirmou “não ver relação” entre ele e as denúncias contra o ministro da Secretaria-geral da Presidência. Ele se esquivou das perguntas dos repórteres sobre o assunto, tendo sua assessoria dito para a imprensa se concentrar na pauta do dia. O ministro disse que a relação com o presidente continua “normal”. O esquema de candidaturas falsas para possibilitar o uso do fundo partidário está sendo investigado pelo Ministério Público.
LEALDADE Com sua iminente saída do governo, Gustavo Bebianno publicou um texto sobre “lealdade” nao Instagram na madrugada de ontem. “Quando perdemos por ser leal, mantemos viva a honra. Saímos de qualquer lugar com a cabeça erguida ao carregar no coração a lealdade”, diz um trecho. O texto, atribuído ao escritor brasileiro Edgard Abbehusen, também diz que “a lealdade é um gesto bonito das boas amizades” e “só consegue ser amigo quem aprende a ser leal”.
Na rede social, ele tem uma foto ao lado de Bolsonaro como imagem de perfil. O ministro é conhecido por ter sido um dos primeiros a atuar pela pré-candidatura do capitão reformado à Presidência e foi seu braço direito na campanha.