O criminalista Antonio Cláudio Mariz de Oliveira disse ao jornal O Estado de S. Paulo que não teme a quebra do sigilo bancário de seu escritório nem dele próprio. "Não temo de forma alguma", declarou o advogado.
A informação sobre o decreto judicial que abre o sigilo das contas com as movimentações financeiras da banca Mariz de Oliveira, uma das mais tradicionais do País, foi noticiada pelo jornal O Globo. A ordem partiu do juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10.ª Vara Federal de Brasília, e atinge também 15 empresas.
Mariz disse que ainda não teve acesso à ordem judicial, mas acredita que ela ocorreu no âmbito de uma investigação sobre o ex-presidente Michel Temer, sob suspeita de tentar silenciar o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (MDB-RJ) e o corretor Lúcio Bolonha Funaro, que virou delator na Operação Sépsis - investigação sobre desvios e fraudes na Caixa Econômica Federal.
Mariz defendeu ambos, Temer e Funaro. À defesa do ex-presidente ele renunciou no dia 29 de dezembro passado por "impedimento legal e ético". Temer é alvo de três acusações formais da Procuradoria-Geral da República e de mais cinco inquéritos em curso na Polícia Federal.
O impedimento surgiu a partir do momento em que foram arroladas testemunhas de acusação contra Temer que o próprio Mariz já havia defendido em outras ações. Uma dessas testemunhas é Funaro, delator do ex-presidente.
Mariz defendeu o doleiro até junho de 2016. Ao renunciar à defesa, o criminalista decidiu devolver parte dos honorários recebidos.
Desde a publicação sobre a quebra do sigilo, Mariz, de 73 anos, quase meio século de advocacia, não parou de receber manifestações de apoio de todo o País.
Após a decisão, uma grande corrente de advogados - penalistas, civilistas, constitucionalistas - lançou abaixo-assinado em que classifica a medida judicial da quebra de sigilo do escritório como "uma das maiores afrontas ao direito de defesa experimentadas desde a redemocratização". Mais de mil advogados já firmaram adesão ao mais duro manifesto da classe nos últimos anos contra o que consideram um cerco às suas prerrogativas.
O sr. teme a quebra do sigilo de seu escritório?
Quero realçar que não temo de forma alguma a abertura de dados bancários do escritório ou da minha pessoa física. O que me preocupa, no entanto, é a violação de uma prerrogativa profissional pela qual batalho arduamente há 50 anos. Eu soube da determinação por uma jornalista do O Globo, na sexta-feira. Mas reitero que não tenho receio da medida.
O sr. ficou preocupado?
Não fiquei preocupado, mas estupefato, porque se trata de um escritório de advocacia com 13 advogados que têm resguardado - sempre pela lei - o seu sigilo telefônico, fiscal, bancário, como aliás todo e qualquer cidadão.
A advocacia em todo o País se rebelou contra a medida.
Recebi inúmeras manifestações de apoio e solidariedade, inclusive órgãos oficiais e entidades de classe todas já se pronunciaram. Eu espero esclarecer definitivamente o que ocorreu após tomar conhecimento do teor da decisão, assim como do pedido elaborado pelo Ministério Público Federal. Eu não conheço nenhum desses despachos, nem o da Procuradoria nem o do magistrado.
O sr. tem ideia da motivação desse decreto?
Tomei conhecimento que a quebra do sigilo foi decretada nos autos de uma ação penal que investiga, entre outras coisas, uma eventual tentativa do presidente Temer de silenciar dois réus. O que posso dizer a respeito é que fui advogado do presidente da República desde abril ou maio de 2017 e hoje não sou mais. Uma das razões da minha renúncia à defesa do presidente é que advoguei também para o sr. Lúcio Funaro, que passou a ser um acusador do presidente.
Em que período o sr. advogou para Funaro?
Trabalhei para o sr.
Como foi essa devolução?
Via bancária, naturalmente. Está tudo documentado, com recibos. Devolvi primeiro para um irmão dele que, posteriormente, indicou-me uma outra conta, do próprio sr. Funaro. Ao todo devolvi R$ 300 mil, parte dos honorários que havia recebido, em duas parcelas. A devolução se completou em outubro de 2016. O senhor Funaro estava preso. Quem cuidava disso era o irmão dele, Dante. Talvez tenham entendido que eu dei um dinheiro para o senhor Funaro.
O que o sr. vai fazer agora?
Na segunda-feira (hoje), dois advogados do meu escritório irão a Brasília e, com meu correspondente na capital, vão falar com o juiz. Estou muito perplexo, mas sempre à disposição da Justiça. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo..